…e vá, umas três da versão Super Mario Bros.

Somos completamente bombardeados com jogos diariamente. E não o digo apenas como crítico neste contacto privilegiado com quem cria e quem distribui, mas também como jogadores e como consumidores. À medida que este volume aumenta, também a nossa dificuldade em não ceder ao enfado de assumir a priori que nenhum jogo nos vai surpreender. Seria fácil achar que esta falta de pré-disposição ou de crença na surpresa é culpa do mercado, mas na realidade é mesmo nossa, pelo cansaço que esta exposição nos dá. E porque por vezes há jogos que nos levam de rompante como que em atropelo e nos acordam desse torpor auto-infligido. Puzzles & Dragons Z foi um desses para total incredulidade minha.

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Num bundle Linic de 2 em 1, Puzzle & Dragons Z + Super Mario Bros. Edition é vendido como um jogo apesar de na prática possuir dois jogos distintos. Ou um e meio para ser sincero, é que a skin de Super Mario aplicada a Puzzles & Dragons é uma novidade que passa rápido. Especialmente quando comparado com o entusiasmo automático que o lado A do disco nos mostra, relegando a versão do jogo com o canalizador para um mero lado B que apesar de ter algum encanto, é facilmente perceptível o porquê de ficar fora do LP. Por isso resolvemos já a equação: a versão Super Mario é engraçada mas muito menos interessante. Ficamos por aí, resolvidos e viramos a página e saltamos para o jogo “a sério”: Puzzles & Dragons Z.

Já nos chegaram às mãos tantos puzzle RPGs que quase perdemos a conta. Entre jogos para mobile, Steam, NDS, o género parece ser apetecível a ser desenvolvido por game developers e aparentemente ainda mais pelo público que o consome. Não fosse isso e o jogo original da série Puzzles & Dragons não seria um sucesso de downloads no mercado mobile free-to-play, ultrapassado apenas por esse gigante (incompreendido por mim) que é o Candy Crush Saga. Puzzles & Dragons não reinventa um género que já tem exemplos como Puzzle Quest ou Gunspell: o habitual match-3 com cores, em que cada cor corresponde a um elemento, e em que cada elemento tem forças e fraquezas entre si. E se um inimigo tem uma proximidade com o elemento de fogo, juntar peças azuis (de água) serão as mais eficazes e as que mais dano inflingirá. Simples o suficiente para ser fácil de entrar e complexo o suficiente para nos obrigar a largas dezenas de horas de jogo até ser terminado.

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Mas o que é que Puzzles & Dragons Z faz melhor que os restantes puzzle RPGs não fazem e que justifique as oitenta horas de jogo que possuo (tal como indicado no título)? É que consegue ser um melhor puzzle RPG à la Pokémon do que as próprias tentativas que a série da Game Freak criou, como Pokémon Shuffle e Pokémon Link: Battle!, tornando o jogo mais simples de se jogar mas com uma componente de coleccionismo de criaturas que faria a famosa série corar de inveja. Puzzles & Dragons Z tem um enredo que não sendo profundo, complexo e longe do cliché do rapaz e as suas criaturas em missão para salvar o mundo, consegue criar uma série de personagens e diálogos que o afastam da total mediania, e que ajudam a preencher os espaços vazios entre masmorras. Puzzles & Dragons Z não é mais do que uma série de masmorras que culminam em bosses no seu final. O loot em cada combate é aleatório e consiste entre “dinheiro”, ovos de onde nascem as versões rookie dos monstros do jogo, e peças de puzzle – os materiais que permitem a evolução de cada criatura.

E é neste sistema de masmorras e de puro grinding para obter peças para evoluir os nossos dragões e demais monstros é que residem as horas de jogo. É que Puzzles & Dragons Z frequentemente presenteia-nos com lutas de boss que são virtualmente impossíveis de derrotar ao primeiro embate e que nos enviarão derrotados e com as caudas draconianas de regresso à cidade. E lá vamos nós fazer leveling dos nossos monstros e grinding de peças para os evoluir. O coleccionismo típico de Pokémon ajuda-nos nestas tarefas, e disfarçam, ainda que levemente, o único ponto negativo que tenho a apontar a este jogo da GungHo Online Entertainment: a frequência do algoritmo que define quão provável é encontrar uma peça de puzzle e a atribuição de XP por combate deveriam ser aumentadas, porque não existe justificação para o número de horas que o jogo nos obriga a estar apenas a repetir masmorras ad nauseam até ter todas as peças que necessitamos. É que ao contrário dos primeiros jogos que dispunham de um modelo free-to-play, e onde estes algoritmos baixos justificam como manobra de manter os jogadores presos ao jogo, nesta última versão exclusiva da 3DS que custa 29,99€ parece-me desajustado.

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A diversidade de dragões e outros monstros que podemos encontrar é muito grande, e algo que temos de conceder à GungHo Online é que apesar deste jogo seguir o espírito e as tácticas coleccionistas de Pokémon, o design dos personagens e das criaturas acaba por ser mais edgy e muito mais apelativo a uma maior gama de jogadores.

O jogo é realmente longo, não só pela quantidade de masmorras e side quests disponíveis, como pelas centenas de evoluções e criaturas diferentes que existem, “Gotta catch ’em all!” foi o que pensei, mas acabei por parar após ter terminado o jogo, e após longas oitenta horas de total entrega a este mundo. Puzzles & Dragons Z é suficientemente casual para fazermos uma masmorra rápida enquanto bebemos um café, mas simultaneamente essa casualidade consegue obrigar-nos a permanecer por muitas e muitas horas. O preço a que foi vendido parece-me um dos melhores equilíbrios horas de jogo/preço: há muito conteúdo e muitas horas de jogo distribuídas entre os dois jogos do pack. E para além disso este é sem dúvida um dos melhores jogos que a 3DS viu chegar ao seu catálogo este ano. Tão bom que é quase o Hotel California dos Eagles: podemos fazer check out do jogo, mas não conseguimos deixá-lo. Nunca.

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O melhor: a jogabilidade, o preço, a diversidade, desafio, as horas de conteúdo e o visual das criaturas.

O pior: o ritmo é às vezes quebrado por diálogos desnecessários, desequilíbrio e excesso de grinding.

Numa época em que constantemente nos deparamos com a dúvida do nosso investimento versus conteúdo (sim estou a olhar para ti Call of Duty), Puzzles & Dragons Z apresenta-se como uma das propostas mais discretas do catálogo mas que até agora me marcou uma posição muito forte nos lançamentos da consola deste ano. Muitas horas de jogo, apesar de nem sempre muito divertidas, mas que o fazem cumprir algo essencial que alguns videojogos parecem ter perdido: a diversão.

Puzzle & Dragons Z + Super Mario Bros. Edition é um exclusivo 3DS.