Estreamos hoje a nossa rubrica “Tudo ao Molho” (apesar de homófonas, leia-se como substantivo colectivo “mólho”) em que faremos uma espécie de cadavre-exquis da equipa do Rubber Chicken, em que cada um colabora com um parágrafo subjacente a um tema comum. Para abrir a rubrica lançámos o tema internamente:
Qual o pior boss que já enfrentaram?
Todos já sofremos com bosses que nos fizeram chorar de desespero. Os parágrafos seguintes são as experiências mais negras do staff do Rubber Chicken.
Ricardo Correia
Contam-se pelos dedos de várias mãos os bosses que me deram água pela barba na infância, mesmo numa fase em que ainda não tinha barba (que apareceu precocemente aos treze anos). O conceito de Nintendo Hard é muitas vezes referida aqui pela equipa, porque quase todos crescemos como jogadores com a consola de 8 bits da Nintendo (ou demais clones). Foi frequente ter alguns jogos que me duraram meses, e menos frequentes aqueles que possuo e que não terminei. Um deles foi Captain America & The Avengers, para a NES, que apesar de partilhar do mesmo título do jogo de arcadas/Mega Drive/SNES/Game Boy e Game Gear é completamente diferente, tratando-se de um side-scrolling action platformer. Nele só dispúnhamos do velho Capitão e de Hawkeye como personagens jogáveis, e tínhamos um sistema de grind de cristais para “evoluir” o poder dos 2. Num tempo em que não existiam saves, começar a jogar este jogo significava passar uma hora a grindar esses cristais. E depois lá íamos derrotando nível após nível até enfrentar o último boss, o Red Skull. Nunca lá cheguei com muitas vidas ou muitos continues, o que quer dizer que sempre que o enfrentei era o do-or-die. Agora que vejo pessoal a derrotá-lo no Youtube e vejo que parece tão simples, mas após alguns anos de tentativas lá consegui. Sim, eu disse anos. Era assim que funcionavam os jogos: não havia dinheiro para mais. Nota paralela: piores bosses em qualidade e imaginação são todos aqueles em que enfrentamos uma “versão negra” de nós mesmos. Preguiça, preguiça, preguiça.
Frederico Lira
Pela primeira vez na minha vida, dois dias de tentativas quase num pranto, recorri ao Google para saber matar um Boss: o Kayran. Existem Bosses que demoram uma hora a defrontar por terem uma larga barra de vida ou porque é preciso executar vários passos até ao golpe final. Kayran é tudo isso com a agravante de não se saber como matá-lo sem recorrer ao Google. E é apenas o primeiro grande Boss de The Witcher 2, o que levou à desistência de muitos jogadores a meio do jogo. Mas como ainda não chegamos ao ponto da Inteligência artificial ultrapassar a inteligência humana, e porque há quem leve a teimosia ao extremo, aquele gigantesco molusco não impediu muitos outros jogadores de prosseguir na história. Entretanto, a CD Projekt aprendeu uma lição e aplicou em The Witcher 3: menos frustração, menos “inconseguimento” e mais sentido de conquista. Sinto a falta de criaturas gigantescas como Kayran em The Witcher 3, mas SOBs como este é prejudicial para os pacotes cilíndricos de fibras que emanam do cérebro e da medula central.
Miguel Tomar Nogueira
Tenho que colocar todos os de Shadow of the Colussus de parte pois embora não fossem de dificuldade extrema, todos antecipavam o nó que me provocavam na garganta quando chegava o momento do strike final. Mas o boss que mais me perturbou os nervos foi o Monegar no Metroid Prime 3: Corruption da Wii. Embora cedo percebesse a mecânica falhei, e falhei, e falhei. Foi o mais perto que estive de partir um comando no chão. Ah é verdade, e qualquer pessoa que esteja do outro lado no multiplayer. Ao meu lado são todos uns bosses.
