11207373_646434518823309_7165148236065156792_n

22 de Maio de 2015, 18h30
O tema da jam da Miniclip foi anunciado. Os participantes discutem ideias e parcerias nos corredores da universidade. O tema é desafiante; abstrato mas restritivo. Ainda não se materializou nenhuma ideia na minha cabeça, preciso de algum tempo para pensar.

22 de Maio de 2015, 19h30
Estou sentado na relva do parque do Arco do Cego com mais três pessoas, duas das quais conheci hoje. Uma regra de ouro quando se faz brainstorming é que não há ideias estúpidas. As ideias estão a nascer e morrer a um ritmo promissor. A maioria delas não fazem sentido, o que é bom sinal; as melhores nunca fazem.

24 de Outubro de 2014, 19h30
Outra universidade. O tema da Altera Game Jam foi anunciado. Metade dos participantes juntaram-se numa sala e escrevem ideias no quadro, antes de formarem grupos; muitos de nós não se conhecem; temos idades variadas; mas não há inibições desnecessárias, tratamo-nos todos por com um tu-cá-tu-lá natural. A organização não nos sugeriu que fizéssemos isto; partilhar ideias nesse quadro foi o produto de uma intuição coletiva; alguns de nós nunca participaram numa jam; brincamos; contamos piadas; aconteceu porque aconteceu.

24 de Outubro de 2014, 21h00
Fiz equipa com um programador amigo meu de longa data e três miúdos de vinte e poucos anos: um artista 2D e dois sound designers. Nunca trabalhei com sound designers antes; aconteça o que acontecer, aprenderei algo este fim de semana.
Esta é a primeira jam em que o artista 2D participa; quer fazer pixel art. Eu e o meu amigo vamos co-programar o jogo; estou responsável pela parte do game design; é um design arriscado, mas decidimos que o risco valia a pena.

24 de Outubro de 2014, 21h30
Os sound designers estão na rua a gravar sons com microfones.
Após planearmos a produção do jogo, digo ao artista 2D para abandonarmos o pixel art; é demasiado trabalhoso, e o jogo requer muitos assets visuais. Ele diz-me que não, que o jogo só faz sentido na cabeça dele em pixel art.

26 de Outubro de 2014, 15h45
Estamos a implementar uma biblioteca gigantesca de sons que nos foram entregues há um par de horas. Precisaríamos de mais um dia para conseguir usar os ficheiros de som todos. Falta menos de uma hora para a hora de entrega. O artista 2D informa-nos que acabou os visuais do jogo, e entrega-nos a sua parte. Não vamos conseguir acabar a tempo.

26 de Outubro de 2014, 6h30
Não durmo há horas. O avô do meu amigo fazia anos ontem, pelo que ele foi jantar a casa. O código está muito longe de estar acabado. Cheguei a um ponto em que beber mais café não traz quaisquer vantagens. O meu corpo está desgastado. A minha mente está muito pior. Mas não dormirei enquanto as colisões não estiverem pelo menos implementadas.

26 de Outubro de 2014, 7h30
Quero chorar. Estou há quase uma hora a tentar corrigir um erro no código. Não percebo o que é. Só quero chorar. O artista tem estado a desenhar non-stop na mesa ao fundo. Levanto-me; vou apanhar ar.

26 de Outubro de 2014, 7h35
Volto a sentar-me. É agora. Tenho a cara molhada, fui lavá-la à casa de banho. O espelho mostrou-me um fantasma que se parecia comigo. Os meus olhos estão encarnados. É agora. É agora ou nunca. Vou descobrir o erro para poder dormir.

26 de Outubro de 2014, 7h55
Descubro finalmente o problema. Mas não vou dormir já. Não posso; senão esqueço-me do que estava a fazer.

26 de Outubro de 2014, 8h45
Vou dormir. Mandei uma mensagem ao meu amigo a explicar-lhe em que ponto está o projecto.

26 de Outubro de 2014, 10h30
Levanto-me do tapete de ginástica que a universidade cedeu como cama. Volto à sala onde deixei o meu PC. O meu amigo está a programar. As nossas mãos batem uma na outra. Soldados; camaradas de guerra; “achas que acabamos isto a tempo?”; ele não me diz que sim; “vai descansar mais um bocado, eu trato disto”.

26 de Outubro de 2014, 18h30
O nosso projeto está incompleto. Mexe. Tem alguma da arte visual e sonora que foi produzida. A moral do nosso grupo está muito em baixo. Não é o fim do mundo, mas a violência psicológica deste fim de semana intensifica tudo o que estamos a sentir. Pouco me falta para que me escorram lágrimas pela cara.

26 de Outubro de 2014, 18h35
Uma salva de palmas.
Acabámos a nossa apresentação. As palmas que os participantes batem enchem-nos o coração. Eles sabem; eles sabem todos; o nosso jogo não era o único que teve problemas; sabemos todos. Sabemos o que custa; o que verdadeiramente conta; o que é verdadeiramente importante.

Pedi a conta. Vou escrever para o carro.