Quando sugerimos os jogos indie que seriam uma boa prenda de Natal a baixo custo, encontrámos o jogo da Firefly Studio, o aclamado título de estratégia Stronghold Crusader 2 como um deles. Para além de nos relembrar o gigantesco vício que o primeiro jogo da série constituiu no início da década de 2000 (e as dezenas de horas a que lhe dedicámos num período de declínio do género) e a salutar teimosia do estúdio em lembrar-se dos amantes da estratégia ao trazer de volta o ambiente medieval (dito) realista, é a prova de que todos os jogadores que ganharam cãibras nos anos 1990 com cliques no rato para dirigir pelotões de arqueiros e cavaleiros ainda por aqui andam: mais velhos, com menos tempo mas ainda fiéis ao género mais nativo do PC.
Os DLCs são aquele bicho-papão que associamos directamente ao mercado AAA. Mas existem alguns casos no mercado independente em que algum conteúdo toma mais a forma das saudosas expansões do que dos infames add-ons que são verdadeiras mãos digitais a rapinarem-nos dinheiro directamente da carteira, enquanto observamos impávidos ao arrojo demonstrado. E por falar em dinheiro, penso que o valor de venda deste DLC Stronghold Crusader 2: The Princess and The Pig é mesmo o único problema associado – ainda que o jogo continue a ser um marco do género – 4,99€ poderá ser um pouco demais para as sete missões que adiciona ao modo single player, e os dois novos inimigos introduzidos: a Princesa e o Porco.
Do ponto de vista do desafio, os dois personagens introduzidos são um bom volte-face às estratégias adoptadas no jogo base. A Princesa, habituada ao berço de ouro em que nada lhe faltou, tenta subjugar militarmente os seus adversários através da força dos números. Provavelmente com a ajuda da fortuna do papá, a Princesa consegue adquirir muito rapidamente uma série de exércitos no início do jogo, e apesar das suas unidades não serem muito fortes ela acaba por ser a rainha da pressa e dos ataques precoces. Habituada a que o dinheiro fale por si, e ambientada ao poder que sempre a rodeou, a sua prepotência é também a sua fragilidade. Na prática uma menina mimada que sente validação no seu séquito, que lhe confere uma espécie de omnipotência, mas que sozinha cai facilmente com um par de estalos bem dados, daqueles capazes de exorcizar o mimo mais entranhado. O Porco, pelo seu lado, não poderia ter uma história mais díspar. Abusado pelo seu pai em criança, fugiu para a companhia de um grupo de bandidos e ao longo dos anos foi criando uma identidade aterrorizadora que se coadunava com a sua obesidade mórbida. O verdadeiro bully que nos cerca as fortificações com um punhado de “grunhos” cuja força bruta é suficiente para nos causar alguma aflição.
Stronghold passa-se na era medieval mas traz-nos um leque de personagens tão contemporâneos e no caso português esta é uma realidade extremamente próxima. Princesas e Porcos é o que infelizmente parece não nos faltar. E que em 2015 apresentam uma postura tão bárbara quanto a do tempo das Cruzadas. Só os anos passam. O resto fica igual.