[Encher chouriços] O que é uma fábula?
Fait divers etimológico: fábula vem do latim e significa pequena história, história em diálogo, peça de teatro, lenda, mito ou wait for it pequena fava (sim, aquela cena que a ASAE proibiu nos bolos-rei). Agora que penso nisso, o génio de José Cid ganha uma nova dimensão. Por isso, se alguém vos mandar à fábula, já sabem… ou então não.
Voltando à questão inicial, porque eu sou ligeiramente moina [a menos que sejam do Norte, esta vão ter que procurar no dicionário (não deixem morrer as palavras)] e porque seria o primeiro lugar onde iriam procurar, poupo-vos trabalho e deixo aqui a definição apresentada pela wikipedia.pt e que deve ter sido traduzida por um bot ou por alguém ainda mais calaceiro que eu:
[fábulas] são composições literárias curtas, escritas em prosa ou versos em que os personagens são animais que apresentam características antropomórficas, muito presente[s] na literatura infantil. As fábulas possuem caráter educativo e fazem uma analogia entre o cotidiano humano com as histórias vivenciadas pelas personagens, essa analogia é chamada de moral e geralmente é apresentada no fim da narrativa.
Tudo isto é muito bonito, mas se querem saber a verdade, as fábulas são historietas em que usamos coisas fofinhas e kawaii para pintar a dureza da vida, muitas delas, como alguns contos ditos infantis ou de fadas, chagam mesmo a esconder histórias de faca e alguidar. Porque me haveria de lembrar disto agora? [Carninha] Por causa de Armello, porque este título disponível no Steam em early access (mas bastante completo) propõe-nos que mergulhemos naquele universo ao mesmo tempo estranho e familiar que só a fábulas conseguem veicular. Este jogo de tabuleiro/jogo de cartas em formato digital lança-nos no mundo fantástico em que os animais falam e combatem entre si para alcançar o trono, o que levou a que alguém o descrevesse como A Guerra dos Tronos (facadas pelas costas e tudo) com coelhos fofinhos, o que por sua vez mês recorda disto (e assim se prova que a memória é como as cerejas).
Acreditam no amor à primeira vista ou que não se pode julgar um livro pela sua capa? Há pedaços de sabedoria popular que não são outra coisa senão contraditórios e, no entanto, não são menos verdadeiros por isso. O pessoal da australiana League of Geeks deu-se a muito trabalho para criar um jogo que brilhasse com uma beleza simples cujo segredo está no equilíbrio dos detalhes, desde o grafismo, até à jogabilidade, passando pela música.
A primeira coisa que salta à vista em Armello é, sem dúvida o seu aspecto, cujos screen shots quase poderiam ilustrar uma edição de luxo de La Fontaine. Neste ponto, não posso deixar de louvar o facto de este estúdio ter optado por identificar os autores da cada uma das cartas do jogo, cujas ilustrações nos fazem parar um pouco. Logo de seguida a banda sonora para a qual tenho três palavras Lisa flipping Gerrard, como se isso não bastasse, não sendo a Rains of Castamere, consegue ilustrar o espírito deste título na perfeição. Quanto à jogabilidade, Armello é um jogo de tabuleiro/jogo de cartas que segue uma mecânica de turnos com uns pozinhos de RPG e estratégia que pode ser jogado contra o PC ou contra adversários online. Armello é um reino manchado pelas trevas, cujo rei está moribundo, os heróis das diferentes tribos (urso, lobo, coelho e rato), cada um com diferentes características e estilos de jogo, têm que lutar entre si e contra o rei para dominarem o mapa, cumprirem missões até ganharem o trono. À parte qualquer tecnicidade que se possa referir, Armello consegue transmitir aquele sentimento de palpabilidade que é tão característica dos jogos de tabuleiro.
Assim, se procuram um jogo pequeno e divertido, se são fãs de jogos de tabuleiro e se acham que um interface digital é tudo aquilo que precisam para não ficarem vinte minutos à espera que o adversário escolha a sua jogada (piscamos o olho ao Leonel, membro fundador da ASMA, Associação Soberana dos Munchkins Anónimos), recomendo que dêem uma vista de olhos à página deste jogo.
