Todos conhecemos, por vivência ou assistência, a tradição juvenil do remanescente (para não utilizar o termo depreciativo resto) quando se formam as equipas que se digladiam num jogo. O digladiar começa logo na fase de escolha de jogadores que se inicia a um ritmo muito acelerado que se reduz, à medida que o menu mingua, até ao ponto do desconforto… eis que chega a hora de escolher os elementos, normalmente, menos aptos/rotinados (vulgos nabos) no jogo. Neste momento entra em ação todo o poderio do pensamento estratégico, determinando a melhor implementação das poucas qualidades dos remanescentes na tática a implementar (o vulgar “ficas à baliza” num jogo de bola).
Tendo eu conhecimento por vivência, nunca senti constrangimento pois o que interessava era jogar – um dos maiores valores da mentalidade das crianças.
Mas não é disto que trata o artigo… (em jeito de plot twist) ou será que trata?!…
Além de ter pertencido a esse grupo juvenil dos nabos, faço também parte da faixa da população que acha que usar a mão direita como o comum dos mortais é demasiado mainstream… Canhotos, os populares 10% de mutantes.
Mesmo o regular borrar das mãos ao escrever (e por isso ser gozado), remediado com posicionamento dos cadernos escolares em posições que fazem lembrar o kamasutra (e por isso ser gozado), nunca foi um problema. Mesmo quando surgiu a era da informática, e passei a utilizar um rato, nunca foi um problema que me condicionasse a entrar no mundo videojogos (para que outra coisa servia o PC?!), no entanto…
No entanto, a utilização dos periféricos continuou a evoluir proporcionando novas mecânicas de jogo com o objetivo de aumentar a envolvência do jogador (comparem um Wolfenstein 3D com um Quake). Os ratos começaram a ganhar uma maior ergonomia e os comandos a multiplicar o número de alavancas (d-pads, analog pads e afins). E onde entram os canhotos(?), perguntam vocês.
Esta evolução, visivelmente orientada para a generalidade dos jogadores/utilizadores (dextros), trouxe alguma dificuldade aos jogadores canhotos que se adaptaram, com maior ou menor dificuldade.
Mas, mutantes, há esperança! Nos últimos anos tem havido um aumento na oferta de produtos, exclusivamente ou quase exclusivamente na área dos ratos, que permitiu facilitar a vida lúdica desta faixa de jogadores. Com uma, relativamente, ampla oferta de ratos ambidextros (embora por vezes a preços elevados) e em alguns casos com ratos para canhotos!
A minha alma sorriu, a minha mão suspirou de alivio (não vão por aí suas mentes poluídas pela internet), o meu cérebro reordenou-se enquanto assobiava alegremente, quando adquiri um rato ambidextro. Atualmente em fase de reaprendizagem, em que finalmente posso deixar de sentir culpa em ser mutante, vejo que muito se evoluiu mas que ainda falta caminho a percorrer… (pensa o leitor… “o que é que este indivíduo ainda tem para se queixar e opinar?!”)
No universo do PC a quase totalidade dos jogos permite a configuração do comando de jogo, com excepção de algumas pérolas, como seja o recente Hero Siege que me obrigou a um cruzar de braços (não de desistência mas fisicamente) para permitir controlar devidamente o jogo. E é aqui que eu salto para as consolas e seus controladores.
Desconhecendo as características da mais recente geração, os comandos da geração anterior não permitiram (por mera intervenção de software) alterar/trocar a função das alavancas. Pode não parecer significativo mas convido, por mera curiosidade, aos jogadores dextros que na próxima sessão do vosso FPS favorito (em PC) troquem o rato e o teclado de mão… possivelmente terão uma imagem aproximada do impacto que a função das alavancas dos comandos têm sobre a coordenação de um mutante.
Aguardemos, assim, pacientemente que chegue a nossa vez de ser escolhidos (possivelmente para ir à baliza) pois o que interessa é jogar… entretanto vou ver se a minha recente libertação de capacidade mental me permite fazer levitar objetos (vai dar jeito para as ocasiões em que o rolo de papel higiénico está à vista mas fora de alcance).
Continuação de bons jogos!
Comments (2)
Apesar de dextro, e de parecer que o mundo dos controladores foi feito em meu benefício, verifico realmente que os referidos “mutantes” estão incrivelmente excluídos de suporte, aquando de dispositivos para jogos. Quer em ratos ( ora por serem ergonómicos, ora por terem botões extra só do lado esquerdo ), joysticks ( pela dita ergonomia que impossibilita usar a mão esquerda ), ou comandos de consola.
Infelizmente, mesmo dando o suporte no hardware ( moldando os ditos dispositivos de forma a serem ambidextros, ou até para canhotos ), o software não acompanha, havendo uma disparidade incrível na maneira de aceder e configurar o dispositivo.
Uma das alterações necessárias afim de corrigir esta e muitas outras lacunas, seria uma adopção ( com P, sim. desculpa lá qualquer coisinha, desacordo ortográfico ) de plataformas de acesso ao dispositivo, uma framework comum. Ou talvez até a nivel do sistema operativo, no caso das consolas. Imaginem configurar em todos os jogos xbox, uma simples troca entre os joysticks. Ora se cada jogo aceder directamente ao comando, o jogador terá de contar com a “generosidade” do estúdio para criar a possibilidade configuração e configurá-lo em cada jogo.
E que tal, uma configuração a nivel da plataforma? No exemplo da xbox, trocar os joysticks, a nivel do sistema, para ser aplicado em todos os jogos…
Talvez já vamos tarde para os jogos existentes, mas nada nos impede de mudarmos para os futuros títulos…
Este filiado na classe mutante (com cotas em dia) agradece a compreensão. Existem alguns jogos que permitem o layout Southpaw, no entanto, como referes, se não existir uma framework comum por parte dos fabricantes de hardware não haverá incentivo para que seja uma opção padrão. E não há nada a desculpar, pois nesta capoeira também se desacorda ortograficamente.