[ar excessivamente paternalista em modo ON talvez causada pela barba grande que teima em não ser cortada e que começa a relembrar o tempo do PREC]
Houve um tempo em que os jogos de computador davam os primeiros passos no 3D. Os nossos olhos pouco habituados à tecnologia achavam tudo aquilo um máximo: não só estava em linha de evolução gráfica com esse verdadeiro colosso do grafismo tridimensional que é o videoclipe do Money for Nothing dos gigantes Dire Straits. Ora se não acreditam basta verem o vídeo que se segue.
Grande parte do contacto que fomos tendo com muitos destes jogos da primeira metade dos anos 1990 eram graças ao que hoje gostamos de apelidar de “Partilha Comunitária Mão-em-Mão” (e por gostamos entenda-se “eu”, desde há mais ou menos dez segundos). O limiar da pirataria era menos do que cinzento, era incolor, invisível, e era frequente tentarmos comprar jogos em algumas lojas ou clubes de vídeo na capital e termos de esperar uns minutos: a nossa cópia estava a ser feita mesmo ali naquele estabelecimento. O que significa que graças ao poder titânico (à época) das disquetes, um jogo que alguém possuía tornava-se num bastião do marxismo: e multiplicava-se equitativamente por todos aqueles que o quisessem. O que significa também que esta primeira geração de jogos tridimensionais correram quase todos os possuidores de computadores, que só anos mais tarde com o advento da internet é que conseguiram conhecer a arte original das capas daqueles jogos. É triste admitir, mas em quase todas as casas portuguesas todos os jogos de computador eram gémeos: disquetes descaracterizadas, apenas com o título escrito a esferográfica.
Apenas um pequeno aviso para os mais novos que nos seguem e que podem estar admirados com a ligeireza com que se fala do panorama da pirataria (?) existente até meados dos anos 1990: encontrar um jogo original à venda era infinitamente mais difícil do que adquirir uma cópia. E usualmente os únicos originais que as lojas possuíam eram apenas vacas parideiras de outras dezenas ou centenas de cópias. E o negócio ia de vento em poupa.
Todos sabemos que o GOG.com tem feito um esforço hercúleo em recuperar parte desses jogos para serem jogáveis nos computadores actuais. E mostraram às restantes empresas que o mercado existe e pode ser rentável. Seguindo este (potencial) filão dourado, muitas empresas, dos quais a Apogee Software é apenas mais uma, decidiram lançar alguns dos seus sucessos no Steam, tais como Rise of the Triad ou Duke Nukem. E se esta decisão de ressuscitar esta primeira “vaga” de jogos retro surtiu algum retorno financeiro, a Apogee acabou por decidir trazer 32 dos seus jogos clássicos em 3D para um conjunto que está neste momento em 27, 74€ no Steam. O que, e seguindo a capacidade aritmética de António Guterres dá mais ou menos, bem, deixem ver, alguns euros por jogo, cerca de, deixa ver…bem…é fazer as contas.
Para muitos de nós poderá ser uma espécie de redenção por todos os jogos que propositada ou inadvertidamente não possuímos de forma “original”. Para outros tantos a possibilidade de porem os óculos da nostalgia e verem o realismo tridimensional que nos espantava. À época achávamos que nada poderia ser mais realista do que o que estávamos a ver. E um dia atiraram-nos com GTA V no PC em Ultra e fizeram-nos olhar para os polígonos de Shadow Warrior e pensar: “meh!”.