Tim Burton afirmou em tempos: “As coisas com as quais eu cresci ficam comigo. Começas de uma certa forma e depois passas a vida toda à procura de uma certa simplicidade que em tempo tiveste. É menos mantermo-nos na infância mas mais manter um certo espírito na forma de ver as coisas de maneira diferente.”

Envelhecer tolda-nos a visão. Torna-nos pragmáticos, calculistas, responsáveis e muitas vezes chatos. São as coisas de adultos (como lhes chamamos às crianças) que nos tornam assim. A dúvida se conseguimos pagar o empréstimo do carro; aquele chefe que nos usa a nós e aos colegas para o bem pessoal e não para o bem de todos; a gestão dos horários para enfrentar as filas de trânsito até à escola dos filhos; a falta de tempo para parar um pouco depois de um dia que nos atira para a cama arrasados.

Com a vida adulta perde-se a tal simplicidade que Tim Burton fala e só com muito esforço e com as condições de vida e trabalho certas se consegue manter uma réstia da beleza e soltura que é a nossa imaginação e pensamento infantis.

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Miyamoto tem isso. Nota-se no sorriso, nota-se nas entrevistas e continua a notar-se nas suas criações. Miyamoto tem na Nintendo todo um ambiente protegido que o deixa ser criança. Iwata perdeu isso no momento em que se tornou CEO. Se a vida adulta é uma machadada no nosso eu mais infantil, ser CEO de algo é um Bulldozer que arrasa por completo essa nossa feliz existência. Resultados trimestrais, conferências com os accionistas, despedimentos e reestruturações. O que restava em nós da vontade de brincar desvanece-se e entra num coma profundo do qual só os mais fortes acordam. É por isso que Miyamoto não pode tornar-se o próximo CEO da Nintendo. O que está em risco é a criança, que no caso da Nintendo é o mesmo que dizer: tudo em risco.

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Obrigado Iwata por deixares para trás a criança para tomar as rédeas de uma empresa que tanto nos lembra o que isso era. Obrigado por largares as tuas criações de software e dedicares-te a convencer accionistas sisudos que a DS, a Wii, a 3DS, a WiiU e muitas outras criações eram o movimento certo. Cometeste muitos erros sim, mas não deixaste nunca o selo de qualidade ser rasgado. E, antes da Apple e do iOS, levaste o gaming aos “casuais”. Por isso, também, obrigado. Os casuais não são um problema como os “hardcore gamers” (a.k.a. a master race das virgens ofendidas) são sim um enorme crescimento deste meio que nos faz vibrar, sorrir, imaginar e muitas vezes chorar. Conseguiste chegar a todos os gamers e isso, mesmo numa vida curta, foi um legado de gigantes. Como gigante foste tu quando decidiste adormecer a criança. Só adormecer, porque de vez em quando foi acordando.

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Mais uma vez, obrigado.