A ideia do tempo psicológico tem algumas coisas surpreendentes: quando olhamos para trás e percebemos que o último Space Quest foi publicado há vinte anos, há uma parte de nós que se sente velha, esgotada e acima de tudo triste, pelas saudades de Roger Wilco, o protagonista da série. Falar agora em Technobabylon, criado pela Wadjet Eye Games de Dave Gilbert poderá criar uma série de preconceitos injustificados. Technobabylon não quer ser Space Quest, nem sequer se aproxima dele, mas num género repleto de experiência contemporâneas e outras ligadas ao passado, tem faltado ao mercado das aventuras uma boa interpretação da ficção científica. Felizmente para nós, Technobabylon é-o.
Com uma exímia direcção artística, o seu visual retro bidimensional acompanhado de uma escrita inteligente e de qualidade, demarcada, no topo de tudo, com uma excelente sonoplastia, e temos uma das melhores aventuras gráficas sci-fi desde há muitos anos. Technobabylon consegue ir mais longe do que a tentativa-erro habitual do género, como forma de resolver puzzles: para além dos personagens terem capacidade diferentes (uma dela consegue aceder à “Matrix” (piscar de olhos a fãs de Shadowrun), e outro conseguir rearranjar a mente de sintozóides), o jogo vai-nos apresentando escolhas que terão impacto ao longo da própria história.
Num futuro distópico (?) em que a necessidade de interacção humana é totalmente substituída pelo vício em Trance, um assassino está a conseguir penentrar na mente de outros humanos, roubar-lhes todo o conhecimento e matá-los. Cabe-nos a nós, e aos protagonistas que controlamos, conseguirmos desvendar este caso típico do Criminal Minds v.2087. Quando tantas dezenas de livros de sci-fi já vêm alertar-nos para esta dessensibilização sintomática do mundo contemporâneo, em que a tecnologia e as redes sociais vêm lentamente substituir a vivência do dia-a-dia, humana e táctil, e são também agora os videojogos a fazer-nos entrar neste mundo ficcional. Que pelo andar da carruagem poderá não ser assim tão imaginado. Poderá até estar aí ao virar da esquina.
Depois do sucesso da série Blackwell e de Primordia, é a vez deste Technobabylon continuar o bom caminho trilhado no género pelos jogos pertencentes ao mesmo catálogo. Se o jogo é obrigatório para fãs de sci-fi e aventura? É claro, mas depois de verem o trailer pensávamos que até já o estavam a jogar…