Lembram-se disto?
E disto, lembram-se?
Disto talvez já não. Já escrevi há uns dias de como sou fã de apresentações imbecis na E3. Ainda me lembro muito bem da primeira stage demo de Project Spark; não fazia sentido nenhum, envolvia todo o tipo de ideias díspares, como modelação de terrenos e personagens, texturização, programação, tudo feito pelos próprios jogadores, e é claro: diversão, montes e montes de diversão. A imaginação era o limite; e nem falo do jogo, falo de quem fez o pitch do mesmo aos seus investidores. Os jogadores podiam criar mundos, jogar neles, e partilhá-los.
Correu muito bem. O IGN até disse que sim.
Apresento-vos, ou re-apresento-vos – visto que a maioria de vocês terá acesso à Internet e não está a ler uma versão impressa disto – Dreams, o Project Spark da Sony. Sim, é para criar e partilhar mundos com um comando de dois analógicos, mas pelos vistos a Media Molecule é mais ambiciosa: nem é preciso programar nem nada, basta modelar, e as animações são feitas a abanar o commando.
Se Project Spark descobriu que a forma mais eficiente de programar é através de analógicos, Dreams traz-nos a descoberta que a melhor forma de animar objetos tridimensionais, sem rigging, sem nada, é usar o comando como um cocktail shaker.
Acreditem em mim, estou ansiosíssimo para que este jogo saia.
Mas vocês nem sabem a missa a metade. Considerem o seguinte:
Isto é a imagem de um pénis na Wii U, desenhado através do sistema do MiiVerse. Lembram-se disso também? Tiveram que instalar um “sistema anti-pénis” na plataforma (Nintendo) e mesmo assim ainda escapam bastantes.
Imaginem que dou uma caneta alguém, que lhe digo “desenha qualquer coisa”; uma em cada duas vezes, diz a sabedoria popular, essa coisa será um pénis. Não me perguntem porquê, é assim que o mundo funciona.
O que é que há de errado no trailer de Dreams, para além de um urso a tocar piano num jogo em que nem deve dar para importar som? O estilo gráfico. Lembra Fable. É um estilo meio crescido, meio infantil, que quer agradar às crianças.
Ansiosíssimo.
Se resultar do lado técnico – que não acho possível, mas ainda assim – o jogo vai ser uma catástrofe à mesma. Por outro lado, mesmo sendo uma catástrofe, ainda nesse cenário hipotético, seria uma obra de arte genial; porque os sonhos e o subconsciente em geral são um território ligado ao sexo, e a tudo o que é remotamente sexual, para nem falar de traumas e de ideias macabras. “Deixai vir a mim as criancinhas”, berra Dreams, novo messias dos videojogos. Este acidente infeliz, criado e financiado por pessoas inconscientes ou loucas, ou ambos, talvez acabe por se tornar numa das obras de arte mais importantes do nosso século; quem sabe. Ou não.
Já que consegui que este artigo fosse publicado, aproveito; mais uma.
Comments (6)
Dizer “à cabeça” que este “jogo” vai ser um fracasso parece-me completamente despropositado. A Media Molecule, apesar de ser um estúdio que parece que faz muito o que lhe vai na gana, sabe bastante bem o que está a fazer. E a ideia para este jogo não é algo que surgiu da noite para o dia.
Basta abrir a comunidade de Little Big Planet e há inúmeras “shorts” realizadas pela comunidade com as ferramentas disponibilizadas nesse jogo. E arriscaria dizer que são até os níveis mais “gostados” da comunidade. Também há NSFW stuff, mas essa não dura muito tempo. Don’t ask me why, mas acredito que tenha a ver com “auto-filtragem demográfica” e uma visão atenta da MM à sua comunidade, pois de todas as muitas centenas de horas de LBP que joguei, apenas 1 vez me deparei com pénis voadores propulsionados a jato. Queiras ou não, comparar uma tool fornecida num full price game (Little Big Planet como benchmark do Dreams) a uma feature de uma consola (como Wii U) não é uma comparação justa nem que faça sentido.
