Clickbaiting. Esta é provavelmente a maior e pior praga que atinge a web actualmente, fruto da divulgação de informação através das redes sociais. No Rubber Chicken sabemos perfeitamente como direccionar tráfego para o nosso site: através do Facebook e da forma como montamos os nossos títulos. Um post nosso de Facebook na página do Rubber, na comunidade gamer, ou no exponencial máximo que é a página do Observador, direcciona milhares de visionamentos até ao website, muitos mais do que fazem as pesquisas de Google. Mais importante do que a quantidade é no entanto a qualidade. Quem vai directamente das redes sabe normalmente ao que vai. Isso porque o Rubber Chicken tem princípios. Viram o que fizemos lá em cima no título, ou no post que aqui vos trouxe? Essa é a praga que andam a fazer todos os sites sem princípios. Daí que o nosso feed esteja inundado com: “Vê como este surfista quis homenagear o seu amigo de longa data… IMPERDÍVEL!”; “Confere só este trabalho brutal!”; “O Benfica vai contratar um jogador de topo! Nem vais acreditar quem é!”.

Todos estes títulos cheios de pontos de exclamação, emoticons ou, para ir directo ao assunto, com muito azeite, servem apenas para agarrar os leitores e trazê-los ao site (normalmente com uma paywall ou a necessidade de um like partilhado automaticamente para continuar) mas acabam por revelar um conteúdo mediano e nada surpreendente. O que isto anda a provocar é uma descrença nos títulos que fazem com que os leitores desconfiem e deixem de clicar. Então será que o nosso título é apenas clickbait? Nem por isso. A segunda parte serviu apenas para ilustrar este conceito ao qual já iremos regressar; a primeira parte é uma pergunta pertinente.

clickbaiting

Como vimos a web está a mudar para o bem e para o mal. Tornou-se muito mais “vocal” fruto de duas peças chave fundamentais: os comentários dos utilizadores (seja no facebook, no reddit, nas reviews do steam, etc) e o fenómeno dos Youtubers. Os videojogos são dissecados antes, durante e depois até ao mais ínfimo pormenor; os jogadores em vez de lerem reviews assistem aos let’s play dos youtubers para tomar uma decisão de compra; as comunidades tornam os melhores jogadores e os melhores streamers em estrelas mundiais com milhões de seguidores e, muitas vezes, milhões de dólares gerados a partir do seu quarto com apenas uma câmara e uma placa de captura. Goste-se ou não, esta é a realidade. E queixarmo-nos e ignorar só nos vai fazer uma coisa: envelhecer-nos, ultrapassar-nos e, pior que tudo, tornar-nos obsoletos.

drremedy

A Electronic Entertainment Expo, como a conhecíamos, deixa aos poucos de fazer sentido. Uma feira à qual só a indústria, o retalho e os media podem assistir in loco, na qual são reveladas as grandes novidades que vão ser os cavalos de batalha ao longo do ano e que os jogadores vão estar atentos ao que quem está presente escreve, é um conceito de evento condenado à morte. Primeiro, sejamos sinceros, poucos acreditam no que se escreve. Sim, contra mim próprio e contra nós no Rubber Chicken escrevo. É certo que nós gozamos de algum respeito na comunidade mas também é certo que vão sempre acreditar mais na opinião de um reddit do que na nossa.

Segundo, continuemos a ser sinceros, há uma tentativa de show off in loco à qual é preciso um foco muito grande para nos concentrarmos e conseguirmos separar o trigo do joio no meio de tanto foco de luz, subwoofers, e pulseiras que piscam várias cores.

Aos poucos, eventos como a Gamescom e a PAX começam a fazer muito mais sentido. Eventos nos quais a “imprensa” assiste a apresentações e experimenta os jogos longe dos efeitos especiais e em divisórias pré-fabricadas que apenas servem para reunir os computadores, as consolas, os projectores e os criadores dos jogos. Eventos nos quais o show off está destinado aos jogadores, onde se podem divertir, experimentar e celebrar a cultura que são os videojogos. Para além de saírem de lá a executar a habitual pre-order, peça fundamental para a sobrevivência financeira da indústria actual.

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Terceiro, sejamos ainda mais sinceros, muitos jornalistas e youtubers são pagos pelas marcas para irem assistir às feiras. O Rubber Chicken tem uma política que não permite isso e doí-nos muito no corpo e na carteira (Obrigado Fred por estares sem dormir em Los Angeles) mas nós somos os “parvos” da indústria que se está pouco maribando para a nossa iniciativa e esforço e prefere quem apenas for fazer bragging, apregoar a palavra certa, gerar views . O importante deste ponto é: as editoras têm muito dinheiro para levar pessoas pagas a estes eventos. Já aqui voltamos.

Voltemos então ao título (esqueçamos a segunda parte): Será que a Bethesda salvou a E3? É bem capaz de ter dado um grande passo nesse sentido. Quem assistiu à transmissão percebeu que a maior parte das pessoas que enchiam o enorme teatro que é casa da entrega dos óscares eram fãs da editora. Não eram os jornalistas ou os retalhistas a maioria dos presentes mas sim os fãs cheios dos seus gritos, aplausos e devoção. Quantos deles não são também youtubers? Quantos deles não vão encher a web de centenas de vídeos sobre o que viram? Quantos deles não vão rechear a web com comentários e discussões escritas sobre o que foi mostrado e anunciado. A Bethesda não fez um evento exclusivo para uma “elite” e deixou os outros ver através do vídeo. A Bethesda abriu as suas portas.

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A E3 tem de se tornar um evento para os jogadores e não para a indústria falar depois aos jogadores. A E3 tem de abrir a porta ao público. A E3 tem de levar milhares de fãs de todo o mundo aos grandes eventos e apresentações através de concursos (porque, como já vimos, tem dinheiro de sobra para isso). A E3 tem de mostrar as novidades à imprensa longe dos holofotes. A E3 tem de se adaptar aos novos tempos e rechear os seus pavilhões de jogadores munidos de smartphones, GoPros, e outras câmaras de vídeo. Assim como a Nintendo está a fazer com o seu TreeHouse e ao trazer de volta os campeonatos mundiais, todas as editoras presentes na E3 têm de perceber que o paradigma mudou. A Bethesda já o fez. E sim, é capaz de ter salvo a E3.

Quanto à segunda parte do título, e para não nos acusarem apenas de clickbait, nem vais acreditar: Fallout 4 sai já este ano. Mas isso já vocês sabiam. Aliás, vocês souberam ao mesmo tempo que nós.

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