[Este texto não aconteceu. Está a acontecer desta maneira, mas era para ter acontecido de outra. Era para imitar o típico artigo de agregador de “notícias”, promoção descarada, sem conteúdo; lixo.] [O título: “Nintendo Qualquer Coisa Uncharted 5“. O verdadeiro título, escondido: “A Tua Mãe“.]
O Manifesto Da Tua Mãe
[Aconteceu, mas não aconteceu.] No que toca a mim, isto ultimamente por aqui tem sido só manifestos. Peço desculpa, e não em meu nome, mas em nome da equipa do Rubber Chicken, que isto só aparece cá se eles deixarem. Mais um menos um, não vai fazer diferença, e este manifesto até é importante. Vamos pôr ordem cá em casa.
Que título; porquê “A Tua Mãe”? Ainda bem que pergunto. Caros leitores de textos e títulos, e caros (um bocado mais baratos) leitores de títulos, e só de títulos, que não estarão a ler isto, mas os primeiros passarão a palavra aos restantes: isto é simples, quando vocês lêem, sei lá, “Nintendo” no título de um artigo nosso, o artigo pode nem ser sobre a Nintendo, é sobre o que nos apetecer; até podia ser sobre o Papa.
[Escondido nas imagens podia-se ler o outro texto, este. Esta parte que acabaram de ler seria uma imagem. Um screenshot desta página, com estes três parágrafos.] [A legenda seria “Já há screenshots de um jogo que nem está em alpha. Comece a hype”.]
O Papa Francisco qualquer coisa, qualquer coisa, uma coisa qualquer, Uncharted 5. Uncharted 5 e não sei quê coiso, qualquer coisa Nintendo. É verdade.
Para alguns leitores costuma ser difícil compreender esta posição de poder, mas eu, nós, na verdade qualquer pessoa que escreva, escreverei, escreveremos, escreverá o que nos apetecer sobre o que nos apetece; a forma como esse texto será recebido é uma questão de outra natureza, que é irrelevante aqui; pode nunca ser visto pelo público, ou pode nunca ver a luz do dia, e ficar a viver na cabeça do seu pai ou mãe para sempre. No jornalismo por exemplo, os códigos deontológicos funcionam como clínicas de aborto para palavras. É de notar que mesmo nesses casos, no entanto, escrever é sempre um exercício criativo; não há outra forma de escrever sem ser com alma.
[Outra imagem. Legenda: “A sequela da sequela mais esperada do ano será lançada em 2018“.]
Podem ver o trailer aqui.
Podem ler a nossa política editorial aqui. O humor no Rubber é uma faca de dois gumes. O bobo, a meu ver, era o homem mais poderoso da corte; não só podia insultar o Rei impunemente, como podia fazê-lo em frente ao mesmo, como toda a gente se ria. Ninguém leva a mal o que um bobo diz, é um bobo, e é o que os bobos fazem. É uma faca de dois gumes porque a malta não nos trata como jornalistas (nós também não fazemos questão), mas por outro lado isso dá-nos a liberdade de informar e comentar essa informação de forma mais ousada. Acabei de nos comparar a bobos, mas há muitos outros bobos, e muitas variantes; quem é mais bobo, o homem vestido de palhaço que fala da mãe do rei, ou o homem cuja mãe é injuriada e que se cala, impotente, com medo de parecer inseguro? Quem é mais palhaço, quem gosta de ler porcaria, ou quem se queixa de ler porcaria porque não há mais nada para ler, e quando lhe é dada a escolha, lê porcaria à mesma? Porquê as vossas mães? Bobagens. Coisas de bobo. Se os títulos dos meus artigos resumissem o conteúdo dos mesmos, só escreveria títulos. Não é?
[Legenda: “Uncharted 5 consegue atingir 120fps em 1080p“.]
A lista de features qualquer coisa, 30fps, 60fps, 120fps, 1080p, qualquer coisa, 2160p logo é melhor, triple shading, ambient occlusion, SSOE, AOE. Incrível.
[Outra. Um carro, um screenshot que nada tem a ver com isto; a legenda: “Este carro é incrível”.]
[Outro carro; um exemplo:]
Este carro também é incrível.
[Outro exemplo:]
Os marketeers do jogo fizeram leak de screenshots de propósito.
[Depois de “este artigo não é sobre as vossas mães, pois não?”, a legenda: “Os marketeers do jogo fizeram leak de screenshots de propósito”.]
Qualquer coisa e uma coisa qualquer, qualquer coisa, Uncharted 5 jogo do ano?
Os media de jogos são um ecossistema oco de ideias fabricadas, repetidas, propagadas como uma doença, de copy e paste; regra-geral não vão ficar a saber nada aqui, nem em lado nenhum, seja português ou estrangeiro, que não pudessem saber noutro site qualquer. Aqui não há informação nova. Só há novas formas de saberem o que já sabem. Mas se vocês não soubessem já isso não estavam cá a ler isto, nem cá tinham chegado tão abaixo; as nossas análises chegam mais tarde, por vezes muito mais tarde, raramente fazemos coberturas em direto, comentamos acontecimentos com semanas, meses e por vezes anos de atraso, e a nossa comunidade de leitores cresce todos os meses, por mais surpreendente que seja. Não é de notícias em primeira-mão de que vocês cá vêm à procura, é de ar fresco, é de uma opinião diferente daquela que vocês lêem em todo o lado, que vos tenta asfixiar a mente; de correntes de ar que quebram correntes e barreiras fictícias.
[Legenda: “Se foi de propósito, a palavra ‘leak’ aqui nem faz sentido“.]
[No fim, só texto, sem imagem.]
Portanto faço-vos um apelo: parem de escolher o que lêem, parem de ir pelo título, surpreendam-se; confiem em nós; amem, odeiem; escolham quem, não o quê; concordem, discordem; pessoalmente não concordo com metade do que escrevo, e essa metade depende dos dias. Quando virem um texto nosso aqui ou flutuar pelos mares da Internet que fale de algo que não vos interessa, cliquem, abram, porque vos interessa; abram uma vez ou duas, e se vos desiludirmos, se vos estou a mentir, que não estou, não voltem a clicar nunca mais.
Estes bobos tentam; também arriscamos; a hora que se passa a pensar “como é que escrevo sobre visual novels para quem tem apatia pelo género?” podia ser passada em família; escrevemos para toda a gente, e sei que falo por todos quando digo que aqui ninguém acredita em segregação intelectual, em circle jerking, em quem só quer ouvir quem lhe dá razão, e só busca reforçar aquilo que já pensa; acreditamos num publico melhor do que isso, e é para este que escrevemos; acreditamos em vocês.
Acreditem em nós. Arrisquem. Leiam. Não tenham medo.
Estes bobos agradecem.