Mergulhar no mercado dos RTS da Segunda Grande Guerra não é tarefa fácil. Não que a série Blitzkrieg da Nival seja uma novata nestas andanças, mas porque falamos de um nicho, que ainda que não esteja sobrepovoado como outros, tem dois concorrentes de peso: Company of Heroes e Men of War. O que é que terá o terceiro jogo da série Blitzkrieg que o evidencie dos restantes, numa fase que está ainda em Early Access?

Blitzkrieg 3, tal como está, é a verdadeira pescadinha-de-rabo-na-boca das inspirações. E para que não fique já qualquer preconceito em relação ao que vou dizer, tenho já de afirmar: as experiências/influências deste novo jogo da série agradam-me, e muito. Os dois primeiros Blitzkrieg eram RTS clássicos, com todas as mecânicas habituais do género, mas aplicadas a um setting explorado, e muito, pelos FPS. Como disse antes, a Segunda Grande Guerra ganhou então uma abordagem diferente, uma visão estratégica que se tornou “massificada” graças aos jogos desenvolvidos pela Relic. Há quase dez anos que Blitzkrieg não dava sinais da sua graças, e quer queiramos ou não, acabou por perder quota/importância de mercado para as franquias já referidas.

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O que fazer então? Olhar para o mercado dos jogos de estratégia.

Mas para o PC, plataforma onde Blitzkrieg ajudou a criar uma nova abordagem ao género? Não, a outro sítio que é a verdadeira kriptonita dos jogadores de estratégia.

O…mercado mobile? Sim, esse infame e gigantesco mercado onde jogos como Clash of Clans alteraram o conceito de estratégia com mecânicas assimétricas que vivem do investimento financeiro dos seus jogadores para acelerar o tempo de jogo e a aquisição de recursos.

Quer dizer que a Nival vai imitar jogos como Clash of Clans? Vêm aí microtransações? Sim. E não.

Portanto, o RTS que inspirou outros jogos famosos do género, está agora a beber inspiração a um jogo de estratégia mobile (que provavelmente também teve uma leve inspiração em Blitzkrieg) como forma de se distanciar da concorrência? É esta a pescadinha-de-rabio-na-boca? Isso mesmo.

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Tenho de tirar o chapéu à Nival. Aliás, não só lhes tiro o chapéu como faço uma pequena vénia, dobro-me respeitosamente e aproveito para lhes bater algumas palmas. É que indo além da campanha single player típica do género, o grande ponto de marketing de Blitzkrieg 3 é a noção de multijogador assimétrico. O que logo à  partida, nos RTS, nos afasta por completo daquilo que era Blitzkrieg 1 e 2 e aproxima a Clash of Clans. E ainda mais curioso é o modelo funcionar no PC, onde apenas a destreza e o raciocínio dos jogadores funcionam. E é igualmente surpreendente, para mim, que sou e sempre fui um grande crítico de jogos mobile com o mesmo modelo de Clans, que não só condicionam o tempo de jogo do jogador, como alimentam (por razões mais do que óbvias) o reforço exagerado do jogador-pagador versus o jogador-não-pagador.  E estas ferramentas de extorção de dinheiro ao jogador ofuscam por completo algumas mecânicas tácticas que poderão ser uma forma inovadora de abordar o género, especialmente para jogadores que como eu já andam há mais de vinte anos às voltas com os jogos de estratégia.

A assimetria das batalhas multijogador, desprovidas de microtransações e de contadores de energia acabam por ser uma brilhante abordagem. Ao contrário do PVP nos RTS realmente em “tempo real”, em Blitzkrieg 3 temos, à semelhança de Clash of Clans, de conceber tácticas de defesa que impeçam os nossos adversários de nos atacarem e de ficarem com parte dos nossos recursos, ao mesmo tempo que temos de planear forças de ataque, essas sim em tempo real, para conseguir invadir as bases inimigas e destitui-las dos seus recursos. Uma mecânica simples que foi criada para o mercado mobile devido a uma série de constrições de tempo e de necessidade de imputar pagamentos aos jogadores, mas que têm na sua base uma nova e refrescante forma de jogar jogos de estratégia.

https://www.youtube.com/watch?v=fQcG0Wo4tms