João Machado
Se calhar é um lugar comum para quem o jogou, mas teria que dizer o Tyrant no Resident Evil: Code Veronica. No avião. O problema é que quando lá cheguei já quase tinha usado tudo. Munições, First Aid… Consegui com muitas fintas e a perder várias vezes, mas não foi fácil. Quando joguei outras vezes já tinha uma reserva para o enfrentar, só que daquela primeira vez…filho da…
Isaque Sanches
Vou levar isto neste sentido: boss fights tão mal desenhados que me fazem parar de jogar o jogo. Há quem diga que não sou uma pessoa teimosa o suficiente e que desisto com demasiada facilidade. Eu argumento que sou demasiado teimoso, e que desisto por excesso de teimosia. Ao longo do tempo fui encontrando bosses tão maus que acabo por não terminar o jogo. Não são necessariamente difíceis. Costumam ser bosses finais, mas por vezes já aconteceu parar de jogar a meio de uma campanha. Vou fazer algumas menções de jogos em que isso aconteceu (boss final do Dragon Age – não vi o final), e jogos que quase me fizeram parar de jogar (Deus Ex, os 2 Bioshock principais). Mas o exemplo mais dramático para mim é Mind: Path to Talamus, cujo boss final é tão mau que prejudica/desvaloriza a experiência toda anterior. E vou fazer uma não-menção à série Souls, uma vez que a meu a ver a campanha nesses jogos reduz-se a uma série de bosses desenhados para me fazerem perder tempo à toa, e que seria impossível eleger um exemplo.
Johnny Rodrigues
O pior boss que alguma vez enfrentei foi o que encontram no final deste nível:
Era 1997, eu tinha 8 anos e vivia num mundo onde a Internet não era tão ubíqua como o é hoje. Até conseguir descobrir por acidente como vencíamos a porra do centauro-chefe, tornei-me um pro exímio em todas as mecânicas do jogo até àquele boss em particular – fazia speedruns do nível de trás para a frente e jogava literalmente de olhos fechados por já conhecer tão bem os padrões de ataque e locais dos inimigos. Tentei tudo: espadeiradas, power-ups, atacá-lo dentro de água com um raio de trovão, nada. Morria sempre eventualmente por não lhe conseguir dar dano mas ele sim. Demorei cerca de um mês até perceber que tínhamos de lhe saltar para as costas num momento determinado para fazer trigger a um QTE que era a única forma de o aleijar, isto num jogo que nunca tinha feito nada do género até ali e todos os inimigos levavam dano com uma espadeirada na tromba ou com um soco bem carregado. Fuck you and your stupid logic, Hercules!
Alexa Ramires
É muito difícil responder a esta questão…mas como a memória da dor recente é aquela que mais facilmente permanece na nossa mente: Blood Starved Beast – terdceiro boss de Bloodborne. Posso descrever a minha odisseia a tentar matá-lo assim: “Filho dum Conjunto de P…s Sarnentas e com Sifilis que te Mato com as minhas mãos Ó azeiteiro!!!” e quando o matei – isto era eu:
Bernardo Lopo
Como humilde cidadão da videojoguslandia, nomeio Psycho Mantis (Metal Gear Solid) como “O boss“. (Spoiler alert!! Epá… será que preciso de pôr um spoiler alert para um jogo com 17 anos? Bem, sintam-se avisados…) Basicamente, é algo bastante fora da caixa. Para vos convencer que tinha poderes psíquicos, Psycho Mantis dizía-vos os vossos jogos preferidos com base na informação dos dados guardados no memory card da vossa PS1. No entanto, as suas capacidades psíquicas (que faziam com que o jogador perdesse o controlo da personagem) eram limitadas ao primeiro slot da vossa consola, sendo assim necessário mudarem o controlo para a porta dois para retomar o controlo sobre Snake. Juntem mais uns visual tricks, levem 20 minutos ao forno a 200ºC e têm o melhor exemplar de bolo de chocolate de sempre! Perdão… Boss de sempre!
