(Nota: O Rubber Chicken tem uma regra inviolável: Análise – só depois de se terminar um jogo – Todo. Aqui, os prognósticos são mesmo no fim. No entanto, temos que noticiar o desaparecimento da Alexa. Sabemos que ela foi para Yharnam, mas não sabemos mais nada. Quando procurámos por ela, tudo o que encontrámos foi um diário com as palavras abaixo. Caso a encontrem – por favor, mandem-na de volta a casa.)

Ano: MDCCCX…(algures numa Inglaterra Vitoriana)

Local: Yharnam

Diário de uma Caçadora:

Sou Aoussa – o meu nome tem um significado numa língua do outro lado do Mundo. Sou a Loba. Tenho uma doença no meu sangue. Sofro de Paleblood – dizem-me que é raro. Procurei ajuda e apesar do homem velho que se movimenta numa cadeira de rodas parecer que sabe mais do que me diz, ele quer ajudar-me. É o que me diz e eu acredito. Diz-me que uma transfusão me ajudará. Confio nele e deixo-me tratar. Fecho os olhos. Ouço-o rir-se… ouço-o a suspirar e a sussurrar. Falou com alguém e chamou-me Caçadora. O QUE É AQUILO QUE SE ERGUE NAS TREVAS??? Parece um lobo. Mas algo está errado…

Não sei quanto tempo passou. Acordei sozinha nesta sala. Estranhos seres dizem-me o que fazer, como me mexer, para onde ir. Quem são? Porque está tudo tão abandonado? Quanto tempo passou? Os sons invadem-me. As sombras tomam conta de mim. Tudo é escuro… tão escuro… o lobo que vi está na sala. O que está ele a comer? Olha para mim. Vai atacar-me. Não tenho como me defender nem para onde fugir. Ele vai mat…

Acordei novamente. Onde estou agora? Aqui tudo é lindo e mágico. Há uma sensação de segurança que me invade. As pequenas criaturas ajudam-me. Deram-me armas. Ensinam-me a lutar e a defender. Querem que eu sobreviva. Acendi uma luz – estas criaturas que me ajudam, os Mensageiros, rodeiam esta luz. Entendo agora – num sítio de escuridão, a luz devolve-nos o regresso ao nosso abrigo. Toco na luz e regresso à cidade.

O que vejo à minha frente é uma cidade imensa devastada. Envolta em trevas. É estranhamente linda e terrífica. Como me pode fascinar e assustar tanto ao mesmo tempo? Nunca vi um céu desta cor… não é dia nem noite. O tempo parou aqui. Dizem-me que é a noite da caça – mas que caço eu senão a minha própria Sanidade? Que fizeram ao meu sangue? Quem sou eu?…

Aoussa in Bloodborne

Começo a caminhar por estas ruas onde caixões acorrentados se empilham. Porque estão acorrentados? Temem que os mortos se levantem? Os transeuntes querem atacar-me. Chamam-me “Tainted Beast” – Animal com mácula. Chamam-me Impura. Tentam matar-me. Movem-se de forma estranha. Reúnem-se à volta de fogueiras onde queimam corpos. Tudo na cidade cheira a peste. A doença. É como se eu estivesse numa versão possuída, doente, da verdadeira cidade que conheci. Os sinos tocam lá ao fundo. Luzes vermelhas assinalam casas habitadas. Algumas pessoas falam comigo. Tentam ajudar. A maioria teme-me. Ri-se. Assustam-se e assustam-me.

Começo a lutar. Absorvo o sangue que os outros deixam. Sinto-me a fortalecer. O sangue dos que mato torna-me mais forte. Sinto medo de percorrer a cidade. Mas não consigo evitar. Estou hipnotizada pelo seu céu vermelho, pelos sons da rua, pelos becos e casas. As trevas são Lindas… Belas e atraentes.

A cidade pune os meus erros. Não posso avançar depressa demais. Tenho que melhorar – aprender mais. Tenho que aprender a usar todas as minhas habilidades e armas. A mexer-me na altura certa – o verdadeiro caçador sabe quando recuar, esquivar e qual o momento certo para atacar.

Chego a uma ponte. Nela está o primeiro Demónio gigante. Sei que ele é o Cleric Beast. Luto. Aprendo. Tento saber onde e quando o atacar. Estudo-o para conhecer os seus pontos fracos. É isso que faz uma Caçadora – estuda a sua presa. É isso que eu sou. Uma caçadora. Mato a presa. Sinto-me imortal. Invencível. É inebriante esta sensação de caça em Yharnam. Sinto que não posso parar. Tenho que saber mais.

A cada momento que avanço descubro que não sei nada. Sinto que as minhas habilidades ainda precisam de aperfeiçoamento. Yharnam mantém-me humilde. Recompensa-me e castiga-me. A cada morte sofrida regresso ao sonho do caçador – o meu abrigo. Não me posso demorar – o sangue que perdi na minha morte está ao meu alcance outra vez se eu for rápida. Tenho que voltar onde morri e descobrir a minha poça de sangue ou aquele que roubou o meu bem mais precioso. Não posso perder uma gota. O sangue é Vital – preciso dele para me tornar quem eu nasci para ser. O sangue na minha capa é brilhante viscoso – como o sangue realmente é. Quase o consigo cheirar…

Percorro as ruelas mais vezes que consigo contar. A morte espera-me em cada esquina. Não me sinto farta… pelo contrário. Cada repetição é um olhar a um pormenor novo. Uma nova aprendizagem. Paro para escutar. Os sons são mágicos: o crepitar da minha tocha, as gargalhadas e gemidos que se misturam, os passos na calçada, a água que escorre nos esgotos. Os sons são límpidos, subtis, imaculados.

Aoussa see

Vejo a sombra de outro caçador que passa por mim. Estará ele noutro mundo? Aprendo com as silhuetas dos mortos que me mostram a sua lição dura. Leio mensagens que os outros caçadores deixam e que me ajudam a percorrer este mundo. Tenho um sino que toco quando preciso de ajuda. Quando Eles me ouvem, Eles vêm. Foi assim, com um caçador de um outro mundo, que matei o Padre Gascoigne. Um caçador ajudou-me numa tarefa que parecia impossível para mim. Juntos – matámos o padre que se transformou em lobo. Um padre que carregou um segredo tenebroso do seu último acto de doente fanático pelos deuses que idolatrou. Deixou uma menina sem mãe. Deixei-lhe a caixa de música – nada mais pude fazer que deixá-la a afogar a sua dor na escuridão.

Entro numa catedral e noutra área de Yharnam. Sei que muita dor me espera. Quero encontrar os cálices e explorar as masmorras que se escondem algures neste pesadelo estupendo. Sei que estão infestadas de perigos. É um mundo maravilhosamente doente. Estarei também eu doente? Nunca senti tanto medo, mas ao mesmo tempo, tanta vontade de explorar, tanto temor e tanta coragem. Já não sei quem sou.

Recordo o momento em que entrei em Yharnam, preparada para uma mera aventura em mais um mundo…

O que encontrei foi algo único, completo, misterioso, belo, medonho, doente, que nos envolve e nos domina em cada segundo. Quando entrei, recordo que os outros chamavam-me Alexa… sim, esse nome é-me familiar.

Agora sou Aoussa. Descobri a minha pele e um mundo novo. Perdi-me e reencontrei-me aqui. Não sei quando (ou se) alguma vez a Alexa vai voltar…