Bonecas de porcelana. O meu único medo são bonecas de porcelana. Não sei de onde vem (dizem-me que pode ser da Barbarella) mas este é o meu único medo. Estamos em 1981 e o meu único medo são bonecas de porcelana. Sim, provavelmente nos primeiros 4 anos de vida apanhei um glimpse da Barbarella (o que também me imprimiu para sempre no cérebro a minha heterossexualidade).

Poltergeist Clown

 

1982 – Bonecas de porcelana e palhaços. Agora a razão do medo é identificável. O filme Poltergeist e as sequências do palhaço no quarto. Os meus medos passam a ser dois.

1984 – Medo de dormir. Freddy Krueger atormenta-me. Duas semanas depois passa-me.

1988 – Qualquer tipo de boneco de estatura média. Acabei de ver Child’s Play e qualquer Nenuco minimamente grande é passível de ser encarnado por Charles Lee Ray e de me saltar à jugular. Não esquecer os palhaços e as bonecas de porcelana.

1989 – Puppet Master. E o medo passa a ser por bonecos em geral. Todos os bonecos passam a ter a capacidade de serem animados por motivos homicidas e atacar-me de noite. Desde cedo habituei-me a dormir de cabeça tapada e encostado à parede do quarto. Esta “concha” conforta-me e protege-me de todos os terrores que os filmes de horror dos anos 80 imprimiram no meu cérebro.

1990 – Tenho 14 anos e vou a caminho dos 15. Passo a ter que lidar com isto, deixo de ter medo absurdo mas continuo até hoje a arrepiar-me quando vejo certas figuras. E daqui para a frente começo a consumir tudo o que tem horror deste género embora infelizmente se comece a apagar a “qualidade” a partir de meados dos anos 90 e se eclipse por completo a partir do milénio.

 

Chuck-E-Chese Animatronics

 

Daí que Five Nights at Freddy’s como filme me esteja já a arrepiar a espinha e a provocar aplausos nos pêlos que vão do rabo à nuca. O filme pode ficar uma paródia risível, ou uma má tentativa de ser um bom filme de terror. Mas algo será certo. Os bonecos, aquela adaptação dos animatronics degradantes e potenciadores de pesadelo da cadeia americana Chuck-E-Cheese, são material de um potencial avassalador em aterrorizar as gerações mais novas. Acredito que a minha filha, o filho aqui do nosso Ricardo, e muitas outras crianças vão um dia ver o Five Nights at Freddys e nunca mais vão olhar da mesma maneira para o seu peluche favorito, que passará de amigo bestial a besta do inferno em uma hora e meia de imagens em movimento.

No entanto nada, mas mesmo nada, será tão terrível como o dia em que fizerem um filme baseado no museu de cera de Fátima. Depois de ter entrado no dito museu, passei de Ateu a alguém que acredita em Jesus. Passei a acreditar para que, ao contrário dos fieis, eu nunca o chame até mim. É que um Jesus de cera a abrir e fechar a boca e a dizer perdoa-lhes pai enquanto se derrete em cera a ferver na minha cara, não obrigado.

 

Museu de Cera Fátima