Chicken Nugget a Belladonna.

Estou a passar por uma fase de chamar “Zé” às pessoas. Neste artigo, caríssimos leitores, vocês não são “caríssimos leitores”; vocês são Zé. Todos. Cada um.

Não me perguntem porquê.

O que é Belladonna?

É um point & click indie, Zé.

Quanto tempo demoraste a concluir Belladonna?

Pouco menos de uma hora, Zé.

OK, isso não parece muito impressionante.

O que conta não é o tamanho.

OK… porque é que tiraste as calças?

Estou a pôr-vos desconfortáveis, Zé?

Querem que eu pare, Zé?

Sim.

OK. Assim?

Porque é que tiraste os boxers?

Não gostam?

Isto é assédio sexual.

Não responderam à minha pergunta.

[Fim]

Viram? Este artigo virou gay. De repente. Sem aviso.

Belladona faz o mesmo, a meio do jogo. Talvez de forma mais subtil, mas não interessa.

belladonna-experimentation-room

O que é Belladonna?

É um point & click indie inspirado em Frankenstein, que conta a história de um corpo reanimado, amnésico, que acorda num laboratório. Cliché? Também achei. Mas continuei a jogar.

Porquê?

Não me perguntem porquê, Zé.

Quanto é que o jogo custa neste momento?

Cerca de sete euros.

Vale a pena?

Depende. O forte do jogo não são os puzzles ambientais; o inventário é limitado, o espaço contém poucos cenários; é tudo muito simples a esse nível. Mas como dizia, pareceu-me cliché à primeira vista, e no entanto, as minhas expectativas foram sempre subvertidas; sempre. O verdadeiro puzzle é narrativo. A atmosfera subtil de horror que se sente no início vai aumentando de intensidade à medida que o jogador desvenda aquilo que está a ver.

Hmmm…

São sete euros, Zé. Quanto é que custa um bilhete de cinema?

Jogos são jogos. Cinema é cinema.

É sempre a mesma coisa, Zé. Não dá para conversar convosco.

A maioria de nós não põe os pés num cinema há meses, alguns há anos. É demasiado caro.

[Fim]

Viram? Enchouricei aqui um comentário sobre a indústria do cinema que serve, por contraste, de comentário sobre a indústria dos videojogos, e que acaba por levantar questões fundamentais sobre a natureza dos videojogos. Coisas profundas. Coisas simples.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=k-nf6Rtbns0]

O corpo reanimado olha para uma planta.

A plant, a natural object, standing in a pot, a man-made object.

The plant can consume nutrition and grow bigger, and the pot can’t.

Neither of them can think.

What about me, then?

I can think, I know that,

But am I natural or man-made?

O corpo reanimado olha para uma planta e diz isto, cinco minutos depois de ter feito uma referência à biblioteca infinita de Borges (La biblioteca de Babel).

Vale mesmo a pena?

Depende, Zé. Depende mesmo.

Por exemplo, a história é essencialmente revelada através de texto. Gostei do que li, mas acho preguiçoso. Também há pormenores que envolvem várias portas, chaves e fechaduras, dos quais não gostei; por exemplo, alguém que se tranca à chave num quarto, mas que deixa a chave do outro lado da porta.

Hmmm…

Não me perguntem como.

Porque é que voltaste a tirar as calças?

Nem porquê.

Fica onde estás. Por favor.

Horror, loucura, castelos góticos, patriarquismo, homossexualidade, matrimónio, auto-estima, a alma, e um final abrupto, que deixa a desej
[Fim]