Junho de 2015, algures na Internet.
The Controversy-Mongering on Shenmue III’s Kickstarter Is Really Rather Sad
“In the past few days, among the joy for the return of a legend, I’ve seen a few articles (luckily representing a minority of the press) and many comments, calling the campaign problematic, iffy, or even a lie. That kind of controversy-mongering deeply saddens me.
Um fã otimista de Shenmue partilha este artigo.
Um Otimista: De facto, nada é sagrado. “Ai, aquela franchise sobre a qual nobody gave a single f*ck durante década e meia, subitamente é o alvo de uma vasta conspiração monetária com o objectivo de nos tirar o nosso querido dinheiro! Ai, companhias grandes, vocês são tão más!” A Ys Net e o Yu Suzuki têm tido um amor e cuidado enorme na forma como lidam com isto. Mas têm de vir os ambulance chasers à procura de clickbait, a achar que sabem tudo sobre o mercado e como projetos altamente niche funcionam.
“It’s ok to criticize anti-consumer initiatives, and Kickstarter has never been perfect to begin with, but in this case we’re seeing the result of a trend that I find damaging and disingenuous. Many seem to think that nitpicking on everything for the sake of singing against the choir, sets them apart from the “sheep” who fall for the hype, and somewhat makes them appear cooler, less gullible or simply smarter than everyone else.
Um Developer: Existe uma gigantesca diferença entre a cegueira a que a paixão nos tolda e o cuidado que temos de ter com precedentes abertos. Já vi a Sony avançar com um Early Access, e agora a promover uma campanha de Kickstarter durante uma conferência da E3. Só lhes falta não terem dinheiro para pagar a comida e a casa e são um estúdio indie por completo.
UO: A Sony pouco ou nada tem a ver com isto. Ao estares a chamar a isto “um Kickstarter lançado por uma grande companhia”, estás a negar o facto de que foi simplesmente uma feature na E3 da Sony, nada mais. Deram publicidade ao seu Kickstarter que nenhuma equipa pequena pode pagar? Claro, e deu-lhes um avanço tremendo. Mas estavam no seu direito.
UD: Estamos a conversar sobre coisas diferentes. Tu continuas a ver tudo como ataques (infundados) à Ys e eu a ver tudo isto como uma janela de oportunidade para dezenas de sacanices a ser perpetradas pelas companhias ditas “más”. A Ubisoft e a EA devem estar com uns risos maléficos a notar que ninguém leva a mal de ver conferências da E3 com Kickstarters. Abrimos a porta do circo.
Outro Optimista: Acho completamente descabido dizer que foram abertos precedentes com isto. Não é Sega a pedir dinheiro, nem a Sony, nem nenhuma empresa gigante, é a Ys Net. Como é que isto é assim tão diferente de um Mighty Nr. 9 ou de um Bloodstained, só porque tem um pequeno back? E porque é uma franchise de uma ex-empresa grande?
UO: Exato. Só porque a Sega não quis financiar o jogo e o mandou ir financiar para o Kickstarter, não quer dizer automaticamente que seja “DA EVIL COMPANI SET DIS ALL UP“. Não, eles fizeram um deal. “Nós não financiamos, mas se conseguires através de um Kickstarter, cedemos-te os direitos.”
UD: Esperem lá, vocês estão convencidos que o jogo vai ser feito somente com a soma amealhada do Kickstarter?
UO: Não, a Ys Net tem outros investidores também. Não vai começar com zero euros. Mas o que for dado no Kickstarter é a maior parte do investimento, ou uma grande parte dele.
“[…] makes them less gullible or simply smarter than everyone else.
UD: Vocês têm um mínimo de ideia quanto custou fazer os outros Shenmues? Ou quanto custa fazer um jogo destes agora? O valor arrecadado pelo Kickstarter até agora não chega a 10% do que o jogo vai custar a fazer.
OO: Shenmue custou 40 milhões, 70 milhões custaram os dois. Esse dinheiro foi gasto de uma forma absurda do mais danoso que há, incluindo prototipos que depois foram deitados fora e que se começou tudo de novo. Com 10 milhões eles fazem um jogo ainda melhor que os outros com 40 milhões.
UD: Neste momento, com uns 5 milhões, fazem um jogo equivalente com as tecnologias modernas e com uma gestão mais inteligente de recursos.
