Parece uma polémica interminável: a violência nos videojogos. Provavelmente uma polémica tão antiga como esta forma de arte. Cada vez que se vê um adolescente cometer um acto inenarrável, logo se procura o músico ou game designer que o poderá ter inspirado. Sim, parece que o cinema neste momento conseguiu um salvo conduto e está ilibado de culpa por uns anos.
Prometi que evitaria este tema o mais que pudesse nos tempos iniciais em que tenho a Honra de escrever para esta fantástica “capoeira” de mentes brilhantes que é o Rubber Chicken, não porque tenha medo de abordar o tema, mas porque quero sobretudo contribuir através da minha Paixão por Videojogos, pondo a Psicologia apenas como contributo adicional, e não o foco principal (não vos quero aborrecer). Mas um jogo que irá ser lançado este ano, fez-me pegar na “caneta” e escrever-vos algumas linhas.
O jogo chama-se Hatred, pertence a um estúdio chamado Destructive Productions, será apenas lançado para PC e tem como argumento principal esta linha e meia de texto: Um homem Odeia (daí o título Hatred… suponho) a humanidade e decide vingar-se dela, matando todos os que se atravessam no caminho.
Já está – é este o argumento. E perguntam vocês: Vingar-se da Humanidade??? Mas, para haver vingança não tem que haver um acto intencional cometido contra alguém, nomeadamente, o dito “vingador”? Aparentemente, quando o objectivo é criar um efeito de choque, a lógica racional é algo claramente sobrevalorizada.
Como disse ao início, tentei evitar abordar o tema da violência nos videojogos do ponto de vista da psicologia, o mais que pude – quero abordar este tema com a participação dos leitores, respondendo às vossas questões e curiosidades. Mas quero falar neste tema enquanto Gamer e Mulher. O que vos vou dizer é única e exclusivamente a opinião de mulher adulta, Gamer há muitos anos, que tem capacidade de formar as suas próprias opiniões, para além do que muitas doutrinas da sua profissão possam dizer. Isto é o que a Alexa pensa (deixemos a psicóloga fechada no seu consultório por uns instantes).
Sempre vi a violência nos videojogos como vejo em qualquer outra forma de arte, seja ela cinema, música, pintura, literatura ou outra: se me ajudar a focar mais na personagem, se ajudar o desenvolvimento da narrativa da história, a violência, tal como outra qualquer demonstração activa de emoção, é, quanto a mim, bastante apreciada.
Para exemplificar melhor o que vos quero dizer, peguemos no exemplo de um dos jogos mais violentos dos últimos anos: God of War. Para além de ser, provavelmente, a minha saga favorita de sempre, este é também um dos jogos em que considero que a extrema violência ajuda a narrativa. O objectivo é percebermos que Kratos perdeu Tudo – para ele , Nada importa. Foi traído pelos Deuses, matou (embora sem querer) a sua família, perdeu o seu exército e o Mundo trata-o como, literalmente, um fantasma: “O Fantasma de Esparta”. Carrega no corpo a marca do sangue dos muitos que morreram nas suas mãos e a sua pele está “pintada” pelas cinzas dos que um dia amou. Carrega a culpa, o ódio, o desgosto… nem o suicídio lhe é permitido. Kratos representa a Raiva pura, a fúria incontrolável, irracional e visceral de quem foi privado da sua humanidade.
Quando joguei God of War senti que cada morte violenta, cada pedaço de jogo em que as atitudes de Kratos eram cada vez menos justificáveis, me aproximavam mais de como Kratos ia perdendo, minuto a minuto, a sua ligação ao que é Humano e se ia transformando cada vez mais no ser sobrenatural que lhe era exigido: O Deus da Guerra. O visual mitológico, o facto de, na maioria das vezes, Kratos matar monstros irreais, contribuiu bastante para que a minha perspectiva se mantivesse próxima dele, mas ao mesmo tempo afastada. Consegui divertir-me (e muito) a arrancar cabeças a minotauros, ou a decapitar esqueletos, porque são personagens irreais. Em God of War existe gore e violência extrema, mas dando ao jogador a possibilidade de “ver de fora” um Mundo de Deuses e ser protagonista de uma luta Épica que jamais poderíamos protagonizar na realidade.
Mas, e quando a violência é posta num contexto de Mundo Real? Como em GTA, The Last of Us, Hitman, ou mesmo Uncharted? (sim – o muito amado Nathan Drake também mata…) Aqui, digo-vos o mesmo que disse há pouco: se a violência me ajudar a conhecer a personagem, se ajudar a construir a narrativa, se não for exposta de forma a querer que eu, enquanto jogadora, me choque sem que isso acrescente nada à minha experiência de jogo, então a violência é por mim muito apreciada.
Hatred arrisca-se a trazer novamente à ribalta aqueles que procuram o Ódio (desculpem o trocadilho fácil) contra esta forma de entretenimento que todos nós, amantes, lutamos para que seja devidamente reconhecida como uma forma de arte. Não quero julgar um produto que ainda não está acabado nem tão pouco julgar um jogo que ainda não experimentei – recuso-me ser assim. Mas este Hatred parece ter sido produzido com o objectivo de ser polémico, de causar choque, de conseguir alguns compradores movidos por uma curiosidade mórbida, fazer um lucro fácil e rápido e depois, tal como apareceu, desaparecer. Enquanto causar polémica, terá publicidade gratuita. Enquanto houver uma voz de alguém indignado que quer ver o jogo proibido ou eliminado, este terá divulgação e visibilidade. E, arrisco-me a dizer, esse será o grande objectivo dos criadores deste título.
Por mim, esperarei o produto final para o analisar ao detalhe. Gosto de ser justa. Mas como mulher Apaixonada, defendo o meu “amante” com as minhas garras de loba! Os videojogos são mais que choque gratuito e fugaz, mais que polémica barata e fútil de reality show de um qualquer canal português. Por serem mais, espero mais desta indústria e criadores.
A violência, eu aguento. A imbecilidade, Não!