Acho que nunca estive tão próximo de receber um processo em tribunal por stalking como nos últimos meses. Desde que Azure Striker Gunvolt foi anunciado no ano passado que envio e-mails regulares para a Nintendo Portugal a pedir informações sobre o jogo. Só que as informações tardavam em chegar, e após o lançamento do jogo nos EUA sem data prevista para a Europa, foi quando decidi por quase tudo em risco e fechar-me na casa-de-banho da empresa e barricar-me lá até que Gunvolt chegasse. Felizmente que tudo isto eram delírios de privação de sono e percebi que estava a ser parvo. Lá foram mais uns e-mails para o Jorge Vieira (o Sr. Jorge da Nintendo) até que a luz chegou, e o anúncio do lançamento europeu era público.

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Mascarar algum fanboyismo é algo que é tão difícil quanto demagógico. A minha descrição de perfil demonstra que sou um devoto do Rockmanismo, essa religião conhecida no Ocidente como Megamanismo e que tem Keiji Inafune como Sumo-Pontífice. Azure Striker Gunvolt não é criado por Keiji Inafune (ainda que este colabore como action-director do jogo) nem tampouco é a sequela não oficial de Mega Man (Mighty nº9) que sairá este ano. Gunvolt, da Inti Creates, é um Mega Man Zero de um universo paralelo, e em diversos momentos senti que estava a jogar um spinoff de um spinoff. E isto, para um idólatra de Mega Man, é um elogio.

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O primeiro momento em que sentimos que não estamos a jogar um Mega Man é ao tentarmos jogar este Gunvolt da mesma forma, como um shooter platformer clássico. Nos primeiros instantes comecei a ficar frustrado a disparar contra os inimigos, estranhamente sem eles levarem qualquer dano. Azure Striker é Mega Man Zero no visual (que é brilhante), na história distópica corporativa (que é muito semelhante à de Zero), aos níveis e inimigos (que têm a mesma estética genial), mas difere na forma de atacar: sempre que disparamos não estamos a danificar os nossos adversários, mas sim a “marcá-los” para ficarem expostos ao verdadeiro poder do protagonista: a projecção de electricidade, uma onda de choque que tanto serve para nos escudar de grande parte dos projécteis inimigos como ataque eléctrico, relembrando os ataques do Pikachu.

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É difícil considerar este AZG apenas como uma mera inspiração em Mega Man Zero, a começar pelo facto de que foi o próprio estúdio que desenvolveu muitos dos últimos jogos dos robots mais famosos da Capcom. Portanto estará a Inti Creates apenas a criar a sua própria franquia baseada em criações suas para outra empresa, ou é apenas um atalho de como continuar a fazer jogos do MM Zero oficiosamente? Qualquer das respostas são legítimas, assim como também é a decisão de Inafune de “trazer” a sua criação mais famosa consigo, após a sua saída da Capcom.

Como cereja no topo do bolo, ou como mirtilo, já que o azul é a cor dominante em Gunvolt, temos também acesso a uma homenagem aos Mega Man 8 bit com uma “versão” game-boy-esque de seu nome Mighty Gunvolt, criando um conjunto que o Lauro Dérmio apelidaria com certeza de “tu áine uane”.

Os deuses da ansiedade estão apaziguados, por ora. Mas sinto-os a efervescer com o lançamento em Setembro do novo jogo de Inafune e também com o anúncio da sequela deste Azure Striker Gunvolt. Eu nem queria…mas…acho que vou ter de religar o modo stalking. Que comece a torrente de e-mails para a Nintendo Portugal.