Este artigo não é uma atitude minha de “bufo” ou um pedido de responsabilidade ao Frederico sobre as suas acções em Los Angeles. Confio nele e sei que o que quer que tenha acontecido em LA, ficará no segredo das ruas iluminadas da cidade. Mas acima de revelar segredos da vida nocturna fora-de-portas de uma Galinha, o que o artigo vem falar é daquele que foi para mim o momento “O que é isto?” da E3, o acontecimento WTF, os minutos de puro Fear and Loathing in Las Vegas e o happening “Gira aí a cena, sócio” de todo o certame. Falo é claro de Dreams, anunciado pela Sony e em produção pela Media Molecule.

O Isaque já deu o seu ponto de vista sobre o jogo (?), mas o que me traz cá é mesmo uma compulsão em adicionar parêntesis e um ponto de interrogação sempre que chamar jogo (?) a Dreams. Um jogo (?) que parece cumprir os quase cem anos do Manifesto Surrealista e que é a tradução das palavras e definições estético-artísticas de André Breton e do seu grupo. Fiquei surpreendido com o ambiente onírico e o fio condutor non sequitur do trailer, o que é mais ou menos o mesmo que dizer que me apraz ver o L’etóile de Mer do Man Ray. Enfim, Dreams é a tradução em videojogo (?) da explicação contraditória entre a realidade e os sonhos que os Surrealistas tentaram conceber através do cinema, pintura, teatro, literatura, entre outras manifestações artísticas.

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Mas para lá da minha proximidade conceptual com o Surrealismo, e com aquilo que parece quase uma manifestação tardia do movimento aplicado aos videojogos (?) deixo as questões: será que Dreams é um jogo(?)? Será que Dreams quer ser um jogo (?) ou é apenas uma aplicação, uma ferramenta de animação impressionante que num refúgio onírico se imagina um jogo (?)? Na boa prática da comunidade afecta aos jogos da Media Molecule, será que teremos no futuro belíssimas curtas metragens produzidas dentro do ambiente de Dreams que não tornam este jogo (?) mais jogo (?) por isso mesmo? Neste momento tenho mais perguntas do que respostas, e nem os automatismos trazidos pela sonolência me vão esclarecer.

Fica porém uma última pergunta: o que é que na realidade vimos durante aqueles três minutos da conferência da Sony? É algo reconhecidamente bonito, mas o que é que o separará de um gimmick e o aproximará de um jogo (?)? Ou será que os prados do Surrey têm providenciado a equipa da Media Molecule com o que de melhor a Natureza tem para produzir? É que o que quer que seja parece potente, muito potente. O Salvador Dalí aprovaria. E provaria com certeza.

Nota: este texto não faz muito sentido, mas o saudoso Tristan Tzara e Dreams também não fazem. Nunca experimentei qualquer tipo de estupefaciente (juro que é verdade), mas imagino que parte do efeito deve ser algo entre este Dreams e assitir ao Baby TV após as 22h.