Eu é que sou o Presidente-da-Junta

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Começar a falar em gestão municipal sem pensar na Herman Enciclopédia é quase impossível. Ou pensar noutros sketches bem mais realistas como os da Fátima Felgueiras, Adelino Ferreira Torres, Isaltino Morais, Valentim Loureiro entre tantas histórias caricatas que fazem do nosso Portugal uma das melhores britcoms a serem produzidas fora da ilha britânica.

Estando habituado a estas andanças (leia-se jogos de city bulding, e não a sacos-azuis e dádivas aleatórias de electrodomésticos) fiquei curioso se este Cities XXL colocaria finalmente a série no seu devido lugar, eliminando uma série de problemas que se arrastam desde o primeiro jogo, e que poderiam, talvez, colocá-lo numa posição de fazer frente ao gigante do Mercado: Sim City. E o que é que senti desde os primeiros segundos de jogo? Um rotundo NÃO a todas as minhas indagações.

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Logo nos primeiros instantes de o começar a jogar tive de fazer ALT+TAB para me certificar na página de Steam do jogo de que não estava a jogar uma versão Beta. É que as notícias do seu lançamento foram tão sorrateiras que nem tinha percebido que ele já tinha sido lançado. E afinal não estava perante uma versão de antevisão inacabada, mas um produto final. Eu nem me costumo chocar com o aspecto visual dos jogos, mas há algo de verdadeiramente cru neste Cities XXL. Como é que um jogo que se assume como o competidor ao título da EA consegue fazer uns toques de magia entre o Cities XL e este jogo, e nem sequer efectuar uma alteração cosmética? Este Cities XXL continua a parecer feio, em especial as figuras (tanto os transeuntes quanto os personagens que falam connosco) ainda vivem naquele limbo estranho de figuras tridimensionais mal-modeladas do final da década de 1990.

É sabido que grande parte dos apreciadores do género estão ansiosamente à espera do Cities: Skylines, mas será que a Focus não terá dado um verdadeiro “tiro no pé” ao lançar esta versão mal-recauchutada do Cities XL, como uma tia de Cascais faz um peeling extremo e sente-se como uma beleza de 19 anos quando afinal parece a Lady Cassandra do Doctor Who.

Uma das críticas transversais ao jogo anterior era a sua fraca optimização. É que mais uma vez temos de lembrar os seus criadores de que quando queremos enfrentar um gigante olhos-nos-olhos, não nos basta apenas uma aura de David com uma funda na mão para fazê-lo resultar. É que por muitas críticas que Sim City tenha recebido (e que são de senso comum a qualquer jogador minimamente conhecedor do mercado), mas a realidade é que há situações básicas que Cities XL tinha falhado, e cujos autores alegadamente resolveram neste XXL. Falo é claro do multithreading e da consequente optimização dos recursos do nosso computador. E percebemos que dizer que dizer-se que se fez (e se sabe fazer algo) e realmente ter sucesso vai uma distância enorme. E essa distância é um tremendo lag que o jogo vai, quase inexplicavelmente criando, quando a cidade atinge um crescimento médio.

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A profundidade de Cities XXL termina rápido e sentimos que muito pouca gestão particularizada conseguimos ter. Apesar de podermos gerir a cidade, entre o mid para o late-game o que sentimos é que criamos bairros residenciais proporcionais á indústria e comércio que criámos, e jogamos esta balança até que o orçamento da cidade fique equilibrado. Respondemos às necessidades dos cidadãos com respostas padronizadas, e que usualmente giram em torno de obstruções de tráfego ou o preço da energia e água (e mesmo para esses basta construir algumas centrais perto dos bairros que o preço decresce de imediato). As decorações são verdadeiros fait divers e pouco ou nada influenciam a vida dos cidadãos.

Esta sensação de macro-gestão e de pouco aprofundamento do pormenor é um dos pregos no caixão de Cities XXL. O jogo é tão superficial que pouca ligação criamos com as nossas cidades, o que nos leva a atirar para as urtigas qualquer ideia de planeamento urbanístico: a pouca exigência do jogo só nos impele a criar dois grande blocos distante um do outro para que a cidade floresça: um residencial e outro empresarial.

O melhor: matar saudades do género enquanto aguardamos por Cities: Skyline

O pior: o preço, a apresentação visual, a superficialidade de jogabilidade, a falta de optimização

Este “embrulha e volta a dar” feito com este Cities XXL é um péssimo passo para a série. O seu preço actual de 39,99€ no Steam é completamente proibitivo, e perante uma tão má escolha penso que há poucas situações em que aconselharia  sua aquisição. A primeira de todas é se estiver numa promoção a 75% do seu preço, e apenas para quem não consegue esperar pelo próximo dia 10 de Março para jogar Cities: Skylines ou para quem nunca jogou nenhum jogo da série XL e tem mesmo curiosidade. Para todos os outros há-que saber esperar.

Cities XXl é um exclusivo PC.