Depois de finalmente termos arrumado e pintado a casa do Rubber Chicken no mês passado, que emergiu neste novo ano com a cara lavada, resta-me a mim arrumar os jogos que ainda tenho por analisar. Já tinha referido noutros artigos que grande parte das análises que estou agora a publicar, em Fevereiro, são críticas que ficaram prontas durante a transferência do site mas que ficaram perdidas no limbo do que “precisa de ser analisado” e o “espera aí que agora não podemos publicar nada por culpa da mudança de host”. E um destes casos de jogos lançados no final do ano anterior e que só agora estão a ter a sua crítica publicada é este Sproggiwood.

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Acho que se contam pelas dedos de duas mãos quantos roguelikes analisei em 2014, e o quanto fiquei feliz de perceber que um género que sempre julguei perdido na minha memória estava agora a receber novas idealizações. De todos os que gostei (tenha gostado mais ou menos) parece-me que este jogo da Freehold Games é possivelmente a melhor introdução que alguém que nunca jogou roguelikes pode ter. O seu visual quase-infantil, com criaturas de cabeça cúbica a remeter para uma estética muito vigente no mercado mobile, e que tenta ser transversal a diversos públicos-alvo é uma boa divergência da pixel art recorrente na nova vaga de roguelikes. E já que falo em mobile há aqui uma pequena estranheza na concepção deste Sproggiwood. É certo e sabido que muitos jogos indie produzidos por esse mercado acabam por ser adaptado a PC pelas facilidades de interface (gesto versus rato) o que é logo notório nos controlos, apresentação, e configuração do próprio jogo. Desde o GUI deste Sproggiwood, passando pela estética, e pelas mecânicas por turnos, tudo, mas tudo, exala jogabilidade em tablet, mas estranhamente este jogo foi lançado apenas para PC. Será que existiu algum retrocesso da equipa de desenvolvimento que pensou este jogo para um tipo de plataforma que acabou por não ser o finalizado? Fica a questão…

Sempre que pensamos em roguelikes associamos quase de imediato a high-fantasy e a toda a imagética que o género abarca. Em Sproggiwood a inspiração é folclore finlandês, em especial a Kalevala* o que representa desde logo uma refrescante inspiração para um videojogo. E para além disso retiram-lhe o peso trágico e épico da obra, suavizando-o, quase que contada para crianças com muito humor à mistura.

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Sproggiwood impele-nos a devorá-lo sem parar, mantendo-nos colados ao jogo para ir desbloqueando cada masmorra com classes diferentes. “Só mais uma masmorra”, pensamos, e entretanto mais umas horas se passam e continuamos neste mundo mesclado de fofura e criaturas de gosma ácida que nos corroem até à morte. Um pouco como assistir ao Buereré da Ana Malhoa mas em versão roguelike.

Infelizmente para nós não existem muitas masmorras para explorar. Apesar de cada uma ser aleatoriamente gerada e de termos a hipótese de as ultrapassar com classes diferentes, assim que completamos o jogo ficamos a ansiar por mais desafios, e mais dungeon crawling por turnos, a embater ferozmente contra criaturas assustadoras/enternecedoras que nos querem matar. E já que fora destes momentos temos o objectivo de reconstruir a nossa vila, a quantidade de vezes que vamos rejogar cada nível é muito grande, com o objectivo de vermos aquela simpática cidade em todo o seu esplendor e “fofuxice”.

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O melhor: as mecânicas, o visual, o humor

O pior: a curta duração, a repetição

Sproggiwood consegue ser um óptimo roguelike tanto para fãs do género como para quem nunca os experimentou. Com uma capa de simpatia atípica a dungeon crawlers consegue manter-nos agarrados a cada masmorra, tentanto encontrar dinheiro para reconstruir a nossa vila. E o tom de humor associado à Kalevala, um épico que a maioria dos jogadores desconhece é apenas a cereja no topo de um bolo infantil que passará incógnito a muito gente.

Sproggiwood é um exclusivo PC.

* Obra já traduzida para português pelo Ministério dos Livros/Saída de Emergência