Roberto Gil
Guardo com algum desdém a primeira bossfight do Prince of Persia: Two Thrones. É uma mágoa que teima em não passar por razões simples, mas lá chegaremos. Comprei o jogo talvez em 2008 ou 2009, três ou quatro anos depois de ele ter saído. Vinha numa “revista da especialidade” e eu, como universitário que só muito recentemente tinha começado a jogar, porque era barato e porque o meu pobre portátil provavelmente não dava para mais, resolvi aproveitar. Lá fui jogando sem incidentes de maior até chegar a esta malfadada luta em que o nosso adversário é um bisonte que parecia ter nascido do pouco higiénico cruzamento (engendrado em Mordor ou numa casa de banho de Hogwarts) de uma troll com um dos Imortais do filme 300. Não só era grande como tinha um gosto muito pouco saudável (para o jogador) por cutelos. Adiante… Primeiro erro: devia jogar aquilo com um comando, mas só tinha teclado e rato. Segundo erro: Não tinha traquejo. Por muito que conseguisse duas ou três vezes acertar-lhe ele apanhava-me e matava-me instantaneamente. Horas! Dias! Voltar atrás para ter mais areia na adaga. Lá consegui depois de muita perseverança e uns quantos tutoriais no Youtube. A parte triste é que não é difícil…
Leonel Ferreira
Para quem jogou Persona 3 na PS2 e quis fazer tudo no jogo, teve a dado ponto de enfrentar a Elizabeth e, bem… Se acharam que serem perseguidos pela Death em Tartarus era assustador e não podiam fazer mais que fugir até serem high level para a derrotar, a simpática e sociopática Elizabeth é capaz de derrotar a Death com o seu mindinho. Para a conseguirmos enfrentar temos de já ter terminado o jogo uma vez e recomeçar com um NewGame+, aceitar a quest “Defeat the ultimate opponent” disponível no Velvet Room e subir Monad sozinhos até ao 9º andar, sem party. Podemos ter max level e max stats e mesmo assim ela consegue esfregar o chão com a nossa cara em 2 tempos. Para além de atacar 2 vezes por turno, ter 20000hp (nós temos 999hp no máximo) e conseguir mudar de Persona tal como o personagem principal, ela consegue usar a habilidade Megidolaon que nos dá 9999hp de dano directamente (= instakill) – ah! e ela cura-se totalmente assim que estiver abaixo de metade do hp. A única forma de a derrotar é desligar a consola e viver a vida enfrentá-la uma série de vezes, fazer uma dissertação com estágio integrado para conseguirmos descobrir uma combinação específica de Personas, itens e habilidades que necessitamos para sobreviver – e mesmo assim não temos a garantia de ser bem sucedidos à primeira, ou segunda…
E as vossas quais são? Será que discordam com algumas das nossas escolhas? Contamos também com sugestões de tema para a próxima semana. Deixem os comentários, sugestões, reclamações, pedidos de pizza e encontros às cegas nos sítios do costume. E assim termina o Tudo ao Molho#1. Mic_drop.
Comments (5)
Lembro de um boss no Valkyrie Profile que era quase impossível de se matar por ter demasiado HP para a altura do jogo vi me mesmo bastante a rasca. Também o boss final do Vagrant Story deu me bastante trabalho e só o matei depois de 20 e tal tentativas
Rui, sabes no que é que esta conversa contribuiu? Para me dar uma vontade enorme de voltar a ligar a PS1 e jogar Vagrant Story. Bem me lembro desse boss! Infelizmente o Memory Card já se apagou e vou ter começar do início. ;)
só depois de chegar ao fim do jogo é que percebi como ele funcionava a cena das afinidades nas armas e aos monstros e depois disso o jogo torna-se mais fun. na minha opinião merecia uma sequela.
Merece pelo menos ser rejogado. Ou jogado pela primeira vez, que acredito que muitos jogadores nem o viram na vida.
É normal não vendeu muito por cá, passou despercebido, quem diz esse diz Front Mission 3, Parasite Eve 2…