Quando acho que já estou numa idade e com uma maturidade em que pouca coisa me chega a surpreender, eis que descubro que estou enganada e que o Mundo, ou melhor, o comportamento humano, esconde sempre um segredo para me contar à última da hora.
Hoje, ao abrir os habituais sites de notícias que leio, deparo-me com este título absolutamente fantástico: “Criadores de Witcher 3 gravam 16 horas de simulação de movimentos sexuais para incluírem no seu jogo”. Admito que li o título umas 4 ou 5 vezes para perceber se os meus olhos me estavam a pregar alguma partida. Sim, como sou psicóloga e sei os truques Freudianos que a nossa mente nos costuma pregar, tentei perceber se eu estaria a subverter um título “sério” em algo bem mais divertido. Não…os meus olhos não estavam errados – este era o verdadeiro título da notícia.
Curiosa com o título (quem não estaria) e sendo Witcher 3 um dos jogos que aguardo com mais antecipação neste ano que acabou de entrar, fui ler toda a notícia na tentativa de entender o que justificaria esta gravação mais ou menos exaustiva (afinal – 16 horas, é quase um tempo record) e a sua inclusão num jogo de RPG.
Surpreendam-se! Fiquei então a saber que o jogo incluirá várias cenas de sexo, sendo uma delas, a cena de abertura deste tão antecipado jogo. Quando confrontado com o porquê desta inclusão, ainda por cima logo ao início, Damien Monnier (criador senior da equipa de desenvolvimento deste RPG) explica que as cenas de sexo, nomeadamente a primeira, existem para estabelecer relação entre as personagens. No fundo, fazer com que o jogador sinta que existe ligação emocional e por isso, sinta empatia pela personagem feminina que vemos sexualmente envolvida com o nosso protagonista, levando-nos assim a perseguir as quests com mais entusiasmo pela história.
Hã??? Eu li bem? Que raio de desculpa é esta?? Já nem argumentando o facto de que sexo pode não ter absolutamente nada a ver com emoções amorosas, e falando bom português, esta é a desculpa mais “esfarrapada” que eu já ouvi para usar o sexo como chamariz comercial e venda de um jogo. Nem vou nomear a quantidade de jogos que em poucos minutos, servindo-se somente da qualidade de escrita, conseguem estabelecer ligação emocional entre as personagens e consequentemente com o jogador (Joel e Sarah na intro de The Last of Us é o exemplo mais recente que me ocorre) – isso seria perder o vosso tempo. Mas num mundo de adultos, irritam-me as hipocrisias e desculpas “pseudo-racionais”. Querem usar sexo como chamariz – Força! Mas assumam – não lhe chamem “demonstrar envolvimento emocional”. Os jogadores são bem mais inteligentes que isso e não se deixam enganar por teorias “da treta”. Aliás, esta é a geração da Internet. Se quisermos ver pornografia, está à distância de um dedo, e não será através de bonecos virtuais com certeza.
Não sou minimamente puritana e sou absolutamente contra os falsos “moralismos” (faz parte da profissão e personalidade), mas não suporto quando uma indústria que amo, e que, como amante e profissional defendo com “unhas e dentes”, se deixa cair no fácil e velho segredo de “sexo vende”, tal como a indústria do cinema, TV e musica se deixaram cair. Vejo a comunidade de jogadores como um mundo aparte, inteligente e atento. Por favor, não nos atirem “areia” para os olhos – não desceremos a nossa fasquia de exigência nem degraus no QI.