Este título amaldiçoou-me logo à sua nascença. Se o meu cérebro queria homenagear a revista de BD portuguesa publicada até 1987, já a minha memória atraiçoou-me e colocou em modo repeat (daquelas vezes em que ficamos com uma música a martelar-nos a cabeça sem desaparecer) a música com o mesmo nome interpretada pelos BAN. Ter o João Loureiro a povoar-nos o pensamento é algo que ninguém quer, eu incluído. Apesar de ter quase a certeza que gosto de BAN. Ou tolero. Não, acho que gosto mais ou menos. Mas viemos falar de outra coisa não é? Ah sim, jogos indies de aventura.

Depois de um parágrafo sobre os BAN (e tumba, lembrei-me do João Loureiro outra vez) resta-me explicar o que é que vem a ser isto da caçada semanal? O Rubber costuma receber diversos jogos indie semanalmente, de diversos estúdios, maiores ou mais pequenos, mas que reconhecem no cacarejo da Galinha uma voz que conhece e que ama os indies. Se dúvidas haviam, de quem ama mais os indies, se a Sony ou a Microsoft, a resposta é rápida: é o Rubber Chicken. Posto isto, esta primeira caçada semanal vai debruçar-se sobre jogos de aventura(s gráficas). Como boas galinhas caçadoras-recolectoras que somos, caçamos assim algumas das novidades que o mercado indie nos reserva esta semana. E que poderão, ou não, ser boas descobertas de bons repastos. Ou então comida estragada.

O Norte não esquece

Depois da Nordic Games ter adquirido alguma propriedades intelectuais da THQ, adquiriu (entre outras) as séries de aventuras desenvolvidas pela defunta House of Tales. E depois de falar da Nordic Games tenho uma série de piadas fáceis relacionadas com a obra de George R. R. Martin para dizer mas acho que o vou evitar. Ou então os parágrafos que se seguem vão estar pejados de referências a Song of Ice and Fire.

Regressados do limbo do oblívio, qual Lady Stoneheart que se levanta do véu da morte para vingar a sua família, também a Nordic Games tem vindo a lançar as PIs que adquiriu à House of Tales. Acredito que parte desta decisão de aquisição destes jogos de prende com o facto de que a Nordic é sem dúvida uma das companhias do lado de cá da Muralha que maior esforço têm feito para manter as aventuras vivas, apesar dos ataques do exércitos de FPS vindos das Ilhas de Ferro.

Temos então quatro aventuras da House of Tales que estão a milhas dos jogos feitos pela própria Nordic  em especial The Book of Unwritten Tales 2 que é o meu benchmark actual para o próprio género, mas que vão respondendo apenas aos mais aficionados dos puzzles. Para os restantes jogadores…apenas se tiverem alguma curiosidade, e se os apanharem em saldos. É que nenhum dos quatro que se seguem foram sequer remastered, são mesmo relançamentos no Steam de quatro aventuras que vão do mediano ou menos bom. Mas como no Rubber falamos de tudo, e na Patrulha recebem tudo: desde os mais valorosos exemplos de humanidade ao mais reles rato da sarjeta, há-que aceitar todos de braços abertos. E lembrar que o Norte não esquece.

O primeiro dos jogos foi lançado em 2001, e dá pelo nome de The Mystery of the Druids. Tendo sido o primeiro do género a ser desenvolvido pelo estúdio, acabou por demonstrar o fulgor dos primeiros jogos mas também a ingenuidade da inexperiência. Num tom mais sério, a lembrar Gabriel Knight (assim como quase todos estes jogos), a aventura gira em torno de assassinatos perpetrados na Escócia, com contornos à la Dan Brown.

O segundo jogo apresentado, The Moment of Silence, é uma aproximação a conceitos orwellianos de 1984, ou, para trazer novamente a conversa para o mundo de AsoIaF, o olhar atento dos sacerdotes de R’hllor, enquanto uns trisnetos do Mulder e da Scully percorrem a Nova Iorque distópica de 2044 a tentar desconstruir a opressão do seu governo. Que é mais ou menos o que os portugueses desse futuro longínquo que é 2015 precisavam igualmente de fazer. Como o fez a Rebelião de Robert, ao depor o Rei Louco. E isto apenas para manter o tema repetidamente em AsoIaF. The Moment of Silence é um jogo cujo foco recai sobre a história e menos sobre os puzzles, que são, invariavelmente pouco-desafiantes. Mais um jogo para comprar num bundle, ou em saldos, mas que ao contrário de outros desta lista poderá ser ligeiramente mais apelativo aos jogadores em geral, e não apenas aos aficionados das aventuras.

O terceiro, e possivelmente melhor título desta tetralogia de jogos que não vieram do frio, mas que agora moram no frio, é Overclocked: A History of Violence. Overlocked é muito mais história interactiva do que aventura clássica com puzzles, e é muito mais Heavy Rain (comparação hiper-exagerada, tão exagerada que possivelmente até o Ramsey Snow (apenas lhe reconheço a bastardia) me há-de querer esfolar por isto) do que Broken Sword. Neste jogo vivemos o papel de seis personagens diferentes, num thriller psicológico e psiquiátrico (a história passa-se na ala de saúde mental de um hospital forense) durante uma tempestade. De repente lembrei-me de A Nightmare on Elm Street 3: The Dream Warriors de Chuck Russel, mas vou já esquecer porque o Freddy nunca foi a Westeros. E qualquer referência fora da AsoIaF será banida deste artigo.

Menos o João Loureiro.

[Bolas, tenho O Mundo de Aventuras na cabeça outra vez]

Overclocked: a History of Violence é uma boa aquisição pela boa história interactiva que apresenta e os múltiplos pontos de vista. Pagaram ceca de 60€ pelo The Order e sentem-se frustrados? Por um pouco menos podem comprar outra história interactiva, com gráficos ligeiramente (ênfase no advérbio) mas com um enredo superior. Mas jogado no PC é claro.

O último jogo, 15 Days, relata a vida de três ladrões de arte, e nenhum deles é baseado em Varys ou sequer foi castrado. Este jogo leva o conceito de história interactiva testada em Overclocked um pouco mais além. E leva-o tão além que quase o despe de jogabilidade, remetendo a nossa acção à mera procura de itens pelo cenário e ligá-los a outros, resolvendo os puzzles mais enfadonhos de sempre. Não sei se 15 Days foi o canto do cisne da House of Tales, o que poderá transparecer a falta de vontade e paixão de outros jogos. Uma má aventura gráfica e possivelmente o pior dos quatro. Parece-me que os seus criadores já estavam completamente desiludidos com o game development ou os problemas eram um turbilhão nas suas vidas. Seja como for parece que teve a mão de Jon Snow. E como sabem ele não sabe nada.