Toda a gente teve um peluche que lhe fez companhia ao dormir. Uns abandonaram-no mais cedo, outros mais tarde, mas não acredito que exista alguém que não tenha tido o conforto único que um peluche pode dar na infância: aquele abraço imaginado enquanto nos aconchegamos na cama, aquele protector destemido que nos olha enquanto dormimos e o amigo inseparável que um dia esquecemos e guardámos no baú. O meu primeiro peluche foi uma almofada do Vitinho, que me acompanhou inclusivamente até ao bloco operatório em duas cirurgias que fiz antes dos meus quatro anos de idade, ano em que troquei por uma tartaruga-ninja castanha de peluche, daquelas tiradas nas máquinas com “garra”, e que me acompanhou até tarde. No dia em que me separei dele senti que estava a trair um amigo que sempre me ajudou em tudo o que necessitei. E por muita personificação que aqui esteja a colocar, existia um fundo de verdade: a minha tartaruga-ninja de peluche nunca me colocou questões, nem me criticou. Limitou-se a estar lá até ao dia em que eu deixei de estar.
É difícil não me identificar com Tarrant, a protagonista deste Finding Teddy 2. O seu ursinho de peluche, esse bravo guerreiro que tanta companhia lhe faz foi levado por um monstro no primeiro jogo. Ela foi obrigada a ser guerreira por ele, numa troca de papéis emocionais que só eles conhecem. Mas ao contrário do primeiro jogo o reencontro entre ambos é dado nos primeiros segundos de jogo, e apesar do título não existe aqui uma procura um pelo outro, mas sim uma busca pela aventura em conjunto.
Ao nível mecânico este Finding Teddy 2 é muito mais Zelda II: The Adventure of Link do que é propriamente uma sequela directa de Finding Teddy. A aventura point-click deu lugar a jogo semelhante ao segundo jogo protagonizado por Link, onde a exploração é o tom demarcado. E se homenageiam um jogo com vinte e oito anos porque não aplicar uma velha máxima de então? É que aqui o mapa é inexistente. O que num jogo próximo a Metroid e Zelda II pode ser uma dor de cabeça, mas que nos obrigará aos velhos dotes cartógrafos que passámos anos a desenvolver em folhas de papel quadriculado.
Em Finding Teddy 2 pouco há que nos seja explicado, e só após algumas tentativas e alguma exploração é que nos vamos deparar com o grande centro deste jogo: todos os puzzles são musicais, e nos quais temos de capturar as devidas notas (materializadas em runas) para tocar os trechos melódicos. Houve uma mudança quase diametral de tipo de jogo e mecânicas entre um e outro, mas a qualidade visual e sonora mantem-se no mesmo patamar. E esse patamar é mesmo muito elevado.
Como disse, em Finding Teddy 2 não procuramos o nosso peluche, mas é ele que nos reforça numa aventura repleta de perigos, em mundos mágicos e assustadores. E desde a nossa queda literal no primeiro cenário, qual Alice cuja curiosidade foi sinónimo de fábula, também nós desconhecemos o teor de todo este mundo. Mas não nos preocupamos: o nosso urso de peluche está sempre ao nosso lado. Tal como nos nossos dias de criança, em que o cheiro e a textura do nosso amigo amigo eram toda a força que precisávamos para enfrentar o nosso maior medo ou o nosso pior pesadelo. E agora na idade adulta, tanto jeito dava um amigo assim…