Numa das E3 mais amenas de que há memória, houve dois momentos em duas conferências distintas que me revoltaram, ofenderam, e que são o sinónimo da forma como o mundo e as grandes companhias olhas muitas vezes para todos nós: como símios enjaulados na Aldeia dos Macacos do Zoo de Lisboa que se alegram ao mínimo amendoim oferecido. Ora, um amendoim é uma coisa boa, e ser-se um primata e receber de mão-beijada um fruto seco tão nutritivo é decerto algo prazeroso.
A TAP foi vendida com um encaixe de apenas 10M€ para o Estado.
Posto esta introdução que se tivesse gorilas à mistura já estaria a evocar a Jane Goodall, há-que esclarecer que retro-compatibilidade não é apenas algo positivo, mas sim algo que NUNCA, mas NUNCA deveria ter sido retirado da equação. E esta mudança de paradigma, especificamente da Microsoft (ainda que seja comum à Sony) em relação ao não-tão-grande-sucesso da Xbox One (o que é uma total surpresa após o lançamento inicial num número limitado de países, perdendo terreno para a sua opositora não é?) prende-se única e exclusivamente com questões económicas. A primeira é financeiro-tecnológica: a aposta em mudar para uma arquitectura criou uma espécie de incompatibilidade entre a Xbox 360 e a sua sucessora. E será que isto era um problema para a Microsoft? É claro que não. Mataram-se dois coelhos com uma só cajadada: utilizam-se componentes mais baratos e quebra-se de vez com a retro-compatibilidade em nome do lucro. É que desengane-se quem cai em romantismos: a cisão total entre gerações de consolas tem em vista apenas o aumento do lucro desse podre generalizado que assola o mercado dos videojogos: os remakes. E já nem estamos na fase de poder avaliar/opinar sobre a existência dos remakes: os números falam por si, e é altamente rentável para as companhias recauchutarem um produto para uma geração posterior, embalá-lo e vendê-lo ao mesmo preço de um jogo totalmente novo. Uma das nossas Galinhas apelidou há um ano isto como a “lilicanecização” dos videojogos, e eu acho que não poderia estar mais certo.
A TAP foi vendida com um encaixe de apenas 10M€ para o Estado. Possui uma frota de 77 aviões, 4 deles são A-340-300.
Anunciar agora a retro-compatibilidade e tomar-nos a todos por parvos, é assumir que somos acríticos e que nos podem enganar facilmente. E provaram que tudo o que disse na frase anterior é verdade e que nos contentamos ao sermos enganados. Que os digam as sucessivas Tutelas com aumentos da TSU, diminuição de taxas de cobertura de IRS e correspondente reembolso, SCUTs e afins. E depois uma pequena alegria deixa o povão feliz, como, sei lá, um campeonato para o Benfica. A Microsoft anunciar esta semana, volvido um ano e meio do lançamento da Xbox One não é um motivo de alegria unicamente. É acima de tudo um desrespeito por todos nós.
A TAP foi vendida com um encaixe de apenas 10M€ para o Estado. Possui uma frota de 77 aviões, 4 deles são A-340-300. Cada A-340-300 custou aproximadamente 164,1M€.
Vejamos o cenário:
Eu roubo um doce a uma criança e deixo-a a chorar. Passado algum tempo percebo que a minha acção foi parva e começo a ter imensa gente à minha volta a apontar-me o dedo. Devolvo o doce à criança.
Devolver o doce à criança não fez da minha acção ser menos abjecta e incorrecta. Demonstrou apenas uma de uma série de possíveis respostas: arrependimento, medo das críticas, enfado, entre outras. Eu não dei o doce à criança, eu devolvi-o. E esse acto foi apenas reacção a um acto perfeitamente “mau” da minha parte.
Nota: o exemplo em cima descrito é meramente exemplificativo. Nunca roubaria um doce de uma criança, até porque no estado geral das coisas já a nossa Tutela o roubou.
A Microsoft anunciar agora que afinal vai ser possível jogar os jogos da 360 na sua nova consola é negativo pelo timing. Esta característica deveria ter sido anunciada antes, aquando da apresentação da consola. Aquela célebre conferência que tanto se assemelhou a assistir ao vivo a um acidente em cadeia na Segunda Circular. Depois deste tempo todo – ainda que se desculpem com questões tecnológicas – é uma desculpa de mau-pagador, é correr atrás do prejuízo, é dar o braço a torcer e atirar amendoins aos macacos. A ganância do lucro retirou-nos a possibilidade de manter os jogos que tínhamos na 360 na Xbox One, mas agora devolvem-nos essa possibilidade como se nada fosse, e nós pegamos na empresa em ombros para que receba a apoteótica ovação que merece. A Microsoft sorri e acena, e a multidão, eufórica, faz a festa. A Microsoft ganhou a E3. E nós perdemos o pouco do auto-respeito que deveríamos ter.
A TAP foi vendida com um encaixe de apenas 10M€ para o Estado. Possui uma frota de 77 aviões, 4 deles são A-340-300. Cada A-340-300 custou aproximadamente 164,1M€. O Jorge Jesus foi para o Sporting, portanto não há problema.
Comments (7)
Ao menos tem a tal retrocompatibilidade ao contrário de outra consola.
Diogo: em tudo na vida “ao menos, reticências” nunca é uma boa forma de avaliar o que quer que seja. ;)
Boas.
Apesar de não concordar com tudo o que foi dito/escrito neste artigo, numa coisa tenho que concordar… A retro-compatibilidade não é uma grande novidade nem uma grande “prenda” para os usuários da consola da Microsoft, simplesmente é devolver algo que, tanto a consola da Microsoft como a da SONY, já possuíram.
Quanto aos “remasters”, simplesmente acho que se deveria arranjar um sistema em que, caso um jogador comprovasse que já tinha comprado o jogo na versão “não-remasterizada”, poderia obter o jogo “remasterizado” com, digamos, 75% de desconto no preço de compra (para manter algum equilíbrio: se não é justo pagar por um jogo que já se tem, também não é justo não pagar por um melhoramento do jogo em questão).
Verdade. Que foi o que a Activision fez com o CoD da época, se bem me lembro, aquando do lançamento da Xbox One e PS4 (se não estou errado): a possibilidade de fazer a “portabilidade” para a nova geração por 10€, ao invés de pagar o jogo por inteiro.
Estou ofendido.
Somos 2! ;)
Eu comprei uma Xbox One. Como é que se atrevem a dizer mal de uma coisa que me custou um salário? Isto é indecente. O que é a TAP?