Olá a todos. Ainda bem que estão cá.

Apresento-vos a nossa nova rubrica: A (Nova) Melhor Entrevista de Sempre. Trata-se de uma rubrica não-regular, que consiste em entrevistar alguém. Não é uma ideia muito má.

Quanto à pessoa entrevistada em si e ao conteúdo da entrevista, não faço promessas. Não há padrão. É sempre uma surpresa. Prometo só que no mínimo será uma entrevista interessante.

O nosso primeiro entrevistado é Nicolau Chaud de Castro Quinta. Nome artístico: “Calunio”. Vive no Brasil, é psicólogo e professor universitário, e é o autor de Polymorphous Perversity. Polymorphous Perversity é um jogo gratuito feito em RPG Maker que esteve na boca do mundo por volta de 2012. É um jogo sobre sexo. É um RPG em que todas os personagens, inclusive o protagonista, estão nus. É um RPG cujo combate são relações sexuais, reduzidas a sistemas de jogo, estruturadas por turnos. É um jogo cuja interface de utilizador é um pénis, que vai crescendo.

Prometi que ia ser interessante.

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Polymorphous Perversity foi certamente a criação mais viral de Chaud, mas não foi o seu primeiro jogo, nem foi o ultimo. Chaud um criador prolífico, e o seu trabalho é caso de estudo fascinante. O tema da sexualidade não é muito recorrente em videojogos, e quando é abordado, é raramente feito de forma madura ou inteligente. Um jogo sobre sexo que não seja pornografia disfarçada, para além de algo raro será também algo intelectualmente ousado. Algo diferente, que quebra barreiras, que tenta ir mais longe.

Entrei em contacto com Chaud há uns dias atrás, e decidi-lhe fazer algumas perguntas, a propósito de nada. Para o vosso entretenimento e edificação cultural, se preferirem. De nada.

Isaque Sanches: Desde já, obrigado pela entrevista, e parabéns pelo seu trabalho. Sou um fã dos seus jogos.

Nicolau Chaud: O prazer é meu.

Isaque Sanches: Falemos um pouco de Polymorphous Perversity. Como encara o jogo hoje?

Nicolau Chaud: Creio ter sido o terceiro jogo de maior popularidade que fiz. Tenho clareza de que é um jogo muito diferente do que aquele que comecei a fazer em 2011. Fico muito satisfeito em ver pessoas interagindo com algo que eu criei. E curioso para saber a reação que terão diante daquelas coisas que saíram da minha cabeça. Hoje enxergo o jogo como um espelho, e nesse sentido é realmente um jogo sobre sexualidade humana.

Isaque Sanches: Como é que se sentiu quando o seu jogo virou viral?

Nicolau Chaud: Achei interessante a diversidade de reações ao jogo. Acredito que não tenha sido bem recebido porque esperavam um jogo erótico e científico. Não esperavam um jogo cheio de mecânicas tradicionais de RPG. E pela impaciência com essas mecânicas, poucas pessoas perseveram em realmente buscar significado no jogo. Mas fico muito feliz em saber que aqueles que realmente buscam, conseguem.

A Internet começou a ouvir falar de Chaud quando a Marvel Entertainment ameaçou-o com um processo, e exigiu que este retirasse Marvel Brother da sua página. Marvel Brother, a sua primeira criação popular, é um RPG em que vários membros dos X-Men unem forças para salvar o mundo. Através de sexo. O nível final é uma orgia. Depois disso, seguiu-se Beautiful Escape: Dungeoneer. Outro jogo que chocou o público, no qual o protagonista rapta e tortura vítimas, fazendo-as deslocar-se por percursos dolorosos e até mortíferos. Finalmente, chegou Polymorphous Perversity, o mais polémico dos três.

Em Polymorphous Perversity o jogador tem relações sexuais com desconhecidos num universo erótico e surreal. O País Das Maravilhas de Alice, mas com pessoas nuas. Os diálogos são oníricos. O chão está cheio de plantas fálicas. No fim, o jogo faz um diagnóstico psicológico a quem jogou.

Isaque Sanches: Porque é que faz os jogos que faz? Qual é a sua motivação?

Nicolau Chaud: Para mim, jogos são uma forma de comunicar com as pessoas. É um exercício de crescimento pessoal – pelos temas que exploro e a forma como os exploro, sempre aprendo muito fazendo um jogo, mesmo antes que alguém jogue.

Isaque Sanches: Entretanto tem continuado a fazer jogos. Algum que se destaque?

Nicolau Chaud: De notável, fiz Suzy And Freedom em 2013, uma aventura que recria um assassinato real que foi popular no Brasil.

Isaque Sanches: E o próximo jogo?

Nicolau Chaud: No momento estou trabalhando em algo que poderia descrever como um crossover de Guitar Hero e Tactics RPG.

Desapareci. Despedi-me de Chaud uns dias depois, enviando-lhe o link para este artigo.

E assim encerro esta edição de A (Nova) Melhor Entrevista de Sempre. Tão bruscamente e a propósito de nada como a comecei. Não percam a próxima edição, na qual falarei com um dev português sobre Heavy Metal. Ainda não escolhi quem.