UD: …
OO: O Ys vai usar o Unreal Engine 4 já agora.
UD: Oh gente da minha terra, claro que vão ter que entrar com dinheiro. O que eles estão a arrecadar no Kickstarter é peanuts.
OO: Até parece que os programadores e designers vão ganhar dinheiro como ganhavam na SEGA. A maior parte das pessoas faz isto por amor – tal como qualquer outro indie dev no Kickstarter. Os gajos do Shovel Knight trabalharam de graça durante meses sem ganhar um tostão.
UD: …
Vou fazer um pequeno intervalo e aproveitar para deixar aqui um par de notas de autor.
Primeira: se a vossa paciência para ler disparates esgotou, peço-vos que façam já scroll down até ao fim, que isto já é suficiente para enquadrar a notícia do First Flight.
Segunda: embora a maioria do texto não tenha sido escrito em primeiro instância por mim, considero que produzi a maior parte do seu conteúdo, e considero-me autor o suficiente para incluir nele notas de autor.
OO: 2 milhões dava para fazer os mínimos porque eles têm investimento por trás.
UD: Isto faz-me rir. Portanto, no fundo, o que estás a dizer é “1 euro dá para fazer o mínimo porque eu tenho um pai que paga o resto”, right?
UO: O Yu Suzuki confirmou que ia voltar a usar assets dos jogos anteriores. Quando é para criar de raiz é outra história, mas agora tendo já um bom arquivo com texturas e tudo...
OO: Sem contar com o facto de que eles têm um engine com assets para usarem, de fácil programação e adaptação.
Outra Pessoa: Oh gente, como é que os assets anteriores podem voltar a ser usados? Os sons convêm quena maioria sejam novos, os modelos nem se fala, as texturas também já não servem, animações muito menos… Só se fizerem um jogo para a Dreamcast.
“Ultimately, it’s really simple: A big publisher might use a Kickstarter campaign to fund one of its more risky projects. It can happen at any time. There’s absolutely no rule on Kickstarter preventing it, nor there should be.
“If said project ended up being successful, it would simply mean that there are enough backers who feel that the project is valid and deserves being funded. It’s their money, and if you live with a (rational or otherwise) hatred of the publisher involved, all you have to do is completely ignore the campaign and spend the money to fund that darling indie project no one knows about, or nothing at all.
“So, Electronic Arts could decide in the future to use Kickstarter for a project of its own. So what?
Aconteceu algo perigoso nesta E3, independentemente da qualidade ou nobreza por detrás de Shenmue III, e acho que artigos como este da Dual Shockers, embora bem-intencionados e com um bom fundo, são uma catástrofe.
Independentemente do que aconteça, torne-se Shenmue III um grande jogo ou não, tenha havido maldade nisto ou não da parte de Ys, sejam 2 milhões suficientes ou não, reciclem assets ou não, seja como for, apostava dinheiro em como não tarda vou ver outro Kickstarter numa E3. Se isto resultar, e resultou, vai tornar-se um hábito.
Eu também sou fã de muitas séries de jogos. Mas o amor cego é complicado. E sim, “nada é sagrado”, sobretudo franchises e empresas. Sempre que vocês põem o vosso afeto pelos vossos jogos favoritos à frente de vocês mesmos, e de nós todos, no fundo, sempre que esse afeto se torna em amor ou mesmo numa adoração irracional, é uma batalha que perdemos numa guerra perpétua. As companhias grandes não são más nem boas, são negócio. E o negócio tem de prevalecer a todo o custo, doa o que doer, a quem doer.
Compreendo os dois lados desta discussão, e não falo da que parafraseei acima, falo na escala global. O direito à religião faz parte dos Direitos Humanos; ninguém vos impede de adorar produtos de entretenimento. Ninguém vos impede de acreditar no Pai Natal. Deixar de ser-se criança não vem com a idade, e é opcional. Kickstarters na E3 não fazem sentido nenhum, e é um desespero saber que há tanta gente não acha o mesmo.
Por mais que vocês insistam que isto não foi abusivo da parte da Sony, tudo bem, admitemos isso por momentos, é uma questão de tempo até se tornar abusivo; é uma questão de tempo até vermos a Ubisoft fazer um Kickstarter de um Far Cry, ou algo assim.
Julho de 2015, algures na Internet:
Sony Launches Crowdfunding Platform For Its Own New Products
Começou.