Diário da Tripulação da Morningstar. Entrada #34.3.96

Toda a situação parece um daqueles filmes fantásticos retro-futuristas que passavam nos holodiscos à quinta à noite. Uma tripulação despenha-se num planeta inóspito, desértico (?), sem aparente forma de escapar. Eu, um normal engenheiro de manutenção da nave, não fui (ao contrário do que parece), uma vítima de um acidente com uma nave espacial, mas sim vítima de um cliché. Um cliché tenebroso que abalroou a nossa Morningstar, e que a deixou esventrada no solo, despojada da sua integridade espacial.

Há tanto desta Morningstar que me lembra outra versão da nave, de teste, gratuita para utilização, lançada há alguns anos no espaço internético com a defunta tecnologia Flash. A nova nave actualizada estruturalmente e graficamente para os dias de hoje com o auxílio da companhia Phoenix Online Publishing usualmente ligada a boas narrativas. Este é mais um exemplo de uma boa história, bem contada e simplificadamente estruturada. Isto é, se eu conseguir sair desta desolação que é Deadrock e conseguir contar a história a alguém. Senão a minha tentativa de sobrevivência e escapatória deste planeta morrerá comigo, neste canto esquecido da galáxia sem vida. Apenas com as estrelas no firmamento como testemunhas enquanto luto pela minha vida.

O tempo é curto para conseguir escapar de Deadrock com vida, e por isso as minhas desventuras para reparar a Morningstar e sair daqui não duram mais de duas horas. É esse o tempo estimado que os tanques de oxigénio me relembram, constantemente, enquanto vou inspirando lentamente para não sorver com sofreguidão o pouco oxigénio que me resta.

Sempre me considerei  exímio em puzzles. A contribuir para essa minha destreza estão as dezenas de jogos de aventura que já joguei até hoje. Por isso todos os obstáculos com que me deparo são facilmente ultrapassados, e as muitas interligações que vou fazendo para obter componentes que me permitam salvar a Mornigstar são facilmente encontrados. Mas será este planeta realmente desprovido de vida? Ou de vida consciente pelo menos? Já sinto o oxigénio nos tanques a rarefazer-se. O tempo urge.

Ainda que esta história seja curta, a sua honestidade e potencial qualidade dizem-me que ela merece ser contada. Ainda que vítima de cliché, estas poderão ser as duas horas mais avassaladoras das minha vida. E espero que não da minha morte.

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