Sim, e vocês?

Também eu, obrigado. Vai-se andando.

Mais ou menos.

Ora essa, façam favor.

Está frio? Está um bocado, não está? Dêem-me um segundo que vou pôr o aquecimento mais alto.

Pois. Pois é, a Grécia não sei quê.

Nem eu. Sabem que isto é mesmo assim,

É, de vez em quando parece que estou a falar sozinho e tudo.

Claro, claro… Então e jogos?

Compreendo e concordo a cem por cento. Cento e dez, até.

É? Então vejam isto:

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=jCmmYF4rOwo]

Sim, não representa o público geral; mas isso é como qualquer crítico, não? Mas devia interessar-lhe, não (ao público, quero eu dizer)?

Então porque, sim, os críticos estão sempre mais expostos à indústria, vêem mais coisas e fartam-se mais rapidamente, mas isso não quer dizer que as coisas não estejam lá. O público geral pode não ver os padrões e encontrar os clichés, mas não deixam de ser vítimas deles à mesma.

Imaginem: um crítico vê dez filmes, uma pessoa comum vê um, mas cada pessoa vê um filme diferente; os dez filmes são vistos por toda a gente; os dez filmes têm impacto em nós, na forma como pensamos, na nossa cultura.

Oh… filmes, jogos. O que eu disse é ainda mais verdade para os jogos, que são um medium menos passivo, não?

Não, não estou a dizer que todos os clichés, ou tropes são perigosos…

Mas por definição, um trope acontece quando demasiados fazem o mesmo, e subsequentemente oferecem visões ou comentários idênticos; perde-se sempre com isso, não? Limitar a nossa forma de perceber e sentir o mundo nunca é bom.

Claro. Mas aí estamos todos de acordo, só acho é que a mensagem do vídeo ganha muito mais peso vista sob essa luz. Não se trata só de tédio vs. diversão, trata-se de reduzir ideias, de interpretá-las sempre com a mesma lógica.

Óbvio que sim, naturalmente. Alguém quer chá?

Um, dois, três… três chás? Quatro? Quatro chás.

Não tenho. Tenho verde, preto, tília; tenho aqui este, que não sei bem o que é; “lapsang souchong“.

Então vejam aí outro vídeo, (não demoro nada).

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=xBN3R0m31bA]

Convém não beber já.

Sete minutos. E este vídeo? O que é que acharam?

Como assim? Tem a ver sim… claro que tem; tem tudo a ver com o outro.

Pensem: este vídeo queixa-se que ninguém quer juntar “jogo” e “narrativa” no mesmo conceito, ninguém, desde académicos aos menos dotados, o vídeo anterior queixa-se que os jogos mainstream estão todos a tornar-se mais homogéneos que nunca; este vídeo queixa-se que essa dicotomia predispõe-nos a não encontrar “narrativa” em jogos abstratos, focados somente em “jogo”; predispõe-nos também a não encontrar “jogo” em jogos focados em “narrativa”; predispõe-nos a não ver que jogos são narrativas, e que narrativas podem ser jogos, que não precisam de ser duas coisas de mãos dadas, mas são, na verdade, uma só coisa. O vídeo anterior queixa-se que há uma saturação de jogos iguais entre si, que a narrativa que nos é apresentada, embora não pareça à primeira vista que sim, é sempre a mesma; se o público visse, e não digo que não seja o caso, mas se o público visse o que o autor do vídeo anterior vê, sentiria que Watch Dogs, The Evil Within, e The Last of Us, por exemplo, contam “histórias” parecidas…

É um bocado como os filmes da Marvel Studios. Seja com super-herói A ou B, com este ou aquele vilão, neste ou naquele setting, no espaço, na segunda guerra mundial, etc… não interessa. É sempre o mesmo filme. São histórias diferentes; mas é sempre a mesma história.

Pronto, tudo bem. Mas é ou não é verdade?

Não acho. Quem quiser açúcar, está aqui.

Mas o ponto é esse: o público tem andado a comprar sempre o mesmo jogo nos últimos anos; se essa dicotomia não existisse, era ou não era mais fácil o público aperceber-se isso?