“Amerigo Bonasera sat in New York Criminal Court Number 3 and waited for justice; vengeance on the men who had so cruelly hurt his daughter, who had tried to dishonor her.
The judge, a formidably heavy-featured man, rolled up the sleeves of his black robe as if to physically chastise the two young men standing before the bench. His face was cold with majestic contempt. But there was something false in all this that Amerigo Bonasera sensed but did not yet understand. (…)”
in The Godfather de Mario Puzo
Estas são as primeiras palavras dessa grande obra literária do século passado que é The Godfather, de Mario Puzo, brilhantemente adaptada ao cinema por Francis Ford Coppola e que retrata, ainda que de forma ficcional, a máfia siciliana nos EUA. E é mesmo a Nona Arte a responsável máxima pela visão altamente romanceada que temos da Cosa Nostra: o crime acaba por ter uma grande capa de glamour que distrai da barbárie e do terror a que a Máfia ensombrou (e assombra) a vida de muita gente. E já que falamos em glamour, é impossível dissociar os anos 1920 desta imagem que temos de boa vivência, ainda que esta imagem também seja altamente recreada na nossa imaginação: os tempos da Lei Seca eram bem menos espirituosos e bem mais quentes do que na nossa imaginação, pela tensão entre o crime organizado e as forças policiais nos EUA. E depois de tantos filmes, interpretações, livros, séries, BDs, e até jogos, o que é que faltava à Era do Jazz e às histórias da máfia siciliana? Zombies. Porque tudo precisa de zombies, até a mais doce das histórias de amor. Que o diga aquela bela bosta obra literária de sucesso de Isaac Marion.
E é neste ambiente rocambolesco de Lei Seca cruzada com apocalipse zombie que encontramos o protagonista de Guns, Gore & Cannoli, Vinnie Cannoli, um “jagunço” da Máfia que desembarca em Thugtown em plena explosão de uma epidemia zombie. Ao bom e velho estilo dos jogos de plataforma e shooter side-scrolling 2D, lá temos de percorrer os diversos níveis da cidade de armas em punho a alvejar tudo o que mexe. Vivo, ou morto-vivo. É que mesmo em pleno apocalipse zombie as diversas famílias mafiosas rivais mantêm a sua guerra aberta: e lá temos nós de eliminar uma série de gangsters como bónus. E o exército. Porque lutar em simultâneo contra mortos-vivos, criminosos sicilianos não é o suficiente: precisamos também de misturar as forças militares num grande pote explosivo de tiros a granel.
Para além do seu tom deliciosamente over-the-top, há algo que nos conquista de imediato: o brilhantismo do desenho e animações que compõem este jogo, que em muito nos remetem para a genialidade da BD franco-belga. Desde o nosso protagonista, passando pelas dezenas de inimigos diferentes e chegando à diversidade de cenários que encontramos, o visual inteiramente desenhado deste Guns, Gore & Cannoli é uma das suas mais valias, e mantém-nos entretidos no caos de disparos e polvilhamento de eventos a decorrer no ecrã.
O jogo não é muito longo, e rapidamente percebemos que se passaram apenas três horas desde que começámos a jogar. E digo-o porque quando o comecei a jogar não consegui parar: entre a diversidade de armas, inimigos e cenários, as mecânicas e controlos perfeitamente afinados e o deslumbramento e a atenção ao detalhe visual mantiveram-me completamente acorrentado até ao último segundo de jogo.
Este é sem dúvida um dos melhores regressos a um género que ainda tem nos dias de hoje o Contra e o Metal Slug como uma das metas de qualidade a atingir. Guns, Gore & Cannoli consegue lá chegar com uma dose de total exagero, mafiosos e zombies. É que para além de ser a receita de sucesso para um videojogo, acredito que há muito mais que se pode explorar deste filão. Tenho até uma ideia de adaptação ao cinema. E o Vinnie será interpretado pelo grande (e anafado) Steven Seagall.
Guns, Gore & Cannoli é um exclusivo PC. Previsto para outras plataformas.