A intenção deste artigo passaria por vos falar de Borderlands: The Handsome Collection, que junta Borderlands 2 e Borderlands: The Pre-Sequel com todos os DLCs de ambos os jogos pelo preço de um só jogo. Poderia falar desta edição tão especial que foi lançada para PlayStation 4 e Xbox One, mas tive uma espécie de “burnout recreativo” à custa do Pre-Sequel ainda na versão da geração anterior. Este último da série exibiu apenas os mesmos passos de dança do Borderlands 2, numa outra pista com menor gravidade e a contar o desenvolvimento da psicopatia de Handsome Jack.

É no entanto uma das melhores aquisições para quem nunca teve a oportunidade de jogar esta que é uma das melhores séries de sempre do género FPS, pelo preço de um só jogo que compila todo o conteúdo disponível até hoje. Mas porque não incluíram o primeiro jogo da série, podem perguntar. Penso que contrataram os Homem de Negro para apagar essa memória. Do “burnout recreativo” que também se pode denominar “fartanço”, acabou por despoletar outros “fartanços” dos últimos tempos. Ora, cá vai:

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Fartei-me de violência, do bullying, de jovens ainda com sarna na testa a travar mal os cigarros, de polícias que consideram uma confrontação verbal envolvendo propavelmente um perdigoto como sendo uma cuspidela. Fartei-me do lixo que os meus olhos percorrem todos os dias logo no início da manhã, dos posts sobre The Witcher 3 com opiniões precoces, dos comentários de repulsa colectiva sobre o Kotaku. Fartei-me das promoções da Media Markt, das facilidades de pagamento da Sony, dos posts promovidos no facebook que duram dois meses inteiros. Fartei-me dos anúncios das season pass por €40 sem saber com o que contar, dos DLCs que oferecem só duas skins diferentes, dos patches para resolver problemas derivados de lançamentos prematuros.

Fico empanturrado com isso tudo.

Fartei-me dos governantes desta vida e desta terra, dos malandros que nos querem fazer acreditar que tudo está melhor e em crescimento, das proezas dos bancos e das empresas que usaram uma seringa para uma punção aspirativa da economia. Fartei-me dos Senhores de colarinho branco que estouraram milhões, dos deputados que pactuam com o bater de palmas em plena assembleia, das leis da cópia privada ineficazes e que só servem o interesse de alguns. Fartei-me das greves do Metro e de ficar enlatado nos autocarros da Carris, do congelamento das pensões e dos salários, do emagrecimento do estado sem diminuir as bolas de pança que o mesmo estado sustenta. Farto do PSD/PS, PS/PSD, PSD/PS, PS/PSD desde que era catraio, por nunca me darem nada além de umas bandeirinhas e um avental de cozinha.

Estou enfartado deles todos.

Fartei-me de continuar a jogar o viciante Destiny, da lenta progressão que consome fins-de-semana a fio, da repetição dos strikes com a voz de Lance Reddick que tanto respeitei na série The Wire. Fartei-me de Dragon Age: Inquisition por não permitir fazer amor com a Leliana, pela esterilidade emocional da Cassandra e pela obsessão até conseguir o troféu prateado. Fartei-me de Borderlands a partir do Pre-Sequel e ainda mais com a sua Handsome Collection, do por-qué-no-te-callas Claptrap que como se não bastasse ainda se tornou numa personagem jogável, da quantidade de armas ao pontapé e estalada que não se quer largar e que o inventário não consegue suportar. Fartei-me da longevidade destes jogos quando há tantos outros para jogar, das inúmeras horas passadas com o loot que nunca mais acaba, da exploração com a tentativa de ultrapassar os limites do mapa como uma mosca presa dentro de casa que insiste em sair através do vidro.

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Ou um gato a querer entrar através do vidro

 

Fartei-me da guerra das consolas, do downgrade, do Master Race, dos 1080p, dos frames por segundo. Fartei-me do Hype, das pré-reservas para aceder à beta, das pré-reservas com oferta de arma única, das pré-reservas em geral. Fartei-me de esperar pelo anúncio do próximo jogo da série Fallout, da suavidade do olhar e das palavras de Todd Howard para confirmar a existência do jogo sem precisamente confirmar, do lapso na produção de um trailer cinemático que parece mais um de tantos rumores que visa a amplificação do pré-Hype-Half-Life-3-Type. Fartei-me dos rumores, das tentativas de rumores, dos rumores de propaganda, do rumeur feminino e masculino sobre a dimensão de algumas coisas.

Fartei-me dos pedidos de facebook para jogar Candy Crush Saga, Candy Crush Soda Saga, Farm Heroes Saga, Saga, King, Sega, Cegam-me. Fartei-me do novo acordo ortográfico, da obrigatoriedade de uso imposta com um ónus da prova invertido para uma sociedade que não o quer usar, da tentativa de simplificar complicando ainda mais. Farto dos jornais online que nos fazem mudar de página só para ler mais duas linhas de texto da mesma notícia. Fartei-me da Hello Kitty, dos balões com a gata, das meias com a gata, dos estojos, canetas e principalmente das cuecas. Não, não é sensual.

Mas como diria aqui a Alexa Ramires: “fuck it – lets have a beer”.