“Edo, 1855

Há um ano, Perry chegou nos seus barcos negros, e as coisas mudaram.

Homens e mulheres com roupas invulgares enchem as nossas ruas, e o nosso povo está a adoptar alguns dos seus hábitos. Embaixadores e comerciantes enchem as nossas lojas e restaurantes, e casas de prazer, assim como perseguem as nossas mulheres. São bárbaros, não respeitam os costumes e cultura e tentam mudar-nos.

O pior é que estamos mesmo a mudar, há quem lute contra isso, mas eu vejo uma guerra civil a formar-se. Oiço boatos dos que chamam Ishin Shishi, os imperialistas, que lutam contra o poder do Shogunato Tokugawa.

Esta é a minha última página, é o meu dever alistar-me nos Shinsegumi, lutar pelo que acredito, encontrar uma morte honrosa, a morte de um guerreiro.

As cerejeiras estão a florir… vou sentir falta delas.

Hajime Yamaguchi”

Decidi iniciar esta crítica de uma maneira mais pessoal apesar de fictícia, eu tenho um fascínio pelo Japão, o seu povo e a sua história, sempre tive e não posso explicar porquê. A parte que mais me interessa no Japão é a era em volta do que se chama Bakumatsu. Uma altura de revolta, alterações cívicas e culturais, em que acabou o controlo do clã Tokugawa e começou a época Meiji. É também a época em que se passa ou é referida a minha série manga/anime favorita Rurouni Kenshin. Quando me calhou analisar este Way of the Samurai 4, deu-me assim uma coisinha cá dentro. Aquele calor de quando temos a possibilidade de regressar a casa quando estamos fora muito tempo…

WoS

Três caminhos a escolher…

Way of the Samurai 4, é o primeiro port da para PC do original de 2011 para a PS3. Como é um port aviso já: Vão precisar de um controlador. É essencial. Eu sou Nintendista e PC –Gamer, no PC os meus jogos são para usar teclado na mão esquerda e rato na mão direita. Qual é a minha surpresa quando na fase tutorial do jogo, ele me diz que para desembainhar a espada no “J”, e para fazer o ataque forte no “U”, fraco no “I”… a minha cabeça demorou a perceber que tinha que jogar com duas mãos no teclado, e atrofiou. A sério, bloqueio total. Tive que parar o jogo, pensar, ir buscar um comando e tentar outra vez. Resolvidos os problemas técnico-tácticos, já pude entrar no mundo do jogo como deve ser.

Apesar de nunca ter tocado nos originais, e pelo que soube através de investigação não são essenciais para jogar este apesar dele seguir a mesma história, entrei no jogo de mente aberta. Ali, controlamos um samurai sem nome, a quem eu chamei Sanosuke, e começamos na aldeia portuária de Amihama no ano 1855. Assim que chegamos ao porto há uma batalha entre três facções. Logo aí somos confrontados com a maior particularidade do jogo, as opções. Este é um jogo de acção, mas o ponto fulcral é o das opções que nós tomamos com o nosso samurai. Quem ajudamos, se é que ajudamos alguém? Como, porquê? Tudo opções que nos levarão a um dos possíveis finais do jogo. Como era um universo desconhecido, eu mantive-me pela neutralidade o mais possível. Fiz umas side-quests, entre as quais convencer um jovem a ser o novo ferreiro, depois de muitas voltas e lhe dar um enxerto de porrada. Dormi, comi, matei, fui a um torneio e quando o ganhei ao fim de três combates, acabei o jogo… assim de repente.

“Ah e tal samurai sem nome entrou na guarda do magistrado e seguiu uma vida de sucesso, e glória, e mer… cenas. E cenas.”

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Aqui, a defesa é literalmente o melhor ataque

Este jogo foi mesmo só surpresas e nem todas boas. Lá tive que ir investigar outra vez e descobrir que o jogo passa-se em 4 dias apenas, ou seja, dormimos 3 vezes para recuperar energia em vez de ir aos restaurantes comer, e acaba-se o jogo em 3 horas reais mais ou menos, dependendo do número do quanto vadiamos por lá.

Mas o objectivo desta repetição é simples. Começar em modo fácil, ir fazendo umas coisas e melhorando o nível da nossa espada, acabar o jogo com uma sequência de opções. E repetir, mas quando repetimos, trazemos os objectos do jogo anterior, ou seja, já não temos aquela espada de porcaria, temos a que pagamos ao ferreiro para melhorar. E podemos fazer o jogo seguindo outras opções. Na primeira vez seguimos a neutralidade? Óptimo! Desta vez vamos para o lado dos Ingleses. Acabou? Vamos para o lado dos nacionalistas, mas vamos trai-los a meio da aventura. Começar de novo, mas em modo normal, porque a nossa lâmina está bem temperada, e vamos voltar para o lado dos ingleses e trai-los a eles desta vez, ou vamos para os magistrados? E por aí em diante. Utilizando as combinações todas eu diria que este jogo tem cerca de 50 horas na melhor das hipóteses.

A repetição constante dos dias permite duas coisas importantes para o jogo, essenciais para a minha parte favorita dele, espadas e lutas. Como os materiais são transportados a cada volta, as nossas armas vão ficando mais fortes (se o ferreiro trabalhar nela, se não trabalhar estamos bem lixados, portanto nem devia ter considerado o “se”) e vamos acumulando estilos de luta que podemos variar desde singular a duas espadas ou lanças, uns mais rápidos, outros mais fortes, e também podemos comprar visuais novos para o nosso Samurai, mas isso é secundário para mim. As lutas em si têm um sistema que me agrada. São lutas entre samurais, portanto não são button bashers, defesa, movimentação, ritmo, são fundamentais. E uma boa espada. Que se não for cuidada, parte a meio de uma luta. (Acreditem que não é agradável de maneira nenhuma quando acontece.) É preciso estudar o estilo do adversário, ver como se movimenta, como defende, apanhar as falhas e entrar a matar. Podemos simplesmente estar sempre a atacar mas isso tem dois problemas, se ele tiver uma boa defesa danifica a nossa espada e vamos estar a abrir a guarda para sofrer ataques, muitas vezes podemos não conseguir recuperar.

E é isto, não há muito mais para dizer sobre este jogo, talvez não seja para todos, e podia estar melhor aproveitado a meu ver, mas dá para umas horas de diversão.

Rurouni-Kenshin-8

A mais épica das lutas de samurais!

O melhor: O sistema de combate, a eventual personalização do protagonista e armas, a época histórica (para fãs).

O pior: a repetição constante, e o sistema limitado a quatro dias.

Way of the Samurai 4 foi uma pequena desilusão para mim. Não é um mau jogo, pelo contrário, tem várias particularidades que acho interessantes e que fazem o jogo render, contudo a repetição constante de situações era dispensável. Acho que o jogo tinha muito mais potencial no meu imaginário do que realmente me mostrou. Acabou por me fazer sentir no meu próprio Groundhog Day, e tal como o protagonista ao fim de uns tempos fazer sempre a mesma coisa torna-se cansativo e irritante. Devia chamar-se Tanooki Nichi.