Quando me enviaram o jogo Poly Bridge, do estúdio Dry Cactus, um jogo no qual construímos pontes, eu comecei quase instantaneamente a divertir-me de forma tão genuína que tomei uma das piores decisões que podia ter tomado. Não, não estou a falar de escrever uma carta de apoio ao PPD-PSD às próximas eleições legislativas. Estou a falar de partilhar o ecrã com a dezenas de pessoas que quase todas as noite conversam comigo via Skype. E nenhuma delas, nem uma apenas, é engenheira civil. Mas como o todo o bom português, têm opiniões, e sabem perfeitamente como é que as coisas devem ser feitas.

TRabalhar
Apesar de não ser o maior apologista de inserir memes nos meus artigos, os primeiros minutos após a minha infeliz ideia começaram rapidamente a assemelhar-se a esta bela chalaça contra os portugueses. Poly Bridge é um jogo simples conceptualmente: temos de construir pontes que permitam a veículos atravessarem-nos ems egurança. Mas para isso temos condições estrutruais diversas, materiais distintos disponíveis, prever o escoamento do esforço, criar pontes levadiços para que os barcos possam passar por baixo, entre um sem número de coisas que no mundo real são aborrecidas (perdoem-me a honestidade, que é fruto de deformação profissional), mas que no jogo são divertidas. Há muito em Poly Bridge de The World of Goo, em que temos de criar estruturas sólidas com o número de “passos” (materiais) à nossa frente. Vamos repetir estruturas muitas vezes, vamos afundar muitos carros, vamos relembrar a tragédia de Entre-os-Rios algumas vezes, e depois vamos rir com a nossa incapacidade de resolver um problema de Física aparentemente simples.

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Mas como vos dizia, decidi, estupidamente, partilhar o que estava a fazer com toda a gente que estava a conversar comigo. E repentinamente a minha mulher e os meus melhores amigos transformaram-se em mestre de obras, em verdadeiros ‘tugas (detesto o diminutivo), a darem sugestões e opiniões sobre tudo o que eu fazia. “Epah, não coloques esse cabo aí”. “Põe aquela viga do lado direito!”. “Faz um ângulo na estrada, pá!”. E coisas que tais. Percebi finalmente o maravilhamento que milhares de portugueses sentem quando vêem uma obra a ser feita, e sofrem um magnetismo irresistível de ir “mandar bitaites” para junto do estaleiro de construção. Senti-me vilipendidado. Podia ter feito uma licenciatura de Engenharia Civil na Autónoma ao fim-de-semana e não fiz, e ainda por cima sempre dominei Inglês Técnico. Eu não sou engenheiro, as pessoas que estavam comigo em chamada também não, e muita gente que entretanto governou este País também não. Mas isso são outros tantos.

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Poly Bridge é extremamente divertido e muito apelativo com o seu visual low poly. Vamos muitas vezes ceder ao desespero de começar a amontoar peças aleatória na esperança de alguma forma estarmos a construir uma ponte. Vamos rir com os trajectos acrobáticos que teremos de construir, com carros que saltam para o abismo e aterram em balões de ar quente. Sim, dissemos que era um jogo sobre construção de pontes, mas dissemos que tinha de ser aborrecido. Poly Bridge é um jogo descontraído, com uma música relaxante. Aquecer uma boa caneca de chá e resolver os muitos puzzles que existem para resolver. Mas cortem por completo com os amigos enquanto estão a jogar, especialmente se forem portugueses. Existe o risco de passados alguns minutos eles já estarem a mandar piropos.

Poly Bridge é um exclusivo PC/MAC/Linux.