Suspiro sempre que vejo os Gamers a deitarem abaixo os grandes sites online que cobrem a indústria dos videojogos. “Esta bosta só podia ser da IGN”, “lá vêm os feministas do Polygon”, “Mas como é que ainda alguém lê o Kotaku”, etc, etc, etc.
De onde vem então este meu melancólico sopro e revirar de olhos? Porque os gamers não fazem o que dizem. Os gamers queixam-se de não lerem os sites que acabam por ler todos os dias. O que é certo é que dizem que não existem alternativas, que é tudo a mesma coisa, que o jornalismo está todo virado para o mesmo sítio podre e comprado. Mas depois quando acompanho as comunidades gamers portuguesas não vejo uma única referência a sites como Rock, Paper, Shotgun; Kill Screen; Critical Distance; entre muitos outros.
Infelizmente, outras das omissões regulares foi sempre o Joystiq que agora fecha portas. Como todos os outros atrás, o Joystiq lutou sempre contra o escarrapachar do comunicado de imprensa que as editoras tanto gostam, aquelas notícias deliciosas e interessantes como “Jogo X vai sair no dia Y; Jogo Z custa €€€; Diário dos desenvolvedores número 376 do jogo a sair daqui a 5 meses e que ainda vai atrasar mais três mas façam pre-order na mesma; Pewdie Pie isto e aquilo”, etc, etc.”
O Joystiq opinava, acrescentava, escrevia artigos de qualidade. Fazia bons podcasts, fazia bons vídeos. Mas isso hoje em dia é mortal. Os gamers que tanto se queixam acabam por ir sempre ao local da notícia fácil, ao consumível rápido, ao fast-food da escrita sobre videojogos, curiosamente criticando o jornalismo mas transitando para os youtubers que recebem descaradamente dinheiro para falar deste ou daquele jogo.
O Rubber Chicken sofre do mesmo problema. Quando falo do Rubber a um gamer a resposta é sempre: quem? Exacto. É uma escolha que se faz. Ao não copiar e publicitar tudo o que as editoras querem, ao não traduzir os conteúdos dos outros e publicar dilúvios de não informação diária, ao opinar e ao procurar a qualidade em detrimento da quantidade os leitores desaparecem. Não nos queixamos. É uma escolha pessoal. Não temos ordenados para pagar, não fazemos parte de nenhuma corporação.
O Joystiq não. Pertencia ao gigante AOL e deve ter lutado freneticamente em reuniões onde os accionistas queriam números e os jornalistas queriam jornalismo. Agora acaba, provavelmente para dar lugar a mais um site como o Games Radar (para onde infelizmente a Edge se está a mudar) e outros tantos com as suas listagens diárias dos 10 jogos que isto, aquilo e aqueloutro.
Na sua mensagem de reacção às primeiras noticias do fecho, o Joystiq escreveu que não comentavam rumores. Já o sabiam. Mas foram (e estão a ser) Joytiq até ao fim. Porque eles escrevem para os gamers. É pena é os gamers terem deixado de o ser.
Comments (1)
Muito bom artigo. Identifico-me muito com os dois primeiros paragráfos, já farta ir a comunidades “gamers” e ver sempre as mesmas queixas e publicarem ligações dos sites do costume. Não é que nenhum dos referenciados não seja bom em determinadas áreas, mas o RPS, Kill Screen e Critical Distance estão a léguas da mediocridade que vejo no IGN, por exemplo. Mas mesmo assim, ninguém os visita. E com a recentes polémicas que envolveram Zoe Quinn, Anita Sarkeesian ou Phil Fish, é simplesmente insuportável visitar comunidades portuguesas.
Já cansa.