23 de Janeiro de 2015, 18h00
O tema da Global Game Jam foi anunciado. Desta vez, vou fazer um jogo sozinho.
23 de Maio de 2015, 23h00
“Como é que está a correr?”. “Muito mal… temos montes de arte feita, mas não temos quase nada pronto a nível da programação”.
24 de Maio de 2015, 01h00
“Como é que vai isso?”. “O código já está bem encaminhado; mas a arte está-me a assustar; aqui entre nós, ela [artista gráfica] desenha muito bem, mas é muito lenta. Não vamos ter os inimigos prontos a tempo. E do teu lado?”.
24 de Janeiro de 2015, 10h30
“Estás a fazer o jogo sozinho?”. “Estou”, respondo; “desta vez quero experimentar assim”. “É arriscado; como é que está a correr?”. “Mais ou menos”. Estou confiante que desta vez vai correr bem.
24 de Janeiro de 2015, 00h30
Vou fazer um jogo sobre relações; sobre problemas de comunicação; sobre memórias difíceis que tenho da minha última ex-namorada.
Dois jogadores; cada um joga à vez. Enquanto que o primeiro joga, o outro está noutra divisão; quando o turno do primeiro acaba, o segundo entra; é a sua vez de jogar; o segundo tenta perceber o que o primeiro fez; o primeiro não lhe explica.
O primeiro jogador recebe uma frase aleatória, como “estou triste” ou “estou alegre”; tenta decorar uma casa, em função dessa frase; escolhe o papel de parede da casa, as cores, o tipo de luz, os tamanho dos candelabros, a forma, a rigidez, a música de fundo; depois recebe outra frase, e faz o mesmo; e depois outra; assim em diante, oito vezes. “Estou triste” e “estou alegre” são frases simples de reconhecer: cores quentes e vibrantes, música agradável, com um ritmo forte, muita luz, ou cores frias e escuras, música melancólica e lenta, pouca luz.
Mas e frases mais complicadas, como “culpo-te pelos nossos problemas”? Como é que duas pessoas comunicam sentimentos complexos sem falarem uma com a outra?
As duas personagens estão na mesma casa, mas não se veem; sempre que não conseguirem comunicar, o teto desce; após um certo número de erros, acabam esmagados na casa onde vivem.
23 de Maio de 2015, 19h00
“Então e o vosso projeto, como é que está a correr?”.
Mostram-me. Vejo pelo menos dez personagens no ecrã, modeladas em 3D, perfeitamente animadas. “Cada personagem tem um papel e personalidades próprios de si, e vão reagir de forma diferente às reações do jogador e umas das outras, o que cria uma espécie de ecossistema imprevisível de interações”. Brilhante. Duas pessoas; só. “Estou com medo que não tenhamos tudo pronto a tempo; falta-nos imenso”.
24 de Maio de 2015, 02h00
“Acho que desta vez conseguimos ter as animações prontas; no último jogo que fizemos usámos cilindros para os corpos dos personagens, lembras-te?”; “lembro-me”, respondi.
23 de Maio de 2015, 02h00
“Conta-me coisas; como é que isso vai?”; “vou desenhar até cair para o lado; só durmo quando acabar esta nave espacial”.
23 de Maio de 2015, 11h00
A mesma pessoa. “Estás com péssimo aspeto”. “Dormi uma hora”. “Como é que ficou essa nave espacial?”. “Ainda não acabei”.
23 de Maio de 2015, 15h00
“Não!”; a mesma pessoa; “não, não, não!”. “O que é que se passou?”. “Desenhei tudo na mesma layer. Que estupidez! Destruí o trabalho todo que fiz”; o desespero na voz crescia. “Isso não guardou um backup?”. “Não! Já foi feito há demasiado tempo atrás”.
23 de Maio de 2015, 17h10
“Alguém me pode ajudar aqui com o Unity?”; “diz”, levanto-me; “não consigo usar o GetComponent para ativar scripts”; “mostra”.
23 de Maio de 2015, 17h15
“Que estranho… também não percebo”; “mostrem”, outra pessoa; “hum; experimenta isto…”.
23 de Maio 2015, 17h30
Três pessoas de três grupos diferentes, de volta de um computador; “já sei; não deves ter usado namespace std”.
25 de Janeiro de 2015, 9h00
“Mostra”; levanto-me; ele senta-se. “Qual é o input?”. Explico que é para usar as setas do teclado; “ok”. Joga. Fixo-me na cara dele; tento decifrar o que correu bem e o que correu mal. O jogo está quase pronto; falta só corrigir um ou outro pormenor.
“O que é que achaste?”. “É diferente… nunca joguei nada assim. E agora vinha outro jogador e tentava adivinhar, certo?”. “Certo. Gostaste?”. “Sim, é interessante”.
26 de Janeiro de 2014, 19h30
A Global Game Jam do ano anterior. Sinto que não tenho conhecimentos suficientes de programação; juntei-me a vários grupos, e acabei por fazer um jogo sozinho, de papel; um jogo de cartas. A assistência olha curiosa para o meu jogo. Não sei se hei de estar orgulhoso ou envergonhado. Sei que tentei, e que fiz algo.
24 de Maio de 2015, 18h45
Fiz o game design do meu jogo; programei-o; tratei da arte e do som sozinho; estou a apresentá-lo. Sinto que estou com visão de túnel, não sei se o meu jogo está bom; não sei se é suficiente; não sei se hei de estar orgulhoso ou envergonhado. Sei que tentei.
25 de Janeiro de 2015, 11h00
O meu jogo não funciona. É o primeiro jogo desta dimensão que programo sozinho. A imagem da minha mão a bater na do meu amigo em Outubro rumina na minha mente; estou sozinho; quis fazer tudo sozinho, e falhei; meti água; não estou lúcido, bebi demasiado café, não dormi o suficiente; não consigo ver o que está mal no código. Não fiz backup. Mostrei-o há bocado e estava a funcionar; o que é que se passou? Isto não pode estar a acontecer.
25 de Janeiro de 2015, 12h30
Não consegui resolver o problema. Pelo contrário; quanto mais escrevo, pior fica. Desta vez, não consigo conter as lágrimas e escorrem-me pela cara e pelo pescoço abaixo.