Bem-vindos à Nova Melhor Entrevista De Sempre. Obrigado por terem aparecido mais uma vez.
Encontrei o entrevistado-surpresa desta edição há uns dias, aleatoriamente. Fui a uma palestra sobre videojogos, sem saber ao certo do que se tratava, e ao entrar na sala descobri que o orador era Ivan Barroso. Não me surpreendeu.
Ivan Lopes Barroso está em todo o lado. Há mais gente em Portugal a carregar a bandeira dos videojogos e evangelizá-los para massas, mas ninguém o faz de forma tão destacada como ele. O público português começa a associar os videojogos à sua cara e vice-versa. Está na televisão, nos jornais, nas livrarias, na Internet, a dar aulas, a dar palestras; em todo o lado, sempre.
Perguntei-lhe se lhe podia fazer algumas perguntas, e ele disse que sim. Depois dos cumprimentos e elogios, coloquei-lhe a questão mais importante do nosso século.
Isaque Sanches: Xbox ou Playstation?
Ivan Barroso: Porque não ambas?
Isaque Sanches: Já estava à espera de uma resposta dessas, mas tenho um plano B. Deixa-me reformular: se tivesses que ir para uma ilha deserta e só pudesses trazer uma consola contigo, escolhias qual?
Ivan Barroso: Nesse caso, levaria um daqueles Brickmania com 9999999 jogos em 1. Assim tinha jogos com fartura para me entreter. Ou uma Famiclone, quem sabe.
Isaque Sanches: A primeira coisa que vem à mente quando pensamos em ti é “historiador de videojogos”, mas também já foste game dev. Tens saudades? Ou preferes a perspetiva mais distanciada e analítica?
Ivan Barroso: Trabalhei durante vários anos na indústria, desenvolvendo e como freelancer. Comecei em 2005. Neste momento não o faço porque é uma atividade que consome muito tempo. Durante uns meses ainda tentei conciliar as duas coisas, mas cheguei à conclusão que era impossível. No entanto, sim, tenho algumas saudades.
Isaque Sanches: Era esta a direção que querias dar ao teu percurso, ou foi semi-acidental?
Ivan Barroso: Sempre quis trabalhar na indústria dos videojogos. O grande problema na época era a escassez de informação, além que era quase desconhecido o que se fazia em Portugal. Tive de entrar nesta indústria sozinho, e tentei descortinar como seria possível fazê-lo. Assim que estabeleci uma base de conhecimentos, resolvi a espalhá-la por outros meios, para que outros que viessem a seguir não passem pelas mesmas dificuldades. Esse percurso foi simplesmente uma consequência do meu esforço de comunicação ao longo dos anos.
Isaque Sanches: O que é que falta à dev scene portuguesa?
Ivan Barroso: Acho que é essencial que os sectores da indústria se movam mais em conjunto. Cada um no seu canto não funciona. É preciso ir buscar os produtores de videojogos, aliá-los à comunicação social, agregar instituições académicas, criar relações com e-sports, etc. É preciso que isto tudo seja uma espécie de bola-de-neve cada vez maior, que acelere o desenvolvimento em Portugal.
Isaque Sanches: Por falar nisso, dás aulas no curso de videojogos da ETIC. Há quem diga bastante mal de cursos de videojogos no geral. Aqui entre nós (que ninguém vai ler isto), qual é a tua opinião?
Ivan Barroso: Sou sempre suspeito, mas na minha opinião esse tipo de cursos servem como “atalhos”. Claro que uma pessoa autodidata consegue resultados, vai é demorar muito tempo, e provavelmente vai cometer todos os erros básicos. Uma pessoa que se inscreva num bom curso de videojogos, encontra professores que lhe ensinam a não cometer esses erros, e até técnicas avançadas que o autodidata demoraria muito tempo a descobrir. Costumo dar este exemplo: primeira situação; imagina que estás numa ilha deserta…
Isaque Sanches: Hum…
Ivan Barroso: …E sabes que há um barco para saires de lá, mas está do outro lado da ilha. Sozinho, vais demorar muito tempo a chegar ao barco, e vais e fazer muitas cicatrizes parvas. Mas imagina que tens uma série de pessoas que já conhecem o território, e que te mostram os atalhos necessários para chegares ao barco. É mais ou menos isso o que os cursos devem fazer.
Encerramos com a próxima pergunta. Até à próxima melhor entrevista de sempre.
Isaque Sanches: O que é que achas de filmes como o recente Pixels (2005)?
Ivan Barroso: Acho que qualidade desses filmes ainda deixa muito a desejar.
Só mais uma, porque gosto de vocês.
Isaque Sanches: Achas possível que os filmes de videojogos se venham a tornar bons um dia?
Ivan Barroso: O cinema ainda demorou uns anos valentes até conseguir bons filmes de banda desenhada. Provavelmente os videojogos vão passar pelo mesmo. O caminho vai ser longo.
Até à próxima (Nova) Melhor Entrevista de Sempre.