Até ontem nunca me tinha sentido velho a jogar videojogos. Quase a chegar aos 40 anos tenho acompanhado a indústria desde que me puseram uma Atari 2600 nas mãos e assim espero continuar até partir para o além ou se por ventura antes disso passar a chamar ao meu cão, avó, enquanto me babo.
Na última década porém alguns fenómenos fizeram-me pela primeira vez ter consciência de novas gerações completamente diferentes da minha e que pela primeira vez contrastavam com os meus gostos e com o meu dia-a-dia de gamer.
A primeira de todas foi aquilo que eu chamo o “um só jogo”. Este é o grupo imenso de pessoas que passam os seus dias no mesmo jogo, se for necessário, por anos. Para estas, muitas vezes, esse é o único jogo. Escrevo, claro, de League of Legends, onde comecei a observar pessoas a chegar ao gaming só por causa desse jogo e a manterem-se apenas com esse (para além do eventual passatempo rápido no smartphone), mas actualmente já poderia adicionar outros jogos a essa categoria.
O segundo impacto foram os Youtubers. Ver pessoas a gerar conteúdos medíocres e a serem seguidas por milhares ou milhões deixou-me atónito, até porque só percebi a dimensão quando os números já eram muito grandes. Isto no entanto não me fez sentir velho, mas apenas triste.
Foi o Destiny. Foi a Bungie a responsável pela primeira vez me sentir velho num jogo. Com mais de 300 horas de jogo eu pela primeira vez incompatibilizei o acto de jogar com o acto de viver. Antes isto não aconteceria. As minhas noites, após o trabalho, começaram a ser quase em exclusivo preenchidas por Destiny com os amigos. Para trás estavam a ficar o tempo com a minha mulher e as brincadeiras com a minha filha. Contudo, enquanto estas ausências são preocupações óbvias de um adulto, outras surpreendentes apareceram.
Digamos que aos 40, com sorte, chegámos a metade do percurso de vida. O sentimento que mais me acompanhou durante o último mês de Destiny foi o de culpa: culpa pelos livros que não estava a ler, culpa pelos filmes que não estava a ver, culpa pelos bons artigos da New Yorker, Wired e outras que não estava a acompanhar e, mais importante, culpa pelos novos jogos que não estava a experimentar.
O Destiny lembrou-me que eu já não tenho os dias livres apenas para me preocupar apenas comigo sem ter em conta a família, mas também me lembrou que as minhas prioridades começam a orientar-se para aquilo que me falta fazer no futuro, e que esse tempo já não é infinito. O tempo que resta já preocupa, e isso, pela primeira vez, fez-me sentir velho, no bom sentido do termo.
Depois ontem vi o post abaixo e pensei em arrumar a toalha. Mas talvez não. Ainda espero pelo simulador de lar de idade, ou pelo 7º campeonato geriátrico de péssimos jogadores de multiplayer.