O facto de eu achar que este “jogo” é um erro prende-se com o grau de liberdade de criação que divulgaram, ou seja: por aquilo que foi apresentado, apenas será possível fazer *entre muitas aspas* “filmes” *entre muitas aspas*. Munir este jogo de ferramentas mais “adultas” para fazer jogos e não só “filmes” poderia ser uma boa twist para quem já anda farto das ferramentas de LBP. Still… não sei. Já confiei bem mais na Media Molecule tbh.
“O facto de eu achar que este jogo é um erro prende-se com o grau de liberdade de criação que divulgaram, ou seja: por aquilo que foi apresentado, apenas será possível fazer *entre muitas aspas* “filmes” *entre muitas aspas*.”
Vamos antes por as coisas nestes termos: 1) tu até concordas comigo, porque o que escreveste vai de encontro ao que eu escrevi; é um jogo demasiado aberto/livre não implica que não possas fazer lá nada em termos de jogos, e que só possas fazer filmes, na verdade, (minha opinião) implica que não possas fazer lá nada; 2) o facto de ser a Media Molecule e não outro estúdio não dá ou tira credibilidade à apresentação em si 3) comparar isto a Little Big Planet é o mesmo que comparares legos motorizados (a pilhas) com plasticina; num podes fazer carros, rodas gigantes, coisas desse género, e pouco mais; no outro, o facto de te dar liberdade, não quer dizer que não possas fazer mais, pelo contrário, nem carros, nem nada; não é possível comprar o input do jogador de um e de outro jogo, se é para se levar a apresentação a sério 4) é para se levar a apresentação a sério? o meu lado “teoria da conspiração” diz-me que a Sony encomendou um trailer para um jogo fictício de uns tipos populares que lhes fizeram uma fortuna na PS3, porque a PS4 não anda a vender, que talvez devessem ter apresentado já isso o ano passado, mas que só deu para mostrar na E3 2015; façam uma coisa qualquer, que apele a um demográfico grande, não pensem muito nos pormenores, não se preocupem se faz sentido; se tivesse acontecido isso, a apresentação que teria resultado tinha sido igual 5) desafio-te a transformares um Sacky Boy num pénis; a formula de sucesso do Little Big Planet não é acidental.
1) A apresentação deles foi completamente virada para, como disseram “everyone can put up different environments”. Puppeteering e animação, não experiências jogáveis.
2) Nunca atribuí validade por ser a Media Molecule, apenas referi que a minha confiança na marca se degradou. Também disse que, a meu ver, eles estão a criar o Dreams devido ao feedback que tiveram com as “curtas” LBP.
Há gente interessada em fazê-las e há gente interessada em vê-las, portanto porque não dar mais ferramentas (e mais desenvolvidas para o respectivo fim) a essas pessoas? Até agora, nem há qualquer tipo de confirmação se isto é realmente um jogo, pode até ser uma app download’ável gratuitamente para quem quer ver e paga para quem quer fazer. É dificil falar disto sem especular, ainda.
3) Não comparei em ponto nenhum LBP e Dreams e fazê-lo seria errado. Apenas transladei o impacto de uma comunidade às ferramentas criativas de LBP para o Dreams.
4) Pá… ok. Sou um bocado “wtv” para planos maléficos.
5) Podes sempre fazer-lhe um mechanical war suit com a forma de falo. Ou se queres que eu seja mesmo técnico, podes criar um pénis telecomandado e centras a câmera nele enquanto o controlas com o sackboy (que se encontra out of sight)! E eu não disse que o sucesso não foi calculado, nem nunca achei isso, portanto não percebi a ultima coisa que disseste.
quem é esta pessoa e porque é que argumenta tão bem?
Bernardo, espera. eu conheço-te. tu trabalhas cá. o que é que estás aqui a fazer nos comentários? (eu tenho desculpa, que começei a beber de manhã).
isto é um desperdício. temos que transformar isto num artigo.
Concordo por completo. Bernardo, isto merecia ser um “second opinion” da opinião do Isaque. Dois pontos de vista válidos que os leitores provavelmente não lerão porque não virão cá mais nenhuma vez.
nem que seja copy & paste, só.