Li no outro dia que o nosso velho amigo Peter Molyneux voltou a repetir a gracinha. Para quem não sabe, o bom e velho Pedrinho dos Moinhos (como lhe chamam os amigos) é uma das figuras mais controversas deste nosso mundo dos videojogos. É quase impossível não nutrir pelo Pedrinho uma relação de amor-ódio, que no meu caso já dura há uns 25 anos. Tudo isto porque o senhor é simultaneamente um genial criador de videojogos, mas é também um génio como vendedor. E muitas vezes vende-nos a bela da banha da cobra. Mas como são cobras arco-íris das montanhas Txi-txi, e a banha foi tratada com água das fontes milenares de Quetzalcoatl nós vamos-lhe perdoando.
Mas que li então eu que me leve a partilhar convosco estas revelações? Aparentemente o Pedrinho abraçou um novo projecto do seu estúdio 22Cans, para já apelidado apenas The Trail e do qual não revela muito mais. Mas fê-lo “abandonando” o seu ainda inacabado projecto Kickstarter e descendente da sua obra-prima (Populous). Falo, claro está, de Godus (a versão de PC). E fá-lo quando a (reduzida e mutilada) versão mobile do mesmo jogo já rendeu uns milhõezitos para além do valor arrecadado pelo Kickstarter.
Digam lá se não ficaram com vontade de o perdoar?
Mas como a galinha não se deixa levar por retóricas, o vídeo que acabamos de ver suscitou-me a questão: mas como pára o Godus agora? Verdade seja dita que já não pegava nele vai para mais de um ano. Pedi ao Steam que fizesse o favor de o descarregar novamente e dei uma segunda volta no carrossel.
E como de esperar, o Pedrinho é um génio. O jogo continua largamente incompleto, mas apesar de tudo bastante mais refinado e trabalhado do que da última vez que lhe tinha pegado, mas a maior surpresa para mim foi o tutorial/guia de iniciação. É feito em jogo, muito à moda do Pedrinho (a campanha de Black & White era essencialmente um tutorial glorificado e enorme, se bem se lembram), mas desta vez com uma reviravolta interessante: é narrado pela gloriosa e melíflua voz do nosso querido Pedrinho, numa óptica simultaneamente de narrador e de game designer, em que vai explicando a lógica por trás das mecânicas enquanto nos ensina a usá-las, e fá-lo num tom tão apaziguador e paternal que temos vontade de continuar a jogar só para continuar a ouvi-lo falar.
Mas enquanto ruminava esta pequena pérola algo me surgiu na minha pandemónica imaginação. Meus amigos, descobri como podemos criar o jogo perfeito:
Peguem no Peter Molineux (Populous, Fable) para nos dar o conceito e o sales-pitch. De seguida ponham o Tim Shafer (Monkey Island, Grim Fandango) a tratar da estória e desenvolvimento de personagem. Passem o projecto para o Sid Meyer para desenvolver as mecânicas e jogabilidade (Civilization, Pirates). Terminamos com a direcção de arte de Charles Cecil (Broken Sword, Beneath a Steel Sky). Agitem bem, com o humor de cada um deles e deixem a marinar. Entreguem a produção à Bethesda (Elder Scrolls, Fallout 3).
Para terminar e porque nós no galinheiro também gostamos de BDSM (e aparentemente está na moda), dêem o produto final à Electronic Arts (quase todas as máquinas de lavar dinheiro da indústria dos videojogos) para distribuição e venda. E não esquecer de adicionar DRM e DLC de primeiro dia.
Tenho apenas uma palavra: Kickstarter!
Quem alinha?