Eu sei – parece tão cliché. Uma psicóloga clínica começa a colaborar com uma página web de videojogos e o primeiro tema sobre o qual escolhe escrever é: Vício. Mas sendo uma gamer, daquelas que não entende como se pode desprezar ou olhar com menos seriedade a arte dos videojogos, não consegui fugir a este tema.
Sendo que a palavra “Vício” foi tantas vezes banalizada pela nossa sociedade, principalmente pelos media que adoram falar sobre o que não sabem, convém definir, mais ou menos clinicamente, o que estou a falar quando falo de vício. Peguei na “Bíblia” da Psicologia, que tem o nome pomposo de: DSM – Diagnosis and Statistic Manual of Mental Disorders, uma espécie de guia para todas as maleitas mentais, e fui reavivar o conceito clínico de Vício – ou, mais bonito ainda, Adição. Aqui vai:
“”Adição/Vício: comportamento cujo principal objectivo é produzir prazer e/ou aliviar a sensação de desconforto interno psíquico (dor mental) e que consiste num padrão repetitivo em que o sujeito: a) não consegue controlar o comportamento; b) continua a repetir o mesmo comportamento mesmo que com constantes consequências negativas.”
Agora que tenho reavivada a definição “profissional”, deixem-me centrar no que importa. Como é que definimos o vício nos videojogos? Qual o número mínimo de horas que jogamos até sermos considerados viciados? E principalmente… porque é que não se ouve falar no “problema” que é o vício pelo desporto, livros, cinema, música e todas as outras formas de entretenimento???
Tantas questões colocadas num só parágrafo. Mas querem que acabe este artigo de forma muito rápida? Façam então a pergunta mágica: “Os Videojogos são viciantes?” A resposta é um rotundo SIM! Sim – são! Mas não mais que todas as pequenas coisas que provocam sensação de prazer no nosso cérebro. Desde o Chocolate ao Amor… tudo o que o nosso cérebro sente como Bom é passível de causar vício. Pelo simples motivo que o nosso cérebro funciona como um eterno reflexo Pavloviano – dá-se-lhe um bom estimulo e ele quer repetir a sensação (e quem o pode censurar??).
Parece demasiado simplista? Talvez o seja… Desculpem se vos desiludo e esperavam uma dissertação pseudo-clínica e intelectual sobre o problema do vício e o debate dos media acerca dos malefícios psíquicos dos videojogos… (esse debate dos media é algo que me irrita profundamente e por isso ficará para um próximo artigo).
Sim, os Videojogos são um objecto passível de causar vício – mas unica e exclusivamente porque as Emoções humanas são Viciantes. Rir, chorar, temer, conquistar, vencer, perder, tentar, lutar, amar… todas estas emoções e um milhão mais são sentidas por trás de um monitor ou no toque de um comando de uma consola. E são maravilhosas… e são viciantes…
Como controlamos este vício? É simples: lembrarmo-nos que amamos esta forma de arte, mas que é apenas isso – uma forma de arte. Lembrarmo-nos que somos nós que jogamos e controlamos o jogo – não o contrário. Lembrarmo-nos que usamos este divertimento para nos aliviarmos dos stresses, dores, frustrações e tudo o que nos pesa… mas o divertimento não os resolve. Como qualquer forma de entretenimento ou hobby que amamos, faz parte de Nós – mas nós não fazemos parte dele. Bem… eu disse Simples – nunca disse Fácil!
Com o “comando” da nossa vida nas mãos, estamos em pleno controle. Podemos correr o risco de perdermos horas a tentar matar aquele “Boss” que parece intransponível, ou a tentar acabar aquele jogo que não nos permitimos largar. Tal como nos podemos perder nas páginas de um livro ou nos frames de um filme…
Com o “comando” da nossa vida nas nossas mãos podemos “perder-nos” em qualquer mundo imaginário, pois é certo que encontraremos sempre o caminho de volta!
Comments (1)
eu via/lia/ouvia um debate/entrevista entre a autora desta artigo e sr. dr. quintino aires, que costuma abusar do argumento “você não é formado nesta área, logo eu é que sei”