O Natal é um período terrível para acidentes. Em cada Quadra é montada uma acção da GNR e da PSP por todo o País para prevenir os excessos típicos da época e as consequentes mortes. Para mim o Natal causou outra vítima: o Captain Toad:Treasure Tracker para a Wii U. Quem segue o Rubber sabe que apesar de não ser uma obrigatoriedade da nossa política editorial de apresentar análises no dia de lançamento, mas as referentes a jogos da Nintendo são publicadas em datas muito próximas do seu lançamento. Especialmente porque usualmente temos acesso aos jogos com a antecedência suficiente para os explorarmos na sua totalidade e publicarmos a nossa opinião ponderada perto da data de lançamento. Mas infelizmente o timing de eu terminar o jogo e começar a escrever a análise coincidiu com algumas semanas de paragem do Rubber para transição de host, ao que se sucedeu o Natal e Ano Novo, e novamente outra paragem para a definitiva transição e redesign e…quem ficou perdido nesta encruzilhada, verdadeiramente desaparecida em combate…foi a análise ao Captain Toad: Treasure Tracker. Como o Chuck Norris no Vietname.

captain toad 01

Fatalismos à parte, este Captain Toad:Treasure Tracker, desde a sua génese, é a prova dos meus poderes mediúnicos. Desde que escrevi a análise ao Super Mario 3D World que esta paixão pela escrita de videojogos só ficaria completa seu eu completasse o meu espaço de trabalho com um conjunto de búzios, cartas de Tarot, bola de cristal e chávenas com borras de café. As três primeiras são catalizadores do meu contacto com o sobrenatural e a última a materialização do meu ócio e a minha falta de vontade de levantar os glúteos da cadeira de computador e por a louça a lavar. E para vos provar que os meus poderes oraculares são palpáveis deixo já aqui hoje registado: este ano será lançado o FIFA 16, o NBA 2k16, o PES 16 e um Call of Duty com 2 DLCs de dia 1. Inveja-te Maya!

Captain Toad é o protagonista da Nintendo que não consegue saltar, e é essa ironia e componente aventureira que funcionam como foco central de todo o jogo. Percebemos a estranheza de ver um personagem assim a emergir de um jogo do Mario, mas foi essa a coragem criativa que enaltecemos quando analisámos Super Mario 3D World. Para quem o jogou era muito simples perceber que aquela mão-cheia de níveis experimentais com o Captain Toad estariam a abrir o caminho para um spin off, mas para quem não o jogou decerto que 3D puzzling não é algo que encaremos como uma descendência das plataformas de Mario.

captain toad 02

…a manhã depois da Despedida de Solteiro do Captain Toad

É claro que com os devidos afastamentos, Captain Toad parece ir beber mais ao mercado indie do que a qualquer outro mercado. E com ainda mais afastamentos percebemos o mindset da concepção do Fez na forma como abordamos cada um destes maravilhosos níveis.

Captain Toad:Treasure Tracker é em quase todos os aspectos o típico jogo da Nintendo. Construído em torno de um conceito base, o de que temos de apanhar moedas e estrelas em níveis de construção cúbica vertical, tendo apenas a capacidade de correr, pegar em legumes e atirá-los aos adversários e a total incapacidade de saltar. E sendo um puzzle platformer temos de compreender cada um daqueles níveis na sua total dimensão, através da capacidade de rodarmos os níveis em 360º.

Sem complexificações de mecânicas ou adições “marteladas” de outros fait diversCaptain Toad:Treasure Tracker traz-nos algo típico da companhia: um level design exímio, detalhado, fascinante na sua pequenez relembrando dioramas construídos ao mínimo detalhe, como fragmentos de mundos inteligíveis da nossa imaginação. Cada nível instiga-nos uma vontade incontrolável de esculpir cada nível, detalhe a detalhe, e exibi-los como verdadeiras masterclasses de level design compacto, inteligente, e visualmente brilhantes.

captain toad 03

Indiana Toad e o templo perdido

Os puzzles e o próprio level design são indissociáveis, demonstrando bastante inteligência na forma como os desafios se vão apresentando, nível após nível. Não sendo um jogo propriamente longo (contando com cerca de 70 níveis) Captain Toad:Treasure Tracker apresenta dois pequenos problemas. O primeiro centra-se com o desafio geral do jogo que não é demasiado elevado. O que significa que estando no mindset certo acabamos por “devorar” o jogo quase de um trago, o que entra em conflito com o segundo problema do jogo: o preço. Em diversos aspectos este deveria ser o jogo perfeito enquanto spin off exclusivo da Wii U e apenas disponível na eShop, e de preferência a um preço mais próximo de (por exemplo) Mario vs. Donkey King. Atribuir-lhe o preço de (quase) um jogo de retalho é um pouco excessivo, não em termos de qualidade, mas em termos de conteúdo jogável versus preço.

O melhor: o brilhantismo visual, a inteligência dos puzzles e a genialidade do level design

O pior: o preço, o desafio pouco elevado

Captain Toad: Treasure Tracker é um jogo inteligente e honesto, onde a diversidade dos puzzles dependem do level design e não da adição de habilidades ao protagonista. É um jogo transversal pelo seu visual family friendly e pelo desafio não muito elevado que apresenta. E demonstra, acima de tudo, o quanto a Nintendo é diferente das outras gigantes: sem medo de arriscar num título que mais parece saído do mercado indie e que é uma grande demonstração da faceta mais experimental dos seus game designers

Captain Toad: Treasure Tracker é um exclusivo Wii U.