Anjo da guarda

Já dizia o António, com toda a sua sapiência:

“Eu tenho um anjo, anjo da guarda
Que me protege de noite e de dia
Eu tenho um anjo, anjo da guarda
Que me protege de noite e de dia
Eu não o vejo, eu não o oiço
Mas sinto sempre a sua companhia(…)”

E as suas palavras e a sua marcante voz poderiam ser a banda-sonora oficial deste Harold, o primeiro jogo do estúdio independente Moon Spider Studios. Tenho de começar este Nugget por dizer que a minha primeira surpresa com este jogo é o seu visual. Espantou-me imensamente que um estúdio pequeno tenha conseguido chegar a este ponto de direcção e execução artísticas, que se assemelham e muito ao que de melhor se faz em animação tradicional. Desde os cenários brilhantemente pintados, aos personagens bem-conceptualizados, há pouco neste Harold que não lhe permita olhar olhos-nos-olhos os “grandes”, e para ser muito honesto, ultrapassá-los.

harold

Neste jogo assumimos o papel de Gabriel, um anjo que necessita de cumprir uma série de boas-acções para receber o seu diploma e ser promovido a Arcanjo. Para isso foi-lhe atribuído um humano desajeitado que compete em corridas de Atletismo, que necessita de auxiliar. A nossa tarefa? Aplicar a Intervenção Divina e alterar uma série de factores na corrida para que o nosso protegé seja vitorioso. Percebo bem o dilema moral da coisa, no sentido em que a batota e a intervenção angelical são uma e a mesma coisa, enquanto fazemos os adversários serem mastigados por crocodilos e caírem em abismos, ao mesmo tempo que disparamos os mui-inspiradores relâmpagos nos glúteos de Harold para que ele corra ainda mais rápido.

Harold é um jogos de plataformas misturado com um endless-runner, ou seja, já que não controlamos o desajeitado imbecil humano, resta-nos criar as condições para que ele consiga ultrapassar os difíceis trajectos. E difícil é sem dúvida a palavra-de-ordem neste jogo, porque apesar da exímia apresentação visual, este jogo não é para casuais. A destreza e o sentido de timing necessários para resolver a maioria dos puzzles é de extrema dificuldade, roçando muitas vezes a frustração até ao mais experiente dos jogadores.

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Infelizmente este Harold tem apenas um ponto que impede as suas asas angelicais de o colocarem num patamar de excelência, e que o deixam apenas no patamar do “Muito Bom”. Um jogo com este nível de desafio não pode ter a fraca optimização de comandos como este apresenta. É que somando à rapidez de reflexos dos movimentos neste jogo a quantidade quase desmedida de botões que temos de utilizar para efectuar algumas das acções, e a frustração do qual falámos anteriormente é exponenciada ao ponto de quase quebra.

O melhor: o visual, a jogabilidade, o desafio

O pior: fraca optimização dos comandos, curto, apesar da dificuldade

Exceptuando esta fraca optimização dos comandos, Harold assume-se já em Fevereiro como uma das grandes surpresas do mercado independente, e pelo que parece está a passar sob o radar de grande parte dos media e da comunidade. Parece que necessitamos de um pouco de Divina Intervenção para o mudar, não parece?

https://www.youtube.com/watch?v=z-_y4yOY-0g