Há qualquer coisa de poético, próximo da prosa de Hemingway neste Under Night In-Birth: Exe Late. Estamos a falar de um enredo tão complexo, tão intríncado, tão genuinamente tecido que cada linha de diálogo ou narração são verdadeiras experiências literárias, evocando o que de melhor é possível trazer da literatura para os videojogos. Ou então eu incorri num dos mais fáceis erros humanos, o exagero, e estou a tentar mascarar o facto de que a história (e a apresentação dela) pouco ou nada me aqueceram e que fui impelido a fazer skip a quase todas as linhas de diálogo. Afinal isto é um jogo de luta e a melhor conversa que podemos ter é falada com os punhos.
Após a divagação do parágrafo anterior resta-me dizer que pouco me ficou do enredo deste Under Night In-Birth: Exe Late que vá para além de um cliché de evento com demónios que obriga a uma série de seres a lutarem pela sobrevivência do planeta. Com mais ou menos divergências, a narrativa há de andar perto da minha descrição. Mas seria extremamente pedante da minha parte referir que a história é a minha força motriz a jogar este jogo. Estamos perante um 2D arcade fighting game, o que significa que a jogabilidade, neste caso, é tudo. Muitas vezes as palavras são mais fortes do que murros, mas neste caso, o que damos mesmo valor é à boa e portuguesa “porrada”.
Se muita gente pensa que este género tão em voga na primeira metade dos anos 1990, e que decaiu na última metade dessa mesma década tinha desaparecido, pode esquecer essa ideia. Ainda que no Ocidente o género não tenha o mesmo fulgor de outros tempos, no Japão os 2D fighting games continuam a ser seguidos com o mesmo entusiasmo, com sprites cada vez mais próximas de celulóides das séries de anime, e a fazer as delícias de milhares de japoneses que teimam – e ainda bem – em não deixar o género morrer.
Se há um género em que é difícil falar em inovação, ou demarcação, este é um deles. É claro que Under Night In-Birth: Exe não terá o sucesso comercial (e o destaque) de séries com BlazBlue ou Guilty Gear, mas não deixa, de igual forma, de apresentar um elenco bastante memorável. Com uma boa arte, animações fluídas e uma jogabilidade que premeia os jogadores mais tácticos, mas que não pune os novatos, UNIB:EL (a sigla relembra uma associação de solidariedade social) apresenta-se como uma boa proposta para os resistentes que ainda anseiam fortemente utilizar uma série de personagens bidimensionais e desferir os mais animados golpes fantásticos para suprimir a barra de vida dos adversários. Se vai mudar as nossas vidas ou se vai ser um marco do género? Nem por isso. Mas pelo menos consegue apresentar uma fluidez e diversão inerentes ao próprio género. O que para algumas “tentativas” de fighting games que por aí andam é dizer muito.
De repente lembrei-me que graças aos problemas na versão de PC ainda não consegui fazer um único combate no Mortal Kombat X. Lá tenho de aplacar a minha vontade de uma boa dose de pancadaria virtual com este Under Night In-Birth: Exe Late. Um bom sucedâneo ainda assim. Pelo menos consigo passar do menu inicial.