Um clássico nunca morre

Parece o título de um filme da saga 007, mas ao pôr as minhas mãos na nova versão de Resident Evil, é tudo o que me ocorre dizer – Um Clássico Nunca Morre!

Lembro-me da primeira vez que joguei Resident Evil. Foi em 1997, um ano depois do jogo original ter saído. Eu, com 20 anos, recém chegada ao maravilhoso mundo dos videojogos. Sempre fui uma fanática por filmes de terror, mesmo daqueles muito maus, e a primeira vez que experienciei a vivência de um filme de terror numa consola foi como a descoberta de um Mundo novo.

Resident Evil HD Remaster 02

Resident Evil deu origem a uma tendência de jogos, criou um genéro, fundou uma saga – e não é qualquer jogo que se pode gabar do mesmo. Desde o primeiro minuto, transporta-nos para um ambiente único de tensão e verdadeiro medo do que iremos encontrar em cada esquina. Combinando na perfeição a mecânica de puzzles com uma variante de acção, este foi o jogo que mostrou que o terror pode ser intrigante e inteligente, que nos pode envolver emocionalmente numa história. Detesto quando os jogos nos tratam como ignorantes, e num mundo em que nos habituamos a que todas as soluções nos sejam dadas de bandeja, (basta uma pesquisa de google), é muito bom ver que os clássicos, aqueles que tratam o jogador como seres com cérebro capazes de raciocinar, ainda persistem e mantêm o velho sabor.

Não me interpretem mal – não sou daquelas jogadoras saudosistas que passa a vida a querer voltar ao passado com a clássica frase: “no meu tempo é que era”. Nem pensar! O que hoje em dia se faz tem muita qualidade. Mas têm que admitir que a indústria faz os jogos para que o jogador não se frustre – não morra muitas vezes, não perca muito tempo a pensar num puzzle, não queira desistir. Não sei o que vocês acham, mas eu detesto que “me levem pela mão” – eu sei andar sozinha e gosto de ser eu a vencer as minhas batalhas e a descobrir as soluções dos meus puzzles.

Esta fantástcia edição 1080p HD de Resident Evil é a versão remastered do remake de 2002 (que rejuvenesceu o original de 1996), pelo que o mais justo seria baptizar o jogo de: Resident Evil 3.0. Será que uma versão HD deste clássico quase com 20 anos se justifica? Numa era em que a originalidade começa a escassear (basta olhar para 2014 – o ano das sequelas e relançamentos), quase que me atreveria a dizer que, se é para revisitarmos um jogo antigo, então nada como revisitarmos o melhor!

Resident Evil HD Remaster 03

O ambiente continua tão sinistro, sufocante e claustrofóbico como eu guardava na minha memória. Felizmente, com o avanço da tecnologia, já não agonizo mais de 5 minutos a olhar para a barra de loading no ecrã enquanto uma porta se abre (sim…isso acontecia), mas continuo com medo de entrar numa sala nova, a estar absolutamente obcecada com todos os sons que ouço, a disparar freneticamente contra um zombie que se aproxima. Explorar uma mansão gigantesca que esconde os mais tenebrosos segredos terá sempre um elemento apelativo para os amantes do género. Entrarmos numa casa assombrada é como estarmos fechados com os nossos maiores medos e termos que enfrentá-los – e por mais assustador que isso seja, não deixa de ser estranhamente convidativo (como aproximarmos a mão de uma chama que sabemos que vai queimar, mas que ao mesmo tempo nos hipnotiza…)

A Capcom sabe o que faz (pelo menos, a maioria das vezes…não vamos falar de Resident Evil 6 por favor….) e desta vez leva-nos numa viagem ao passado com a tecnologia do presente. Dá-nos a oportunidade de jogarmos com os comandos originais ou como seriam actualmente, e isso é uma jogada inteligente, com respeito pelo jogador, e que nos permite escolher qual a melhor forma de nos emergirmos neste mundo. A banda sonora continua subtil e sufocante….os Sustos estão lá e a luz densa, cinzenta, com as sombras sinistras, que parecem adquirir vida com o nosso movimento.

Resident Evil HD Remaster 01

Apesar das limitações técnicas face aos jogos das novas gerações, a mecânica de jogo que está certamente ultrapassada, os gráficos que não são definitivamente o que esperamos de um jogo de 2015, é fantástico ver que a qualidade, quando existe, é Etérea. Sentir os meus 20 anos de volta (embora prefira os meus 37) e reviver o que me trouxe para os videojogos, é uma sensação ímpar. Mesmo para os jogadores que não se movem pela nostalgia, pois nunca experimentaram este clássico, a Capcom ofereceu-nos este presente – a sensação de regressarmos às origens do terror e conhecer os ingredientes de um fantástico Survival Horror.

Esta edição dá-nos o sabor de um clássico, aquele que não depende do que “está na moda”. A qualidade prevalece sempre, pois, tal como vos partilhei no início, um clássico Nunca morre!