O ar está quente, abafado, e este escudo e espada parecem cada vez mais pesados nas costas. “Talvez ela esteja numa das próximas áreas…” penso eu enquanto ajeito as correias nos ombros e continuo a andar. Alguns Kelbis pastam no campo. “Podia caçar um ou dois, as peles e os chifres dão sempre jeito…” De repente o sol apaga-se temporariamente, uma sombra enorme passa por cima de nós e eu escondo-me atrás duma rocha, ela começa a descer e os Kelbis fogem como podem, mesmo assim ela agarra um. Nem teve hipótese, esmagado debaixo daquela pata, com as garras cravadas no corpo, estava morto antes de se ter apercebido o que se tinha passado.

Eu continuo a observar e esperar, ela arranca bocados de carne, e osso com prazer, com cada puxada ela abre as asas, o vento é impressionante, assim como o seu tamanho, acho que nunca vi uma tão gigantesca. Ela deixa os restos, e começa a afastar-se, está na altura. Saio detrás da rocha e acerto-lhe com uma bola de tinta, ela vira-se e ruge, abre as asas… o Sol volta-se a encobrir e eu estou envolto em sombras como o medo que invade o meu corpo. Quase congelo. Fecho os olhos, respiro fundo e concentro-me.

Ela volta a rugir e mostrar os dentes, enquanto eu prendo o escudo ao braço e aperto a espada na mão, o couro da minha luva range na do punho, ela cospe uma rajada de fogo para cima, tenta intimidar-me, mas eu não saio do sítio. De repente ela investe, cada passada dela faz o chão tremer e ouve-se até não sei onde, finco os pés, dobro os joelhos e inclino-me para frente, quando a cabeça dela bate no meu escudo com um barulho ensurdecedor desvio-a para a esquerda e enrolo o corpo no chão, as garras e asa passam a milímetros, ela trava e gravilha voa pelos ares enquanto se vira agilmente para mim. Levanto-me e fixo os olhos nos dela… os segundos parecem horas… volto a apertar o punho da espada e corro para ela, salto enquanto desta vez as chamas varrem o chão chegando-se a mim.

O lado esquerdo do meu lábio curva-se num sorriso. “Isto vai demorar…”

Rathian

C’mon baby, light my fire!

Esta introdução é um pouco longa mas foi para vos dar uma perspectiva de como funciona a minha mente quando jogo Monster Hunter. E porque quando comecei a ver o vídeo do Horizon: Zero Dawn lançado na E3, pensei que a Sony estava a tentar colmatar a falha deixada pela mudança de plataforma dos MH para a Nintendo há alguns anos. Apesar de não terem muito sucesso na Europa, os MH vendem no Japão como… bem… Pastéis de Belém a turistas japoneses. Portanto uma criação semelhante era a jogada lógica da Sony para cercar esse nicho. Mas depois de todos os vídeos, anúncios, leituras, conversas na e sobre a E3, fui olhar para o vídeo outra vez. E percebi que até pode ter algumas coisas a ver com o MH, mas não são assim tantas.

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Olhem para aquele cenário, é lindo, nem consigo ligar ao dinossauro robótico gigante que está a ocupar metade da imagem.

Pelo que entendi, controlaremos uma personagem já criada e não a “nossa”, e o jogo provavelmente vai ter tanto de exploração de história como de caçada a criaturas gigantes. (E sim, aquilo são monstros mecânicos). Aparentemente algo aconteceu que deu origem a maquinas vivas, é um conceito interessante tendo em conta que os humanos neste mundo voltaram a uma vida menos tecnológica. E usam arcos, flechas e lanças. Como arqueiro encartado, não vos posso dizer o quanto me agrada ver as minhas armas de eleição a invadirem jogos e cinema (apesar de ser numa maneira mais em estilo de fantasia que realismo, mas mesmo assim, é agradável). O prazer de fazer uma flecha voar do nosso arco em direcção ao alvo, aqueles segundos que demora até acertar lá, o nosso coração pára, não respiramos, tudo é silêncio… e depois ouvimos aquele som penetrador. E tudo volta, sons, cheiros, pulsação… Infelizmente nenhum jogo pode fazer isso ainda, mas podem tentar.

Podia passar algum tempo a focar-me nas diferenças que consigo ver entre os MH e o trailer deste jogo, a narração da personagem principal, os cenários bem mais completos derivados de uma plataforma mais potente, a limitação das armas e a velocidade com que a criatura é abatida (eu sei que é um video de apresentação, mas no MH um bicho daquele tamanho era para uns 30 minutos com uma equipa de 4). Mas não o vou fazer, isto é um video de apresentação e qualquer comparação não só seria mera coincidência como puramente saido da minha fértil imaginação.

Horizon: Zero Dawn parece-me ser um Uncharted misturado com Monster Hunter, e tem potencial para ter o melhor dos dois mundos, ou o pior. Até podia dizer que este é dos jogos que mais me entusiasmou na E3, mas prefiro manter as espectativas baixas nele para não me desiludir. Mas para já, não vejo como isso pode acontecer e tenho até 2016 para me mentalizar que vou ter que comprar uma PS4 para isto.