Após uma pequena pesquisa percebi que o modding de GTA V já respondeu a esta vontade antiga dos jogadores da série: a de jogarem no papel da polícia. Mas não é de GTA V que vamos falar hoje. Ainda que eu tenha uma história curiosa para contar relacionada com estes jogos. Há catorze anos eu, e meio mundo, andávamos completamente viciados em GTA III, esse definitivo marco histórico que permitiu ao mercado dar um salto gigantesco. GTA III permitiu-me dezenas de horas de jogo, tantas, tantas, que aconteceu pela primeira vez na minha vida eu perceber que estava a jogar um jogo demasiadas horas do dia. E porquê? Porque estava eu a ler um livro à espera do autocarro em Lisboa quando vejo passar um carro patrulha da PSP que me leva a tomar uma de três acções:
a) Não fazer nada. Estava apenas à espera do autocarro.
b) Começar a dançar a Macarena na expectativa de que os agentes da PSP me vissem e criássemos ali a primeira flash mob dançável da história.
c) Começar a ter suores frios, e sentir um súbito instinto de fugir dali para fora.
Apesar da resposta b) parecer a mais sensata, foi a c) que me fez chegar à certeza: tenho de jogar menos GTA III. E foi o que acabei por fazer…quando o terminei.
Bem, mas o que nos traz hoje não é GTA III, ainda que eu desejaria que o nível de afinação, e vá, até o nível gráfico dele estivessem presente em Enforcer: Police Crime Action. Quem nos conhece sabe que temos um carinho especial pela Excalibur, a bem-sucedida editora de simuladores que já nos pôs a trabalhar de todas as maneiras e feitios, desde condutores de camiões do lixo, passando por dirigentes de estações dos correios e terminando em motorista de autocarros urbanos. Mas este Enforcer destacava-se no Steam: estaria aqui finalmente o simulador de polícia que sempre quisemos jogar? A resposta simples: NIM.
Enforcer: Police Crime Action parte de uma interessante premissa: a de controlarmos um polícia num ambiente sandbox. Podemos fazer caça à multa nas estradas ao instalar radares e ficar à espera que os patinhos, os aceleras digo, caiam em infracção. Fazer ronda pelas ruas e combater a criminalidade, perseguir ladrões em fuga, interrogar suspeitos, algemar bandidos. Até podemos alvejar pessoas na rua. Eu sei que já tentei. Isto não é Hatred mas podia ser. Podemos facilmente ceder à brutalidade policial, ou já que estamos numa de simuladores encarnar aquele “agente de segurança” que “acalmou” um adepto do Benfica em frente aos filhos à bastonada. A única certeza que temos é que temos um turno diário para cumprir, e a forma como o cumprimos depende exclusivamente de nós, já que temos avaliações diárias. Alvejar pessoas na rua, ou levar suspeitos algemados no carro para o deserto e executá-los é coisa para nos impedir de progredir na carreira. Dizem. Mas o outro senhor na vida real também já era comandante de uma esquadra e era meigo com o bastão. Há aqui uma confluência entre a vida real e o simulador, e neste momento não sei em quem acreditar.
O jogo parece divertido, tem boas ideias, dá-nos a liberdade possível e tem uma vastidão de acções quotidianas para resolver. Então qual é o problema do jogo? É que está muito, muito, muito (já disse muito?) mal-polido e mal-executado. Quando no início falei da minha vontade deste Enforcer estar mais ao nível dos padrões de 2001 de GTA III não estava a brincar. O jogo parece ainda estar em fase Alfa. Enforcer tem aqui potencial para ser um bom simulador de polícia, com todas as acções excitantes (como correr pelas ruas atrás de criminosos), brutais (se decidirmos em andar a fazer tiro ao alvo os pobres cidadãos) e excitantes (como ficar à beira da estrada para passar multas por excesso de velocidade). Falta dar-lhe polimento como quem engraxa as botas cardadas da farda ou que puxa o lustro à arma de serviço.
Uma nota final: fiquei chateado com a falta de customização do nosso personagem. Eu percebo aqui a grande preocupação dos criadores de não cometer um deslize racial, com as ligações da violência policial sobre negros nos EUA, mas o nosso personagem só pode mesmo ser afro-americano. O que me chateia não pelas razões fascistas (nota do autor: ler a palavra com o primeiro A fechado, que é a forma como eu digo actualmente) que possam imaginar. É que eu queria chamar Carey Mahoney ao meu personagem, em homenagem ao Steve Guttenberg e à série de filmes Police Academy, que são de longe as longas-metragens que mais vezes vi na minha vida. Mas não dá, tive que lhe chamar Jones, que era apenas o meu terceiro personagem favorito. Fiquei triste. Resta-nos lembrar esse bar eterno chamado Blue Oyster. Ta-ta-ra-na-na-nan!