Final Fantasy X foi, lá atrás em 2001, um dos jogos que mais me marcou em toda a minha vida. Tendo sido a minha primeira incursão na série mítica da Square Enix (sim – eu nunca joguei o VII), e provavelmente a minha primeira incursão num RPG (sim – também nunca tinha experimentado  jogar “a sério” este género), Final Fantasy foi uma surpresa e uma aventura na qual me deliciei durante uns bons 2 meses de Verão do ano do “Odisseia no Espaço”. Com uma história única, daquelas que só os estúdios japoneses são capazes de escrever, cheia de nuances religiosas, mensagens subliminares sociais e os inevitáveis conflitos entre pais e filhos, este foi um jogo no qual passei horas a conhecer cada segredo, a desbloquear cada nível secreto, a abrir cada baú escondido.

Final Fantasy X conta a história do mundo de Spira, um mundo que, como o próprio nome indica, vive numa espiral eterna. De tempos a tempos, os acontecimentos repetem-se, como numa espiral em que a forma evolui eternamente para a repetição do mesmo padrão. Spira é invadida e destruída por Sin, o Mal tornado físico. Apenas um Sumonner, alguém com poder de evocar Aeons (uma espécie de Deuses) a pode derrotar e iniciar o período de Calm, a Paz atingida no mundo de Spira. Depois….Sin tornará a aparecer e o ciclo perpétuo da inevitabilidade continuará.

Esta é a história de um jogo que marcou uma época e que marcou o meu percurso enquanto Gamer. Era imersivo, difícil de aprender, com centenas de segredos por descobrir e um mundo para absorver.

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No tempo em que ainda não haviam walkthroughs no Youtube, quem queria conhecer todos os detalhes de uma aventura, contentava-se em adquirir o manual do jogo, geralmente incorporado numa revista de videojogos. Foi isso que eu fiz – comprei a revista apenas para ficar com o manual. Não para saber como jogar, mas apenas para conhecer todos os detalhes.

Lembro-me que comecei o jogo do início pelo menos umas 5 vezes. Tentativa e erro: a melhor forma do nosso cérebro apreender informação nova. Não estava habituada àquele género. O método de subida de níveis da infame “Sphere Grid” era confuso para mim, e sem qualquer referência do género, foi com esforço que consegui dominar aquele sistema e nivelar as minhas personagens como elas deveriam ser niveladas.

Conhecer cada uma das personagens foi a verdadeira magia. Cada personagem que conhecia, sentia que fazia um novo amigo. Vocês já sabem como sou – eu nunca escrevo ou jogo nada com a qual não me envolva emocionalmente. Entrar na pele de Tidus, conhecer Yuna, conhecer Rikku, Wakka, Lulu, Khimari, e aquele que provavelmente é uma das personagens mais “cool” de todos os tempos: Auron, foi como ir conhecendo elos diferentes da mesma corrente. Cada um ocupava o seu lugar. Cada um tinha a sua verdadeira personalidade. Cada um a sua “magia”. Algumas coisas de cada um irritavam-me…..tal como acontece com os amigos. Wakka conseguia ser muito insistente. Titus inseguro e imaturo demais para protagonista. Lulu demasiado séria e autoritária. Khimari demasiado reservado. Rikku era tão entusiasta quanto cansativa. E Yuna… demasiado sensata e obediente. Confesso – Auron nada tinha que me irritasse. Mesmo com as particularidades incómodas, não mudaria nada em cada um deles…tal como acontece com as pessoas que gostamos.

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Vencer os bosses ao longo do jogo, alguns dos mais difíceis que encontrei em anos e anos de Gaming, como Lady Yunalesca, foi uma experiência na qual foi necessário tempo, paciência e principalmente, capacidade de estratégia e aprendizagem….coisas que vão faltando na maioria dos jogos que hoje são lançados. Um combate por turnos, obriga a pensamento antecipado, ao planeamento de cada golpe que vamos usar a seguir, e não a um simples “smash” de botões até ter acabado.

O romance entre Yuna e Tidus prende-nos à história e leva-nos a querer o “final feliz”. A banda sonora é delicada, triste, nostálgica….como todo o tom do jogo.

Apenas a música que toca nas batalhas aleatórias desafia a nossa paciência até ao mais ínfimo terminal nervoso do nosso corpo. Lembram-se? E aquele som final de cada batalha aleatória, quando vemos o nosso espólio da batalha e temos os típicos sons se arcada japonesa? Daqueles momentos em que pensei vezes sem conta: “Senhor dai-me Paciência – se me dais Força, rebento a minha PS2”.

Mesmo com estes pequenos grandes detalhes tão nipónicos que desafiam a paciência do cérebro ocidental, (pelo menos este cérebro em particular), Final Fantasy X foi, altura em que o joguei, um experiência de jogo perfeita e completa.

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Existem experiências que nos marcam para sempre, seja porque razão for. Experiências essas que, às vezes, quando são repetidas, nos trazem o sabor amargo de estragar a lembrança mágica que outrora experimentámos pela primeira vez. Como diz um provérbio chinês: “Nunca voltes a um lugar onde foste feliz”. Talvez para não estragar essa sensação de felicidade – já de si tão difícil de encontrar.

Foi a pensar nisso que peguei neste jogo remasterizado para a PS4 e o pus na consola. Estava com medo de estragar a sensação de magia. Afinal – 14 anos é muito tempo para voltar a um local onde já se foi Feliz. Em 14 anos foram muitos os jogos que experimentei, muitas coisas que aprendi, mudei a minha forma de ver e apreciar os jogos. E, com esta consciência e receio, voltei a pegar em FF-X.

Que bom que eu peguei no jogo! Final Fantasy X está um verdadeiro deleite para os olhos. Uma maravilha que tem que ser apreciada. As cores estão vivas – a espada de Tidus parece sair do ecrã. A remasterização vê-se nos detalhes. A música foi também remasterizada – mais uma actualização para os padrões actuais, mas podemos ouvir a banda sonora original se assim o preferirmos. É engraçado como as coisas são – pensei que não iria nunca mais na vida ouvir aquela música e sons de batalhas aleatórias que tanto me irritaram….mas as Saudades do original eram muitas. Parece que com o tempo, o que nos irrita também nos trás nostalgia.

Existe conteúdo adicional, extras como se querem quando algo é relançado e por isso, mesmo para quem já viveu esta experiência, tanto na PS2 como na PS3, existe sempre algum pequeno detalhe novo para descobrir – mesmo que a descoberta seja simplesmente sentar-se e apreciar-se a arte renovada. Às vezes, a verdadeira descoberta está nos detalhes.

 

Positivo: A verdadeira arte Nunca morre – a beleza, as cores, as texturas, estão em todos os detalhes para poderem ser vistos e apreciados.

Negativo: Estamos mesmo na altura dos Res*. Esta é uma nova geração de consolas, uma geração de futuro, que prende os jogadores ao que já foi no passado.

Vivemos na época dos Res *(remasters, repeat, reboot, remake…uma tema que ficará para outro artigo), mas há algumas repetições que valem a pena porque nos parecem Novas cada vez que lhes tocamos. Final Fantasy X é uma dessas experiências – algo para ser ser experimentado pela primeira vez, e para ser apreciado, como um bom vinho, por aqueles que já amadureceram o suficiente para apreciarem algo em pleno.

PS: Como repararam, nada menciono acerca de FFX-2. Para mim – é um jogo que prefiro pensar que não existiu ….uma das piores sequelas de que me lembro. Joguem se quiserem….mas considerem-se avisados!

Final Fantasy X – X2 HD Remaster é um exclusivo PS4.