É um lugar-comum afirmar-se que a evolução tecnológica, no que diz respeito às telecomunicações e não só, encurta distâncias. No entanto, em alguns casos, dada a natureza quási patricida da tecnologia, essa diminuição de distância virtual pode paradoxalmente corresponder a um alargamento da distância física. Por outras palavras, não raras vezes, o surgimento de novos meios técnicos leva a que aqueles que os antecederam sejam abandonados. Aplicando esta lógica às chamadas LAN Parties (LAN – Local Area Network), creio que o aparecimento de novos recursos e o sucesso do online gaming representam o ocaso dos modelos de jogos em LAN, sobretudo no que se refere a eventos privados e particulares ao estilo festa de amigos.
Quake 3 Arena foi o primeiro jogo que experimentei em LAN. Uma tarde de jogos era a recompensa dos alunos de ITI2 no final de cada trimestre e outras efemérides lectivas. Para mim, representou uma experiência nova e extraordinária, na medida em que expandia os limites do que significava jogar. Não estávamos limitados a dois comandos numa consola ou a jogar “contra o computador”, podíamos interagir com uma sala cheia de colegas de turma, formar alianças, rir-nos com sucessos e falhanços e gabar-nos dos nossos resultados. No entanto, esta é uma realidade quase extinta nos dias que correm, na minha opinião, sobretudo devido a dois factores essenciais: o primeiro é a evolução tecnológica que já referi acima; o segundo é o actual desinteresse por parte das produtoras em investir e desenvolver títulos que sigam esta arquitectura. Se, por um lado, o desenvolvimento de linhas de internet mais rápidas e estáveis facilita a comunicação e reduz a necessidade de uma ligação local, por outro, os jogos online são mais rentáveis e fáceis de vender. Os jogos online não significam que os jogadores deixem de juntar-se, no entanto a estrutura base deixa de estar localizada, para depender de servidores externos, independente da proximidade física, tornando-a de certa forma irrelevante. Outro aspecto é a facilidade com que somos capazes de comunicar e jogar em tempo real a partir de nossa casa, sem ser necessário alombar com pc’s & periféricos e reservar um espaço específico para se poder jogar.
Poderia ter começado este artigo com um questionário ao estilo estudo sociológico. Algo deste género:
– O que é uma LAN Party?
– Já participaste numa LAN Party?
– Quando foi a última vez que jogaste em LAN?
– Qual foi o último título que jogaste em LAN?
– “O que significa jogar em LAN?”
Mediante uma análise das respostas e fazendo um cruzamento de referências com a idade dos participantes, compreenderíamos que, de facto, tanto as apostas comerciais das produtoras na sua generalidade, como, e talvez por causa destas, o desinteresse das novas gerações de jogadores, bem como a evolução tecnológica e a proliferação de ligações de internet mais rápidas e estáveis fazem com que este modo de jogo esteja paulatinamente a desaparecer. Uma rápida pesquisa no Google Trends demonstra isso mesmo.
Poder-se-ia argumentar que grandes eventos ao estilo DREAMHACK contradizem o que até aqui se disse, no entanto, a premissa mantem-se. Eventos desta magnitude apesar de usarem a mesma nomenclatura estão para as humildes LAN Parties, como um jantar com os amigos em casa está para uma ida ao Tomorrowland.