Os rumores são um dos males dos media contemporâneos. Digo “males” enquanto eufemismo para dejectos, fezes ou qualquer outro substantivo menos abonatório sinónimo de uma palavra que na gíria popular rima com “có”. Os rumores são intelectualmente o equivalente jornalístico à Casa dos Segredos: estupidificam, empedernecem, entretêm, sem substância ou fundamento, e acima de tudo enganam. Enganam quem os lê, mas que têm ao mesmo tempo a consciência desse engano, como uma mulher que vê o marido chegar todos os dias a casa depois das 23h apesar de ele ser funcionário numa repartição de Finanças de Marvila. Quem lê rumores e alimenta uma indústria que vai vivendo do vazio, com conteúdo semelhante ao volume quase total de um pacote de Lays, e que tem diariamente milhares de views, cliques e shares graças a estes rumores. Os rumores são parte do podre da indústria mas são, aparentemente, o que grande parte do público quer. Os rumores são a saída fácil, o conteúdo pouco inteligente de quem, à falta de melhor, apresenta o pouco que possui. Numa tentativa algo consensual nesta troca de enganos entre quem-escreve e quem-lê em que a palavra RUMOR escrita antes do título é automaticamente apologética, como quem avisa previamente um interlocutor que lhe vai chamar de “grandessíssima besta”. Mas não há mal aqui, avisámos previamente OFENSA em letras capitulares e ninguém fica ofendido. Assim como se avisa RUMOR antes do que se vai dizer e assim está tudo desculpado: entretêm-se as massas, panem et circenses com fartura, e os media avançam milhares de cliques mais “ricos”. Mas não podemos pedir mais a quem tem pouco ou é pouco. Afinal, quem nasceu para Correio da Manhã nunca poderá almejar a ser The New Yorker.
E com que legitimidade é que falamos disto? Com aquela valência que a internet nos dá, que é simultaneamente muita e inexistente. Mas acima de tudo com a certeza que nestes quase quatro anos de Rubber Chicken publicámos o módico somatório de zero rumores. Temos menos views que outros, é verdade, mas ao fim do dia dormimos descansados, com um gigantesco respeito intelectual e cultural pelos milhares que nos lêem. E numa altura plena de rumores como é a E3, em que toda a gente e mais alguém aproveita para ir sacando umas views adicionais com aquele ou outro rumor sobre Shenmue 3, The Last Guardian ou o próximo Super Mario, que vamos fazer serviço público, e indicar quais os seis melhores sítios onde podem enfiar rumores:
1 – No meio de um trabalho teórico de Faculdade
Não é possível enfiar rumores em todos os trabalhos teóricos da Faculdade, mas se fizerem como muitos colegas meus nos tempos idos da Universidade que intercalaram parágrafos de texto com receitas de pato num trabalho para uma conhecida Professora da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, ainda conseguirão ter sucesso. Essencialmente a tarefa é simples: escrevem uma linha sobre “Cultura Visual” e fazem Ctrl+V de um parágrafo de rumores do vosso media favorito. Simples, rápido e eficaz. E ninguém vai ler.
2 – No livro do Código da Estrada
Quem já terminou a Carta de Condução há uns anos sabe que este livro, para além de se desactualizar, nunca mais será folheado após o exame teórico da Carta. Depois disso é arrumado numa gaveta qualquer sem nunca mais ser lido. Podem aproveitar e colocar lá os vossos rumores favoritos. Mal por mal também não deveriam ser lidos de qualquer forma.
3 – No “Rumorão”
Já dizia o slogan da Sociedade Ponto Verde: “Rumor no chão? Não. No Rumorão”. Rumores são lixo e deverão ser tratados como tal. Mas como temos um forte sentimento ecológico aconselhamos a reciclar os rumores (que são compostos por palavras) para que os seus constituintes possam ser reutilizados por alguém que lhes dê um uso devido.
4 – No bolso daquelas calças que nos ficavam tão bem no Liceu
Nota do autor: imagem não ilustrativa das minhas calças.
A quase maioria das pessoas, especialmente os homens, engordaram imenso quando comparado os seus tenros dezoito aninhos e por exemplo, os trinta. Eu ainda ali tenho umas calças do meu tempo de jovem adulto, gótico, com umas calças pretas número 37. Nunca mais na minha vida vou conseguir caber nelas, mas guardei-as por piada. Todos devem ter uma ou outra peça de roupa que guardaram apenas porque sim. São um bom sítio onde por rumores. Com a melhor das sortes os rumores começam a desfazer-se a encher o forro dos bolsos como um talão de multibanco desfeito.
5 – Numa embalagem de tofú
Digam o que disserem, e depois de umas experiências domésticas recentes, existe uma correlação de paladar entre tofú e uma esponja Scotch Brite nova. Uma esponja Scotch Brite já usada sempre tem mais gosto do que tofú porque pode, hipoteticamente, ter ainda gordura do jantar de ontem entranhada. Uma embalagem de tofú é perfeita, porque em muito é como um rumor: não sabe a nada, tem pouco conteúdo, e só é valorizado pelo condimento que lhe é dado.
6 – Num sítio escuro, onde o Sol não brilha e potencialmente húmido
Não, não estamos a falar desse, mas bem poderia ser. Falamos obviamente do bunker do Presidente da República em Monsanto. Primeiramente porque assim os rumores podem ficar enterrados no subsolo e em segundo porque se os contarem ao Prof. Aníbal ele, com a aparente demência vascular que o aflige, nem terá ideia do que estão a falar.