Ontem, ao ligar-me às redes sociais, nas páginas especialistas em videojogos, um título “saltou-me” à vista – esta expressão tão portuguesa que serve para dizer que algo captou a minha atenção. Lia-se: “Tomb Raider 2013 vendeu mais de 8 milhões de cópias”. Este título era acompanhado do subtítulo que mencionava que este número significava uma quebra de recordes deste franchise, tornando-se o jogo mais vendido de toda a saga. Parecem boas notícias… mas os comentários escritos por jogadores, um pouco por todas as páginas e websites especializados, mostravam que as boas novas para a Eidos e Square Enix não eram partilhadas pela maioria dos fãs da série.

Como já partilhei convosco noutro artigo, Miss Lara Croft tem para mim um significado muito especial. É a ela e ao primeiro Tomb Raider de 1996, que devo o meu amor descoberto por videojogos – amor esse que alimento todos os dias, como gosto de fazer com o objecto amado.

Dito isto, entendo perfeitamente as críticas que li de muitos jogadores. O novo Tomb Raider foi um romper com a tradição de Lara – um desenraizamento, se quiserem chamar assim. Tomb Raider deixou de ser um jogo focado em Puzzles, na descoberta de um item que abre uma porta, nas horas passadas numa sala a tentar descobrir para onde ir e passou a ser um jogo de acção, de muitos mal-amados “Quick Time Events” condensado numa aventura de uma espécie de Nathan Drake no feminino. Lara, a um dado momento do jogo até diz: “I Hate Tombs” Odeia túmulos? Que sacrilégio.

Sendo eu uma fã incondicional de Lara, uma daquelas que jogou todos os jogos da série, estava preparada para odiar o jogo e este novo começo da minha eterna Miss Croft. Afinal, já não haviam puzzles quase impossíveis de resolver nem níveis inteiros fechada num porão de um navio, ou a tentar sair de uma muralha. Agora estava à minha frente uma Lara diferente – uma adolescente a aprender a ser mulher; alguém que sofre com a primeira vez que se depara com a crueldade da sobrevivência a qualquer custo. À minha frente estava um jogo que, de certa forma, tinha perdido a identidade que o imortalizou e, em vez de continuar o seu caminho, copiou os melhores e colou-se a um estilo que não é o dele.

Sim – estava preparada para Odiar o jogo… mas o que aconteceu foi exactamente o inverso! A cada passo encarei o jogo como aquilo que, quanto a mim, ele pretendia ser: um renascimento da série. Um corte com o Passado. Vi o jogo, não como parte de uma saga, mas como algo isolado… e adorei. O jogo tem uma excelente história, a forma como Lara progride é coesa e bem construída; os cenários, mesmo no caos, são belíssimos, as personagens são todas bem desenvolvidas e até os Quick Time Events estão bem integrados. A voz de Lara é, a par com Ellie e Joel de The Last of Us, a melhor representação que já vi num jogo e a banda sonora não desilude. Falta-lhe um Boss Final que dê o climax que o jogo merece – mas é um detalhe que não me destruiu a experiência do jogo.

Dei por mim a pensar que talvez não houvesse esta “revolta” com a notícia das vendas generosas deste título se tal não significasse que vendeu mais que qualquer outro. Entendo que este recorde de vendas possa ser sinónimo de que os jogadores preferem este novo Tomb Raider em detrimento do outro. Pode ser que assim seja… Eu não acredito. Estes números, como tudo, têm que ser relativizados e contextualizados.

Vivemos numa altura em que os Videojogos são a forma de Entretenimento número 1 do Mundo, a par com o facto de que os Gamers de hoje, geração 25-30, têm bastante mais poder de compra que no passado. Juntando a estes factores, o facto de que assistimos a estratégias de marketing globais que são verdadeiros operações de manipulação dos impulsos de compra, não é difícil entender que hoje tudo venda mais que no passado, principalmente quando bem publicitado.

tomb_raider_evolution

A mim, numa opinião muito pessoal, as vendas deste novo Tomb Raider não me incomodam – pelo contrário. Significam que a série renasceu e que a minha Lara vai continuar a fazer-me companhia por muitos anos. As vendas a mais nunca me preocupam, pois são sempre sinónimo de uma continuação que pode sempre ser melhor. Preocupa-me sim, quando um jogo magnífico não vende o suficiente (porque ninguém o conheceu ou lhe deu uma oportunidade) e é… descontinuado… O fim da qualidade pela falta de vendas é o que verdadeiramente me preocupa –mas esse será um tema para outro dia.

Como vos disse há pouco, estava preparada para odiar este jogo quando peguei nele. Mas amei-o. Nele, não vi a morte do que foi a minha Lara. Nele, vi o nascer de uma nova Lara. Descobri que às vezes conseguimos amar coisas opostas, e descobri também que ao abraçar o futuro desta nova vida de Miss Croft, não quer dizer que abandone o seu passado. Esta Lara é uma outra Lara… eu sei, às vezes é difícil aceitar virar costas e deixarmos algo ir embora. Mas pelo menos podemos sempre ansiar pela hora do regresso…