Qualquer pessoa mais próxima do rock e do metal já se cruzou com a definição de rock/metal opera. Desde os magistrais The Lamb Lies Down on Broadway dos Genesis, passando pelo The Wall dos Pink Floyd e terminando no Operation Mindcrime dos Queensryche que abriram o caminho para experiências do género numa sonoridade mais pesada, e que teve nas últimas duas décadas em Avantasia, de Tobias Sammet e claro, Ayreon, de Arjen Lucassen, os melhores exemplos de metal opera.

Jogos ligados à música não são propriamente assunto novo. Mas Karmaflow: the Rock Opera Videogame é quase de certeza o primeiro videojogo baseado numa metal opera, utilizando a narrativa musical como fio conductor de toda a história/jogo. Apesar de nos dias de hoje não ser um tão ávido consumidor de metal como fui até há alguns anos atrás, mas o burburinho em torno deste jogo que a minha mulher e o meu grupo de amigos criaram, plantou em mim uma semente de curiosidade em torno de Karmaflow, e que resultou na minha vontade de por as mãos nesta primeira metade do jogo já lançado.

Antes sequer de conhecer do que tratava este jogo, ou sequer imaginar o género, ambiência, ou estética, houve algo que me instantaneamente me cativou: o elenco presente neste projecto. Desde Dani Filth, Simone Simons, passando por Tony Kakko e Mariangela Demurtas (sim eu sei que grande parte destes nomes são tão familiares aos nossos leitores quanto componentes de motores de alta cilindrada de uma marca de automóveis australiana (existe alguma?)), a mão-cheia de grandes nomes do metal faziam prometer algo de verdadeiramente extraordinário, diferente, e segundo o meu gosto pessoal (faltando algumas vozes do prog) que fosse o mais próximo de Ayreon que um jogo conseguisse ser.

E foi nessa postura de quase tabula rasa que mergulhei em Karmaflow: the Rock Opera Videogame, e acabando por perceber que existia mais do Journey neste jogo do que algum dia eu poderia imaginar. Aliás, para ser sincero, não poderia estar mais longe do ambiente/jogabilidade que associaria a uma (power) metal opera. Ao vivermos o papel de Karmakeeper, uma espécie de elementar que controla o karma e que através da sua manipulação vai resolvendo uma série de puzzles em mundos sobrenaturais, esteticamente bem-conseguidos e que roçam o onírico revisitamos de uma certa forma o caminho trilhado pelo enigmática figura do soberbo jogo da Thatgamecompany.

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Para quem está habituado a jogos do género não se pode propriamente afirmar que existe um grande desafio em qualquer um dos puzzles. Há alguns mais demorados, e outros mais frustrantes pelos saltos que temos de efectuar, mas nenhum que chegue ao ponto de enervar, ou de nos fazer desistir. E percebe-se o nível de dificuldade do jogo: Karmaflow: the Rock Opera Videogame é acima de tudo uma experiência narrativa e musical, em que cada diálogo, cada trecho, cada cut-scene, cada narração são cantadas, orquestradas e dramatizadas num espectáculo que se ajusta perfeitamente a interactividade do videojogo com a construção cénica e melodiosa da música.

Começámos a jogá-lo num período que antecedeu o seu lançamento, o que justificou a existência de alguns bugs que bloqueavam o jogo, ou que eliminavam as faixas de voz nas cut-scenes, ou que embirravam com o nosso posicionamento em relação aos checkpoints. Felizmente que perto do lançamento a equipa de produção lançou alguns patches que corrigiram estes problemas e que tornaram a experiência mais proveitosa.

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Este artigo, tal como descrito na sua categoria, não é uma análise per se. Estando apenas lançado metade do jogo, teremos de aguardar para Abril para assistir ao desfecho desta história, e de que forma algumas das escolhas que fizemos no nosso percurso e consequente interacção com outros personagens afectarão o resto deste mundo sobrenatural.

Karmaflow: the Rock Opera Videogame é um jogo obrigatório para todo(a)s o(a)s roqueiro(a)s e metaleiro(a)s que sejam simultaneamente amantes dos videojogos, para além de ser uma agradável viagem (leia-se Journey pelas semelhanças mecânicas entre os dois jogos) para qualquer jogador. Agora baixo os meus dedos que estiveram a fazer Horns Up! durante a escrita deste artigo e vou ali matar saudades do eu-adolescente ao som do Power Metal mais icónico que encontrar, enquanto aguardo pela tournée que acompanhará este videojogo. Talvez os italianos Rhapsody?